terça-feira, 5 de agosto de 2025

Painel cobrirá topo de um dos prédios mais altos do centro histórico de São Paulo, FSP

 Clayton Castelani

São Paulo

O edifício conhecido por abrigar escritórios do Banco do Brasil, no centro histórico de São Paulo, receberá três grandes painéis que encobrirão até um quarto da sua área.

Feitas com telas perfuradas a serem instaladas nos andares mais altos do imóvel, as placas serão timbradas com a logomarca da Tivio Capital, empresa do ramo financeiro que será a responsável por arrecadar recursos para restauração das fachadas do prédio.

A intervenção foi autorizada nesta segunda-feira (4) pela CPPU (Comissão de Proteção à Paisagem Urbana), órgão lidado à Prefeitura de São Paulo e que possui integrantes da sociedade civil. Sua atribuição mais conhecida é a correta aplicação da Lei Cidade Limpa.

A imagem mostra uma vista panorâmica da cidade de São Paulo, com vários edifícios altos e modernos. O céu está nublado, criando uma atmosfera dramática. No centro, destaca-se um edifício icônico com uma bandeira no topo. A cidade é densamente povoada, com uma grande quantidade de prédios e estruturas urbanas visíveis ao fundo.
O edifício São João (à esq.) se destaca na paisagem centro histórico de São Paulo ao lado de outros prédios históricos, como o Martinelli (à dir.) e o Altino Arantes, ao fundo. - Eduardo Knapp - 13.jan.2025/Folhapress

Desde 2006 a capital paulista possui uma regra que proíbe praticamente todo tipo de publicidade em áreas externas. São exceções os pontos de ônibus e relógios de rua.

Decreto municipal de 2017 permite, porém, outra exceção: é possível dar publicidade para projetos em que os recursos são destinados à recuperação de imóveis.

Liberações de publicidade em pontos específicos da cidade estão em discussão na Câmara Municipal. Vereadores aprovaram a proposta em primeiro turno e uma segunda e definitiva votação poderá ocorrer após ajustes no texto, segundo o autor do projeto, vereador Rubinho Nunes (União).

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Regina Monteiro, arquiteta autora da lei e a presidente da CPPU, disse em entrevista à Folha que a liberação de publicidade na cidade é desnecessária porque exceções já previstas na regra, como a que será aplicada ao prédio do Banco do Brasil, já cumprem a função de captar recursos para a recuperação de fachadas e outras melhorias urbanas.

Entre os mais altos da região central, o prédio oficialmente chamado edifício São João tem mais de 140 m e integra o patrimônio histórico do município.

Ele se destaca na paisagem ao lado de outros gigantes tombados, como o Altino Arantes (Farol Santander), com cerca de 160 m, e o Martinelli, costrução de mais de 100 m que é considerada o primeiro arranha-céu da cidade.

O orçamento estimado da intervenção no edifício São João é de R$ 7,49 milhões, com prazo de execução de 18 meses.

As placas publicitárias serão instaladas em três fachadas do edifício. O material utilizado será uma tela perfurada, que mantém a visibilidade de dentro para fora.

No lado do prédio da rua Líbero Badaró, o painel terá 588,95 m² (18,98 m por 31,03 m), enquanto na lateral voltada à avenida São João o anúncio será de 1.410,62 m² ( 45,46 m por 31,03 m). Já na saída para a rua São Bento a área coberta será de 689,49 m² (22,22 m x 31,03 m).

A imagem apresenta três fachadas de edifícios, cada uma com suas respectivas dimensões e áreas. A fachada à esquerda é identificada como 'Libero Badaro', com medidas de 18,00m x 3,00m e área de 54,00m². A fachada do meio é chamada 'São João', com dimensões de 14,52m x 4,52m e área de 1424,00m². A fachada à direita é rotulada como 'São Bento', com medidas de 14,00m x 4,00m e área de 25,92m². A parte inferior da imagem mostra uma representação de palmeiras.
Projeto prévio, protocolado pela empresa Tivio no processo eletrônico da prefeitura, mostra dois painéis dos três painéis previstos para o edifício São João - Divulgação

Ainda haverá espaço nas telas para os logotipos do Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, além de informações sobre o termo de cooperação e o cronograma da obra.

A regra da Lei Cidade Limpa permite que até 25% da fachada de edifícios sejam encobertos com painéis para fins de arrecadação de recursos para reformas.

