quarta-feira, 12 de junho de 2024

RODRIGO TAVARES Os jovens votam na extrema direita. E agora?, FSP (definitivo)

 Nos últimos meses, cerca de 20 jornais e revistas de relevância, como o Washington Post, The Guardian, Foreign Policy ou Politico, publicaram matérias sobre um novo fenômeno global: os jovens estão votando em políticos e partidos de extrema direita. Na Europa, o estereótipo do eleitor da direita radical –tipicamente branco, do sexo masculino, patriota, saudosista, com baixos níveis de literacia e aposentado –está mudando.

Partidos de extrema direita são as primeiras, segundas ou terceiras forças políticas mais votadas em países como Itália, Espanha, Países Baixos, França, Portugal, Itália, Finlândia. E também na Suécia, Áustria, Eslováquia, Hungria, Croácia e República Checa. Análises dos resultados indicam que este sucesso não seria possível sem o voto jovem.

homem jovem branco está segurando uma tocha e cercado por outros manifestantes que também estão segurando tochas
Movimento 1143, de ultradireita, faz manifestação contra imigração na praça de Camões, em Lisboa, Portugal - Patrícia de Melo Moreira - 3.fev.2024/AFP

Aconteceu novamente esta semana nas eleições para o parlamento europeu. O sucesso eleitoral dos partidos extremistas na Alemanha (AfD) e França (Reagrupamento Nacional) deveu-se ao apoio do eleitorado jovem.

O fenômeno multinacional também teve uma filial no Brasil. Um ano antes da eleição de Bolsonaro, o Datafolha já alertava que 60% dos eleitores que indicam voto no capitão da reserva tinham entre 16 e 34 anos. Desses, 30% tinham menos de 24 anos.

Mas por que é que a geração mais qualificada de sempre, com acesso vertiginoso a toda a informação, pode flertar com políticos que nos transportam para uma escuridão densa e impenetrável, quase palpável, assente numa visão autoritária e rudimentar de mundo?

Porque os jovens estão zangados. É o que indicam estudos acadêmicos (aquiaqui e aqui). Subiu o custo de vida na mesma proporção que diminuiu a sua capacidade de comprar casa. Apesar de serem qualificados, têm empregos instáveis ou mal remunerados. Saídos de uma pandemia global, os jovens europeus enfrentam os desânimos das guerras na Ucrânia e em Gaza e as inseguranças das alterações climáticas. Para eles, o futuro precário não tem forma, odor nem som. Votam na extrema direita por protesto, não porque são extremistas. Sentem que os partidos tradicionais não os escutam. Foram os jovens que apoiaram a eclosão de partidos de combate, tanto à esquerda quanto à direita, como o Movimento 5 Estrelas na Itália ou o Podemos na Espanha.

O contexto é uma carcaça podre pronta para os abutres. Os partidos radicais de direita, de bico afiado, vão alimentando os jovens com migalhas de falsa esperança. Em França, o programa eleitoral da populista Marine Le Pen nas presidenciais de 2022 prometia eliminar os impostos para os menores de 30 anos, fornecer assistência financeira aos trabalhadores estudantes e aumentar a habitação estudantil. O ultraradical holandês Geert Wilders venceu as eleições parlamentares de 2023 falando exaustivamente sobre acesso a habitação condigna.

Políticos tradicionais discutem austeridade e contas públicas. Emoji de bocejo. Extremistas prometem segurança econômica e combate implacável à corrupção. E fazem-no usando a linguagem e os canais de transmissão que os jovens mais dominam.

O radical Vox na Espanha tem quase 3 vezes mais seguidores no Facebook do que o PSOE, o partido de esquerda no poder. O que o italiano Matteo Salvini posta é seguido por 2,3 milhões de pessoas no Instagram, enquanto a sua rival de esquerda, Elly Schlein, tem apenas 353 mil seguidores. A parlamentar Rita Matias, do partido nacionalista português Chega, começou a sua carreira profissional como coordenadora de redes sociais do partido. Os seus vídeos no TikTok desfilando em poses sensuais na casa da democracia quebraram a internet. Um terço dos jovens franceses afirmam que o TikTok é a sua principal fonte de informação política, segundo pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop).

