Dificilmente esta eleição favorecerá os políticos que pretendam insistir em encarnar teses de consenso ou “pacificação”, bem como os que nela se autovitimam. Esta eleição sorri para o dissenso, para os que sinalizam com a crítica, os cansados do status quo, os politicamente emergentes, os políticos com pele curtida e aperto de mão firme. Dois vetores forçam para esse caminho.
Primeiro, a polarização e a virulência do processo político brasileiro não são só uma questão de lideranças com teses radicalizadas. Há corresponsáveis, e não se circunscreve, portanto, apenas aos mais assertivos, mas aponta àqueles que hoje buscam se eximir de ações no passado, quando efetivamente hegemonizavam o quadro partidário nacional. Como se politica não tivesse memória e não resultasse de processos e decisões anteriores que sucessivamente deixam atores atados a determinados caminhos, fechando de vez outros.
Primeiro, a polarização e a virulência do processo político brasileiro não são só uma questão de lideranças com teses radicalizadas. Há corresponsáveis, e não se circunscreve, portanto, apenas aos mais assertivos, mas aponta àqueles que hoje buscam se eximir de ações no passado, quando efetivamente hegemonizavam o quadro partidário nacional. Como se politica não tivesse memória e não resultasse de processos e decisões anteriores que sucessivamente deixam atores atados a determinados caminhos, fechando de vez outros.
Segundo, o quadro de resultantes de políticas públicas que se constituiu altera equações e tem autorias. Há hoje milhões de desempregados, a segurança pública e o sistema prisional explodem, temos um Estado ineficiente e distorcido, reformas econômicas são adiadas, corrupção e pressão politica corroem a confiança nas instituições. Tudo isso no caudal de anos de acirrada luta partidária.
Em 2014, tínhamos dois campos bem definidos na disputa eleitoral em torno dos quais gravitavam núcleos políticos subsidiários. Aberta a caixa de Pandora da Lava Jato e do impeachment, o processo de ruptura nas polaridades se intensificou. A partir daí, amplia-se a fragmentação internamente aos campos da esquerda e da direita.
A hegemonia binária de 2014 é desafiada nos dois polos. Agremiações e candidaturas insurgentes, que atreladas às redes sociais ganham espaço crescente, apontam para cenários diversos, não previsíveis, aumentando a insegurança do mercado. O cenário torna-se complexo em 2018.
No entanto, a partir de um atentado político, inaceitável e condenável, mas ainda assim um fato pivotal, imagina-se uma possibilidade.
O discurso de pacificação concorre com outro, de vitimização. No fundo, ambos são uma tentativa de encobrimento de digitais nos vetores acima. Mistura-se o ataque a candidatos, com maior radicalidade de propostas, em especial na direita, mas visando segmentos assertivos da esquerda também. Um sofisma, pois a radicalidade de propostas não leva necessariamente a um atentado, nem assertividade necessariamente a descontrole.
De contrabando à tese da pacificação e vitimização, vem a tentativa de descompromisso dos grandes atores partidários com o acirramento do processo iniciado em 2014.
Dessa forma, limpas as impressões digitais, a política deveria voltar aos seus eixos binários, mais seguros e previsíveis. Enfim, uma visão idealizada e utópica a se seguir. Equivocam-se.
A história, como disse Marx, “se repete a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Entramos na segunda fase. Ignorar os fatos é o maior dos erros em estratégia.
Medido nesta segunda-feira (10) o engajamento no Twitter aos discursos dos candidatos (do dia 6 ao dia 10), temos: Bolsonaro, +107%; Ciro, +18%; Haddad,+15%; Marina, +5%; e Alckmin, -8%.
Tendência passível de mudança, ainda que difícil. As redes reconstroem narrativas para além do marketing tradicional, numa eleição eivada de imponderáveis em tempo real.
O brasileiro hoje está mais sensível para as distopias. A maior farsa é ignorar os fatos.
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