Atualmente, a região central de São Paulo possui mais de 1.100 imóveis com potencial para serem beneficiados por esse mecanismo, segundo a Secretaria de Urbanismo da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Bruno Gualano - Quando só se pensa naquilo, FSP

 Caro leitor, você é daqueles que pensa em comida o tempo todo, mesmo sem estar com fome? Acha emocionalmente cansativo equilibrar sua vontade de comer com o que considera saudável? Durante as refeições, se pergunta se já comeu o suficiente? Odeia o fato de que a comida está sempre presente nos seus pensamentos? E, quando tenta se livrar deles, sente que eles continuam "sussurrando" lá no fundo da sua cabeça?

Respostas afirmativas apontam para o chamado ruído alimentar (food noise): pensamentos persistentes relacionados à comida —o que comer, quando, quanto e se aquilo é ou não saudável.

A imagem apresenta uma variedade de ingredientes frescos dispostos sobre uma superfície de madeira. No centro, há dois peixes inteiros, cercados por ervas, como salsinha e espinafre. Também estão presentes tomates de diferentes cores, pimentões verdes e vermelhos, limões, alho, azeite, sal, lentilhas, arroz e berinjela. A composição é colorida e vibrante, refletindo uma seleção saudável de alimentos.
Variedades de comidas saudáveis para uma dieta equilibrada - Sonyakamoz/Adobe Stock

Embora pensar sobre comida seja natural, o ruído alimentar se caracteriza por sua intensidade e pelo impacto negativo na saúde mental e na qualidade de vida, sobretudo em pessoas com excesso de peso ou que seguem dietas restritivas. Essa condição se assemelha à ruminação patológica e pode ocorrer mesmo sem fome, sem comida à vista ou estímulos externos. Identificá-la, portanto, requer diferenciar o pensamento funcional daquele que se torna invasivo, disfuncional e gerador de sofrimento.

Vejamos um caso típico, apresentado num artigo recente. Uma paciente descreve assim sua relação com a alimentação: "Sinto que isso está sempre na minha cabeça. Não de forma obsessiva, tipo: hum, quero comida, mas no sentido de: será que estou fazendo a coisa certa? Estou comendo o suficiente, ou de menos? Aquela foi a quantidade certa de calorias? Será que deveria ter mais proteína?... É esse ruído constante. Está sempre lá. Diria que 80% do tempo estou pensando nisso."

Esses pensamentos intrusivos são tidos como difíceis de controlar ou silenciar. E, frequentemente, surgem em contextos de vigilância alimentar excessiva.

De fato, o emagrecimento intenso pode influenciar a intensidade do ruído alimentar. Após a perda de peso, o corpo responde com adaptações neurais, metabólicas e hormonais que aumentam a fome e reduzem a saciedade. É nesse cenário que os pensamentos persistentes sobre comida ganham força.

Isso foi descrito no clássico Experimento de Fome de Minnesota, na década de 1940. Homens saudáveis submetidos a uma dieta bastante restritiva (~1.560 kcal/dia) passaram a apresentar comportamentos obsessivos com comida —como colecionar receitas e sonhar com carreiras culinárias—, além de ansiedade, apatia, irritação e isolamento social.

A ampliação do ruído alimentar após a perda de peso pode contribuir para a falha terapêutica. Compreender esse fenômeno como uma adaptação psicobiológica ajuda a planejar estratégias mais realistas para o manejo da obesidade e evita diagnósticos estigmatizantes —como falta de força de vontade ou indisciplina.

Faltam definições consolidadas sobre o que é ruído alimentar, instrumentos validados de mensuração e dados sobre sua prevalência e impacto clínico. Suas bases biológicas, relação com flutuações de peso e efeitos sobre a adesão terapêutica também são pouco conhecidos. Os medicamentos agonistas de GLP-1 —nova febre no tratamento da obesidade— mostram-se promissores no alívio dessa condição, mas as evidências ainda são insuficientes.

Apesar das incertezas, especialistas parecem concordar que a narrativa de corpos e dietas ideais funciona como uma câmera de eco para o ruído alimentar. É preciso silenciá-la para restabelecer uma relação mais amistosa com a alimentação.


Tarifaço de Trump tem impacto relevante sobre setores, e Copom deve ter cautela com juros, mostra ata, FSP

 

Brasília

A sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros tem impacto relevante sobre setores, e o Copom (Comitê de Política Monetária) deve ter cautela na condução da política de juros, mostra ata divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira (5).

No documento, o colegiado do BC reforçou que o cenário externo está "mais adverso e incerto" em função da política comercial do governo de Donald Trump.