Se para recrutar soldados para as Cruzadas medievais, a Igreja Católica utilizou sermões, promessas de salvação eterna e incentivos econômicos, os novos partidos radicais sabem que é preciso evangelizar os jovens onde eles estão. O ultrapopulista francês Reagrupamento Nacional faz campanha eleitorais e de filiação à noite em zonas de balada em Paris, Lyon e Marselha.

Os jovens também são politicamente mais suscetíveis, como revelou este estudo. Ainda não desenvolveram fortes lealdades a determinados partidos políticos, são mais reativos a notícias negativas e tendem a votar em quem é mais popular em um determinado momento. Gostam de políticos jovens e descolados, com coragem de puxar as orelhas aos políticos mais velhos e tradicionais. A nova safra de políticos radicais europeus são jovens e carismáticos, como o francês Jordan Bardella (28 anos), a portuguesa Rita Matias (25 anos), a espanhola Pepa Millán (29 anos) e o belga Dries Van Langenhove (31 anos).

Além disso, muitos jovens eleitores formaram-se politicamente em um contexto de normalização do extremismo. Em Portugal, a fundação do Chega em 2019, com a promessa de revogar leis de igualdade de gênero e introduzir a castração química como forma de punição de agressores sexuais, deixou a maioria dos portugueses atônitos. Como é que o país que deu cravos ao mundo poderia parir um partido antidemocrático? Atualmente, já há cinco forças políticas extremistas ou ultraconservadores (Chega, ADN, Alternativa 21, Ergue-te, Nova Direita). O líder do Chega, André Ventura, tem mais tempo de antena nas televisões do que o atual primeiro-ministro e conta com 50 deputados no Parlamento. Se o radicalismo deixou de ser estigmatizado, por que deveriam ser os jovens a fazê-lo?

Mas é arriscado assumir que há um novo alinhamento cultural ou ideológico entre a juventude e a extrema direita. Estatisticamente, os jovens até são mais progressistas e favoráveis à imigração, à descriminalização das drogas, ao aborto e à eutanásia do que os seus pais. O que lhes falta, como dizem os holandeses, é a bestaanszekerheid: uma vida com renda estável e previsível, moradia digna, acesso à educação e à saúde de qualidade. Tal como há 50 anos, a maior aspiração dos jovens é conseguir ser classe média.

Há quem não esteja pessimista. Afinal de contas, o interesse dos eleitores mais jovens por grupos extremistas é mais motivado pela frustração com o presente do que pela nostalgia do passado. Apertam o botão da urna com o dedo do meio. É um voto curtoprazista e não estrutural. Mas não foi sempre assim ao longo da história? No século passado, o apoio popular ao nazismo alemão, ao Estado Novo português, ao franquismo espanhol e ao fascismo italiano nasce da crença que uma nova classe reinante pode amansar os pitbulls da frustração. Nunca foi só ideologia.

Pesquisas recentes indicam que 93% da população brasileira está insatisfeita com a saúde pública (Datafolha), há mais brasileiros considerando que a economia piorou nos últimos meses do que os que enxergam melhora (Datafolha) e 90% afirma que a democracia brasileira tem problemas (Datafolha). Nas eleições municipais de 6 de outubro deste ano vamos torcer para que o bolsonarismo não saia beneficiado da relação causal probabilística.


Com Tarcísio à frente, começa a se desenhar o projeto da extrema-direita para o futuro do Brasil, Jornal da USP (definitivo)

 Por Bruno Paes Manso
Cena 1: alunos apanham da Polícia Militar durante sessão em que os deputados paulistas aprovaram o projeto de lei que permite a criação da escola cívico-militar em São Paulo. Em tempos normais, seriam imagens escandalosas, mas apenas os integrantes das bolhas progressistas parecem chocados. Muitos apoiam um projeto pedagógico militarizado, como se o aprendizado dependesse de disciplina e de obediência.

