O atentado contra o candidato presidencial Jair Bolsonaro merece veemente repúdio —e sem nenhum tipo de ponderação adversativa ou reserva mental.
Há um paradoxo na democracia: ela funciona, ainda que tenhamos dificuldade em apontar com precisão o porquê. Sua efetividade aparece numa série de medidas empíricas, que englobam várias dimensões.
Com a exceção de alguns Estados petrolíferos, países democráticos tendem a ser mais ricos do que aqueles governados por autocratas ou relegados à anomia. Também encontramos correlações positivas entre o nível de democracia de uma sociedade e sua performance em saúde, educação e respeito aos direitos humanos. Nunca na história moderna duas democracias entraram em guerra uma contra a outra.
O espantoso é que, apesar de definirmos a democracia como o regime no qual os cidadãos escolhem periodicamente seus dirigentes, também acumulamos fartas evidências de que o voto é o ponto fraco do sistema. Eleitores costumam ser incoerentes, desinformados e impulsivos na hora de votar. Pior, não têm nem estrutura cognitiva nem disposição para fazer escolhas racionais.
A literatura tenta conciliar esses dois corpos de achados especulando que o sucesso das democracias se deve menos à forma de selecionar governantes e mais a outros elementos que vêm embutidos no pacote democrático, como a segurança jurídica, a consolidação de um núcleo forte de liberdades individuais e, principalmente, a realização de eleições livres e periódicas, porque elas canalizam os conflitos políticos presentes em qualquer sociedade para uma forma pacífica de disputa.
A violência política contra qualquer candidato põe assim em risco todo o sistema e deve ser rejeitada. É positivo que as condenações tenham vindo de todos os lados do espectro ideológico e tenham se dado em termos menos ambíguos do que os registrados quando a caravana de Lula foi atacada no início do ano.
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