sábado, 25 de abril de 2015

Encruzilhada demográfica


O ESTADO DE S.PAULO
24 Abril 2015 | 02h 07

Um estudo do IBGE mostra que o Brasil está a menos de dez anos de atingir o pico do chamado bônus demográfico - que se verifica quando as pessoas em idade ativa são mais numerosas do que as dos grupos etários que apresentam mais dependência, isto é, as crianças abaixo de 14 anos e os idosos acima de 65. Quanto maior a fatia dos ativos, maiores são as chances de impulsionar o desenvolvimento econômico, uma vez que essas pessoas produzem mais do que consomem, aumentando os recursos disponíveis por indivíduo.
Conforme mostra a publicação Mudança Demográfica no Brasil no Início do Século XXI, o problema é que, para aproveitar o bônus demográfico, seria necessário investir em qualidade educacional, algo capaz de retirar desses indivíduos em idade ativa o máximo possível de sua capacidade produtiva. Tal investimento nunca foi feito, senão de maneira esparsa, voluntarista e mal planejada. Com isso, os brasileiros produtivos, embora ainda majoritários, não conseguem gerar riqueza em escala suficiente para que se acumulem reservas que possam propiciar conforto ao conjunto da população quando esta apresentar um perfil mais envelhecido.
Como o País deve atingir o pico do bônus demográfico entre 2022 e 2023, o tempo é aparentemente curto demais para que os efeitos dos atuais investimentos em educação se façam sentir, mesmo na hipótese virtuosa de que estes tenham sido bem planejados e executados.
A emergência apontada pelo estudo do IBGE está no fato de que, a partir de 2045, a mortalidade no País será mais alta que a taxa bruta de natalidade e a taxa de crescimento demográfico. Ou seja, haverá cada vez menos pessoas em idade ativa - uma mudança demográfica com dramáticas implicações para o Brasil.
A queda do número de jovens está relacionada à acelerada redução da fecundidade, que era de 2,4 filhos por mulher em 2000 e chegou a 1,9 filho por mulher em 2010. A previsão é que essa taxa chegue a 1,5 filho por mulher em 2030, fazendo com que a proporção de pessoas com menos de 15 anos de idade caia a 17,6% em 2030, contra 30% no ano 2000.
Já a participação da população jovem de 15 a 29 anos de idade cairá de 26,7% em 2010 para 21% em 2030. A redução dessa fatia não se dá de maneira igual em todas as regiões. O estudo destaca o caso de Santa Catarina, que historicamente apresenta baixa fecundidade, mas que figura entre os Estados com maior crescimento de sua população jovem, em razão do fluxo migratório, mais acentuado nessa faixa etária.
O contrário se verifica em Estados do Norte e do Nordeste, onde, mesmo com taxas de fecundidade que estão entre as mais altas do País, a população jovem está decrescendo - fenômeno que, embora reduza os custos com educação, tende a prolongar o empobrecimento dessas regiões. Nenhuma política para melhorar as condições de vida, de escolaridade e de trabalho dos jovens pode ignorar essas diferenças regionais.
A faixa da população com mais de 60 anos, por sua vez, é a que apresentará a maior taxa de crescimento, com mais de 4% ao ano no período entre 2012 e 2022. Em números absolutos, a expansão é impressionante: eram 14,2 milhões de pessoas em 2000, passaram a 19,6 milhões em 2010 e devem chegar a 41,5 milhões em 2030 e a 73,5 milhões em 2060.
Tal quadro reforça a perspectiva real de que os sistemas previdenciário e de saúde venham a ser pressionados até o limite do colapso nos próximos anos. "É necessário entender as mudanças pelas quais tem passado a população, abrindo o debate para questões como a estrutura do financiamento das políticas públicas e a equalização de receitas e despesas da seguridade social", diz o texto do IBGE.
Em outras palavras, é preciso, o mais rápido possível, aperfeiçoar o atual modelo, em que a Previdência é financiada pelos trabalhadores na ativa. Uma solução óbvia e urgente, citada pelo próprio IBGE, é aumentar o limite de idade para aposentadorias. Os números apresentados pelo IBGE mostram que essa providência não é um mero capricho - tornou-se, sim, uma corrida contra o relógio.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

"UMA FLORESTA ATLÂNTICA NA CHÁCARA DO JOCKEY"