Cena 2: o governo de São Paulo sabota o bem-sucedido programa de câmeras em uniformes das PMs, que vinham reduzindo a letalidade da corporação. A decisão ocorre depois de duas operações policiais matarem 74 pessoas na Baixada Santista. A iniciativa do governo parece passar um recado claro: a violência fardada não deve ser contestada nem controlada por ser capaz de eliminar ou amedrontar os bandidos e assim produzir ordem e sujeição.

Não adianta acusar a imoralidade ou a disfuncionalidade do método, que na história recente vem contribuindo para fortalecer as facções e as milícias. Trinta e dois anos atrás, o massacre do Carandiru, o mais letal da história paulista, deixou 111 mortos. Em vez de intimidar o crime, a chacina estimulou reação e revolta. Foi a semente do Primeiro Comando da Capital (PCC), a facção criminal mais poderosa de São Paulo, criada no ano seguinte, com um discurso de união dos presos como resposta à covardia do Estado. No Rio, a letalidade da polícia, que sempre andou junto com a corrupção, originou as milícias.

Cena 3: lideranças da política, da economia e da sociedade civil passam a apontar o nome de Tarcísio de Freitas como representante da direita para disputar a eleição presidencial de 2026. Editorais de jornais tradicionais elogiam seus planos vazios de ajustes de gastos, como se uma alegada racionalidade econômica pudesse se sobrepor à barbárie das crenças políticas do governador forjadas no bolsonarismo. Nesse período, o governador publicou um decreto liberando as entidades religiosas da cobrança de ICMS sobre bens importados, desde que destinados à “finalidade essencial” das igrejas.

Armas, dinheiro, religião e poder. O projeto de futuro da extrema direita para o Brasil segue popular, mesmo sem a presença histriônica de Jair Bolsonaro. Com Tarcísio de Freitas, a lógica por trás desses planos fica mais clara, em resposta a um novo ciclo político autoritário que atinge não apenas o Brasil, mas diversos países do mundo.

Nesse cenário, o otimismo em torno do papel do Estado como condutor do desenvolvimento saiu do imaginário político. Alcançou seu auge no Pós-guerra, perdeu força nos anos 1980 e se fragilizou com a derrocada dos regimes socialistas. No Brasil, o papel do Estado na garantia dos direitos sociais e civis, em uma sociedade de mercado, seguiu como referência importante nas décadas de 1990 e 2000, tendo como inspiração as sociais-democracias europeias.

Essa crença forjou as diretrizes ideológicas dos partidos progressistas da Nova República. PT e PSDB se formaram depois da ditadura, a partir de nomes vindos dos movimentos sociais, sindicatos e universidades. Seus líderes apostavam que a retomada da democracia poderia criar mecanismos para que os pobres votassem em políticos que representassem seus interesses de classe, criando, quem sabe, uma sociedade menos desigual e mais justa. O liberalismo e a direita ficaram sem discurso, diante do tamanho do passivo social. Restava aos seus representantes se aliar ao governo da vez.

A defesa da violência policial, contudo, se fazia presente na desfaçatez e omissão dos governantes diante dos abusos das polícias. Era defendida de forma explícita apenas por políticos nanicos, como Bolsonaro, que tinham votos, mas não eram levados a sério e não disputavam cargos majoritários.

Esse otimismo com o papel do Estado e da política se esvaiu ao longo dos anos. O Estado não conseguiu produzir a justiça social almejada. Nas cidades, o valor da vida se revelou proporcional a quanto se ganha. Sem dinheiro, não era difícil perceber, não havia segurança, moradia, saúde, educação, higiene, e muito menos respeito. O mercado e a capacidade de ganhar dinheiro se consolidaram como a única solução viável para enfrentar a miséria. A luta se tornou mais individual do que coletiva.

