Sejamos justos. Desta vez a culpa não foi (só) de Jair Bolsonaro. O presidente estimulou tão somente um daqueles ufanismos apreciados por autoritários aqui e alhures.
Se a tal semana da pátria se resumisse ao verde e amarelo nas ruas, o único mal seria apenas o reforço do passageiro sequestro de símbolos nacionais pelo bolso-lavajatismo. Poderíamos, assim, nos contentar em admirar a acuidade da máxima britânico-brasileira de que o patriotismo é o último refúgio do canalha (Samuel Johnson) --sendo, no Brasil, o primeiro (Millôr Fernandes).
Mas não, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), queriam algo mais. Para calar fundo no coração bolsonarista, promoveram a sua particular semana da homofobia. Ou da ideologia da estupidez, como queiram.
O prefeito tentou censurar um gibi da Marvel que estampa um beijo gay. A não ser que consiga a proeza de provar que é pornografia um homem e uma mulher, ambos vestidos, se beijarem, Crivella cometeu um ato homofóbico. Atitude que desde junho se equipara ao racismo, ou seja, é crime inafiançável, imprescritível e pode dar até cinco anos de prisão.
Já o governador tenta enterrar o "bolsodoria" e ser uma direita qualificada, refinada, sem asneiras e arroubos ditatoriais. Ao mandar recolher apostilas que abordavam identidade de gênero e diversidade, porém, prejudica crianças, desperdiça verbas e se abraça ao que há de mais tosco e ridículo no bolsonarismo.
A tal "ideologia de gênero" nada mais é do que isso mesmo, um nada, uma coisa sem qualquer amparo científico, acadêmico, moral, humano e que nem os papagaios que a repetem sabem exatamente o que é, embora lhes empreste à homofobia um ar de suposta erudição. Se trilhar esse caminho, Doria será nada mais que um Bolsonaro de cashmere.
No conjunto, o prefeito e o governador conseguiram ofuscar Bolsonaro em plena semana da pátria. Em sendo esse o intento, podem se cobrir de louros. Não foi pouca coisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário