quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Antonio Delfim Netto Autonomia militar FSP

Qualquer atlas mundial revela um arquipélago com ilhas (nações) claramente separadas, mas com separações internas não visíveis. Entre elas, em geral, tudo é permeável, exceto a população! A experiência lhes ensinou que a autossuficiência produtiva é ineficiente. 
Há cerca de 200 anos, o grande economista David Ricardo“demonstrou” (trata-se de uma relação matemática entre duas desigualdades) que a eventual liberdade de comércio produziria, no longo prazo (quando todo processo produtivo interno tiver se ajustado), um aumento do bem-estar geral. 
O problema é o que fazer com os perdedores desajustados no curto prazo, mas isso é outra história...
As ilhas (as nações) são independentes e querem continuar assim. Têm interesses antagônicos. Cultivam desconfianças históricas e precisam defender o seu território. Sabem que os organismos multilaterais (ONU, OMC) tendem a ser palcos de reuniões literomusicais, sem efetividade para isso. 
Logo, impõem-se sérios cuidados às nações que querem manter a sua independência num mundo onde a insegurança e a desconfiança se acumulam. Desde tempos imemoriais, elas aprenderam que, para gozar da relativa liberdade de determinar o seu futuro, precisam de três autonomias: 
1. energética, para manter funcionando sua máquina produtiva; 2. alimentar, para sustentar a sua população nas condições mais adversas; 3. militar, com capacidade dissuasiva para defender seu território e recursos de eventual cobiça externa.
Os conflitos externos estão longe de nós há 150 anos. Suspeito que hoje estejam mais perto. A solução “civilizada” para o problema da Venezuela está nas mãos de suas Forças Armadas. 
Desde 2005, a megalomania de Chávez envolveu-a numa fabulosa e sofisticada “corrida armamentista” com assistência e treinamento russo, além de armar milicianos. Tudo alegremente financiado por Putin. Estrategista frio e determinado, seu objetivo é a reconstrução do império russo na Europa, no que tem sido bem-sucedido. 
Venezuela é, provavelmente, apenas um “peão” nesse xadrez, mas o resultado do jogo foi a destruição do equilíbrio militar na América Latina, o que deve nos preocupar. 
O psicopata Trump, por sua vez, pôs Xi Jinping (que deseja ampliar sua influência na Ásia) no colo de Putin. Não creio que este tenha, de fato, a intenção de estabelecer uma base naval no Caribe. Mas a Venezuela colocou nas suas mãos (com o apoio de Xi) o movimento de uma peça que pode sair muito caro à política externa dos EUA.
O “Lago Azul” proposto pelo senador Marco Rubio pode terminar num vazamento igual ao de Brumadinho...

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