Esse ceticismo abriu espaço para o fortalecimento da extrema direita, que cresceu depois da crise política e econômica acirrada pela Lava Jato. As redes sociais criaram as condições para a formação da tempestade perfeita. Suas bolhas algorítmicas popularizaram os discursos de ódio em defesa da guerra contra os inimigos da nação, fundamentais para a eleição de Bolsonaro. O desastre do bolsonarismo na pandemia e o desmonte das políticas públicas no Governo Federal não foram suficientes para reduzir os ânimos de seus apoiadores. Bolsonaro, contudo, é carta fora do baralho nas eleições de 2026.

Com Tarcísio de Freitas incensado, os contornos do projeto de futuro deste grupo ficaram mais evidentes. Riqueza e progresso devem ser garantidos pelo mercado. O Estado tem dois papéis principais. Primeiro, não atrapalhar a sanha empreendedora dos que estão focados na busca pelo lucro. De preferência, dar um empurrãozinho aos empresários aliados. Podem ser garimpeiros, grileiros, armamentistas, incorporadores da orla nas praias, os donos dos planos de saúde, líderes das igrejas, jogadores das bets, investidores do mercado financeiro, organizadores de pirâmides, entregadores de aplicativo. Em segundo lugar, cabe ao Estado armar suas polícias ou incentivar a formação de milícias para travar uma guerra em defesa da propriedade privada.

A religião tem um peso estratégico na legitimação dessa ideologia ultraliberal entre as massas, porque sacraliza a prosperidade e demoniza a luta social e o controle do mercado. O simbolismo sagrado ajuda a transformar a guerra dos neoliberais numa luta do bem contra o mal, uma suposta defesa da tradição da cultura judaico-cristã ocidental contra os comunistas e esquerdistas ateus.

Além disso, a religião ajuda a criar entre as massas a confiança na própria capacidade de ganhar dinheiro. Pobres e ricos dispostos a empreender, crentes na força do mercado, acabam se juntando do mesmo lado da guerra, que passa a transcender as diferenças entre as classes.

O problema é que esse sistema não se sustenta. Com o avanço das novas tecnologias e a crise da sociedade do emprego, o mercado vem se tornando mais restritivo. A riqueza se concentra nas mãos de poucos, criando uma pressão cada vez maior sobre as massas que ficam de fora. O protagonismo crescente dos militares é um dos sintomas desse quadro. Eles serão cada vez mais necessários para proteger os ricos em suas ilhas de prosperidade.

A popularidade dos homens fardados nas escolas também dialoga com esse fatalismo ultraliberal. Resta aos educadores formarem cidadãos disciplinados, obedientes, que aceitem fazer parte do jogo e ganhar o suficiente para respirar. Melhor esquecer o pensamento crítico, que repense a forma de viver no mundo, que domestique o mercado, que busque maneiras de distribuir a riqueza altamente concentrada entre poucos.

Diante desse Estado policial fragilizado, sem projeto de futuro, em que poder passa a ser sinônimo de dinheiro e fuzis, os grupos armados ganham cada vez mais protagonismo político. Nas principais cidades brasileiras, tiranias que controlam o cotidiano e impõem suas regras em benefício de seus negócios já fazem parte da realidade. Alguns grupos são financiados pelo bilionário mercado de drogas, altamente lucrativo por ser ilegal, com imensa capacidade de corromper agentes públicos. Já as milícias estão dentro do sistema, dada sua estreita ligação com a política.

Pode parecer novidade, mas é algo antigo e presente na história brasileira. Durante 350 anos de colonialismo, a manutenção e a reprodução da sociedade escravista misturavam dinheiro, violência armada e fé para defender os interesses de uma minoria contra a maioria da população. Os séculos passam, mas a lógica continua a mesma. Um poder que tenta se impor pela força, sem legitimidade para criar um mundo viável para a maioria dos brasileiros. O projeto de futuro da extrema direita se inspira nos piores traços de nosso passado.

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A natureza quer o que é dela, José Renato Nalini, OESP

 Assim como a ex-ministra da Agricultura reconheceu que não seria preciso cortar uma árvore sequer para aumentar a produtividade da lavoura, o atual ministro da pasta da Agricultura e Pecuária reconhece que os fatos acabaram com o discurso negacionista.