Resultado de acordo em torno de dívidas de IPTU, a Prefeitura Municipal de São Paulo entrou em posse da conhecida Chácara do Jockey, área de grande extensão, 150 mil metros quadrados, incrustada em área urbana consolidada, bairro de Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, estendendo-se da av. Francisco Morato à av. Eliseu Resende.
Várias são as idéias já lançadas para o aproveitamento público dessa grande gleba, todas certamente meritórias, mas, considerando a premente necessidade da capital paulista implantar dispositivos que permitam à cidade reter grande parte de suas águas de chuva e melhorar sua tão deteriorada qualidade ambiental urbana, a oportunidade de implantar nessa área um grande bosque florestado se impõe como objetivo destacadamente prioritário.
É sabido que a principal causa de nossas enchentes está na impermeabilização geral do espaço urbano, com o que praticamente todas as águas de chuva são lançadas rápida e diretamente sobre um sistema de drenagens que não lhes consegue dar a devida vazão.
Uma área florestada é capaz de reter perto de 100% das águas de chuva que recebe, enquanto uma área urbanizada, ao contrário, lança mais de 85% desse volume sobre o sistema de drenagem urbana.
Considerando a área em questão plenamente florestada e uma pesada chuva de 40 milímetros, estaríamos propiciando a retenção de algo em torno de 6 mil metros cúbicos, ou seja, deixando de sobrecarregar o sistema de drenagem com algo próximo a esse volume. Além de ter propiciado a infiltração de boa parte dessas águas.
Claro, um ou outro bosque florestado não irá resolver o problema das enchentes, mas a disseminação desse e de outros dispositivos urbanos de retenção de águas de chuva, como calçadas, valetas e pisos drenantes, reservatórios domésticos e empresariais, poços de infiltração, etc., o que envolve a adoção de uma outra cultura hidrológica pela cidade, começaria a fazer a diferença.
Além desse aspecto mais hidráulico, os bosques florestados atendem as funções urbanas de regulação climática, redução da poluição atmosférica, recarga de aquíferos, proteção de solos contra a erosão, proteção de margens e mananciais, abrigo e alimentação da fauna urbana, lazer, embelezamento da paisagem urbana, educação e aproximação física e espiritual dos cidadãos com a Natureza.
Esperamos que o prefeito Fernando Haddad se sensibilize por essa proposta e, ao decidir-se pela floresta atlântica da Chácara do Jockey, presenteie a população paulista com uma espetacular nova área florestada e sinalize para todo o país a adoção de uma nova cultura ambiental e hidrológica para os espaços urbanos.
ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS é geólogo formado pela USP; ex-diretor de planejamento e gestão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT. É autor dos livros "Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática" e "A Grande Barreira da Serra do Mar"
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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Ganhador de um Pulitzer deixou o jornalismo para poder pagar aluguel


Rob Kuznia ganhou prêmio por investigação de corrupção em escola.
Há 6 meses, ele não trabalha mais no jornal por causa do salário.

Da France Presse
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Editor do Daily Breeze joga champanhe em Rob Kuznia, que deixou o jornal (Foto: Scott Varley/The Daily Breeze via AP)Editor do Daily Breeze, Michael Anastasi, joga champanhe no repórter Rob Kuznia, que deixou o jornal (Foto: Scott Varley/The Daily Breeze via AP)
Um dos jornalistas do Daily Breeze, um pequeno jornal que surpreendeu ao ser contemplado com o prestigioso prêmio Pulitzer, já não trabalha mais na profissão porque seu salário não dava para pagar o aluguel.
O Daily Breeze, um jornal de Torrance, Califórnia, tem cerca de 63 mil assinantes e 7 repórteres e foi premiado na segunda-feira (20) por uma investigação sobre a corrupção em uma escola do distrito, a Centinela Valley Union High School.
Mas há 6 meses Rob Kuznia, um dos três jornalistas premiados por esta investigação, deixou de trabalhar como repórter pelo fato de seu salário não ser suficiente para pagar o aluguel.
Segundo o site LA Observed, que divulgou este fato na segunda-feira, Kuznia deixou a publicação e passou a trabalhar como assessor de imprensa na fundação USC Shoah.
"Falamos com ele nesta tarde e ele reconheceu, com pesar, que lamentava não ser mais jornalista, mas explicou que era muito difícil chegar no final do mês com seu salário no jornal e alugando um apartamento na região de Los Angeles", escreveu o LA Observed.
O ex-repórter de 39 anos também explicou ao jornal The New York Times - que também foi premiado na segunda-feira com três Pulitzer - que antes de deixar seu posto, havia recebido um aumento. "Não que eles não ligassem. Mas simplesmente não era suficiente".
Consultado pelo jornal, assegurou que não voltaria a exercer a profissão de jornalista. O site LA Observed afirmou que o Daily Breeze havia ganhado na semana passada outro prêmio na categoria de jornalismo investigativo, o National Headliner Award for Investigative Journalism.
Da direita para esquerda, Rob Kuznia, Frank Suraci e Rebecca Kimitch, do Daily Breeze (Foto: Robert Casillas/The Daily Breeze via AP)Da direita para esquerda, Rob Kuznia, Frank Suraci e Rebecca Kimitch, do Daily Breeze (Foto: Robert Casillas/The Daily Breeze via AP)