"A elevação por parte dos Estados Unidos das tarifas comerciais para o Brasil tem impactos setoriais relevantes e impactos agregados ainda incertos a depender de como se encaminharão os próximos passos da negociação e a percepção de risco inerente ao processo", afirmou.

Reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central sob a presidência de Gabriel Galípolo
Atual composição do Copom (Comitê de Política Monetária). De frente para trás, à esq., diretora Izabela Correa (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta); Gabriel Galípolo, presidente do BC; diretores Gilneu Vivan (Regulação) e Rodrigo Alves Teixeira (Administração). À dir., diretores Nilton David (Política Monetária), Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais), Renato Gomes (Organização do Sistema Financeiro e de Resolução), Ailton Aquino (Fiscalização) e Diogo Guillen (Política Econômica) - Raphael Ribeiro - 29.jan.25/Banco Central

O Copom disse acompanhar com atenção os potenciais impactos sobre a economia real e sobre o comportamento dos ativos financeiros e afirmou que terá como foco os reflexos do cenário externo sobre a inflação doméstica à frente.

"A avaliação predominante no comitê é de que há maior incerteza no cenário externo e, consequentemente, o Copom deve preservar uma postura de cautela", disse.

Na última quarta (30), o Copom decidiu manter inalterada a taxa básica de juros em 15% ao ano –maior patamar em 19 anos–, interrompendo o ciclo de alta da Selic.

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A decisão do Copom veio no mesmo dia em que Trump assinou a ordem executiva confirmando a aplicação de sobretaxa de 50% a produtos brasileiros, com uma lista de quase 700 exceções, como derivados de petróleo, componentes de aviação civil e suco de laranja. Produtos como carne, café e pescados, entretanto, não escaparam da taxação.

O colegiado do BC reforçou a estratégia de manter a Selic em nível elevado por um tempo mais longo para assegurar a convergência da inflação à meta. Para o comitê, é necessária uma política de juros em nível "significativamente contracionista" –ou seja, que contribua para a moderação do crescimento da economia– por período "bastante prolongado".

Assim como no comunicado, o Copom sinalizou que pretende manter os juros estacionados em 15% ao ano no próximo encontro, nos dias 16 e 17 de setembro.

Na indicação dos próximos passos, falou em "continuação na interrupção no ciclo de alta de juros". Na leitura dos economistas, o colegiado do BC tenta comunicar o fim do ciclo de elevação da Selic sem levar o mercado financeiro a projetar de forma prematura o início de cortes da Selic.

O comitê repetiu que se manterá vigilante e poderá ajustar os passos futuros da política monetária, dizendo que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste se considerar necessário.

Quanto ao cenário doméstico, ressaltou que a conjuntura de atividade econômica tem indicado "certa moderação no crescimento". Essa desaceleração, segundo o Copom, se reflete de forma mais nítida no cenário de crédito, com recuo nas concessões de crédito livre e elevação tanto nas taxas de juros cobradas como na inadimplência.

"No crédito às pessoas físicas, há um aumento do comprometimento da renda familiar com o serviço das dívidas e um aprofundamento do fluxo de crédito negativo, ou seja, maior pagamento do que contratação de dívida por parte das pessoas físicas", disse, destacando que o consignado privado tem tido menor impacto do que era esperado por muitos participantes do mercado.

O mercado de trabalho, por outro lado, segue mostrando dinamismo, dando suporte ao consumo e à renda da população brasileira —o que dificulta o trabalho do BC no combate à inflação. O colegiado citou a elevação de salários, com ganhos reais acima da produtividade, e a redução da taxa de desemprego para níveis historicamente baixos.

Na ata, o Copom voltou a defender a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas e reforçou a visão de que um menor esforço em reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm potencial de afetar a potência da política de juros e tornar o processo de desinflação mais custoso.

Esses e outros fatores, como o comportamento das expectativas de inflação para prazos mais longos, mantêm o cenário para a trajetória da inflação desafiador, na avaliação dos membros do comitê.

O objetivo central perseguido pelo BC é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. A meta de inflação é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Devido aos efeitos defasados da política de juros sobre a economia, o Copom tem hoje a inflação do primeiro trimestre de 2027 na mira. Nesse horizonte, a estimativa do próprio comitê é de 3,4% (acima do centro do alvo).

"Em um ambiente de expectativas desancoradas [longe da meta], como é o caso do atual, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriada", afirmou.