Três anos de seca e três enchentes seguidas no Rio Grande do Sul evidenciam que o ambiente cobra o que foi tomado da natureza. O clima é o principal ativo dos agricultores. Isso o ministro Carlos Fávaro conhece bem, pois é produtor rural, vice-presidente da Aprosoja e dirigiu a associação em seu Estado, o Mato Grosso. Ele também ratifica o discurso de sua antecessora, de que o Brasil pode ser o fornecedor de alimentos para o mundo, apenas com a substituição de áreas de pastagens degradadas por plantio de grãos.

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Para ele, não há como negar que o Brasil – governo e povo – precisa agir rapidamente para mitigar os efeitos das mudanças. O bom agricultor tem consciência de que de nada vale ter equipamento, ciência e sementes de última geração, se o solo para o plantio se transformar num deserto.

Ainda é tensa a relação do Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente. Um dos pontos nevrálgicos é a vedação dos pesticidas. São venenosos, matam, poluem. Ainda assim, pede-se mais tempo para a migração rumo a produtos mais sustentáveis, como os biológicos, biodegradáveis e seletivos.

Num otimismo próprio a quem integra convictamente um setor bem delineado, o ministro Carlos Fávaro acredita que os agricultores que praticam grilagem e desmatam são apenas 2% do total de produtores rurais. E esses dois por cento devem ser tratados com rigor pela Polícia Federal, Ministério Público e Ibama.

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Prega a disseminação das boas práticas. Dentre as quais, fazer um perfil do solo de quarenta centímetros com calcário, fertilizantes e muita matéria orgânica. Com isso, o solo suporta mais a seca e absorve mais a água. Quem procede assim obtém vinte por cento a mais de produtividade. É o que o ministro chama de “bomba d’água da produção”.

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Sua visão de mundo é que depois da II Guerra Mundial, cada país foi em busca de sua vocação. Japão e Coreia do Sul optaram pela tecnologia e o Brasil passou a produzir alimentos. Em 1989, o país produzia 71 milhões de toneladas de grãos e em 2023, chegou a 320 milhões. Isso se deveu à Embrapa, que forneceu ciência para o produtor rural e também à criação da CTNBio e à regulamentação dos transgênicos.

Como agricultor que não é ogro, o ministro acredita não existir antagonismo entre produzir e preservar. Reitera a existência de oitenta milhões de hectares de áreas de pastagem degradadas que podem ser reaproveitadas para o plantio de grãos.

Diante das reservas dos europeus quanto à origem discutível dos produtos extraídos de grilagem e desmatamento, além do trabalho na condição de escravidão, o ministro entende que é melhor não ficar chorando. Pode-se ampliar o mercado com o Sul Global, China, Japão, Índia, outros países da Ásia, Oriente Médio e Brics. São regiões com grande potencial econômico e crescente demanda.

Mas é preciso que o Brasil retome a sua postura de promissora potência verde. Que o agro também participe da questão da venda dos créditos de carbono. Que os fazendeiros se preocupem com o replantio de espécies nativas de todos os biomas que estão sendo exterminados. E é urgente criar mais escolas de tecnologia, para que os brasileiros estudem mais biologia, agronomia, silvicultura, botânica, se preocupem com resiliência e adaptação das cidades para suportar os fenômenos extremos que se intensificarão e ocorrerão com assiduidade maior.

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A Embrapa precisa ser também uma entidade ecológica, deixando de lado o discurso de que existe mais verde intocável no Brasil do que território, numa tergiversação descabida, diante dos episódios climáticos comprobatórios de que o maior perigo que ronda a humanidade não é a guerra, nem a dissidência entre os grandes líderes, nem a hegemonia dos gigantescos conglomerados econômicos. É o clima. É a resposta da Terra a quem a maltratou de forma inclemente e incessante.

Mais amor à terra e menos redes sociais iradas em reforço de nefasta polarização. O Brasil precisa de amor e trabalho. Nessa ordem!