sábado, 25 de maio de 2024

Celso Rocha de Barros -Se sua definição de centro não tem nada de esquerdismo, o radical é você, FSP

 Boa parte da discussão política nos últimos meses tem sido sobre quem, entre os políticos de direita, é "de centro". Em parte, trata-se de saber quem herdará o legado político de Jair Bolsonaro. Mas é mais do que isso: trata-se de discutir onde deve ficar "o centro" no debate político brasileiro.

Isso é importante porque, quando marcamos o lugar do centro, fica estabelecido que há uma distância X a partir dali, nas duas direções do espectro político, a partir da qual está a falta de bom senso, o radicalismo e, conforme se ande ainda mais para longe, o extremismo.

Pela definição de "centro" que valeu no Brasil no auge de nossa experiência democrática, entre 1994 e 2014, o centro brasileiro hoje em dia tem um claro ocupante: o governo Lula.

O presidente Lula ao receber jornalistas para café da manha no Palácio do Planalto - Gabriela Biló - 23.abr.2024/Folhapress

Haddad implementa uma política econômica que caberia perfeitamente no período 1994-2014 (aliás, em 1994-2008). O vice de Lula, que também é seu ministro da Indústria, é Geraldo Alckmin. Qual "centrista" discutido atualmente na direita escolheria como vice alguém que fosse, para a esquerda, o que Alckmin foi para a centro-direita entre 1994-2014? Simone Tebet, a candidata da terceira via em 2022, está no governo Lula. O ministro das Minas e Energia, que acaba de derrubar o presidente da Petrobras, é indicado por Gilberto Kassab, homem forte do governo Tarcísio. No que se refere à política de memória sobre o golpe de 64, Lula 3 é mais conservador que FHC. A ideia mais importante produzida pelo centro nos últimos anos, a reforma tributária, foi implementada por Lula, com enorme custo político.

A única área em que o governo de fato se distanciou do centro de 1994-2014 foi em algumas áreas de política externa. Mas mesmo nisso houve muito mais mudança retórica (OK, muito ruim) do que realinhamento da tradição diplomática brasileira.

Aqui alguém pode dizer: bom, mas o Lula quer fazer estaleiro, Abreu de Lima, essas coisas desenvolvimentistas. Bom, se para você isso desqualifica um centrista, então você está propondo que o centro é o liberalismo econômico puro.

Você tem o direito de defender isso, e, aliás, há bons motivos para cobrar o governo sobre projetos desenvolvimentistas com histórico ruim. Mas você está marcando o centro muito à direita do que ele está nas democracias maduras, e muito longe do eleitorado brasileiro, que não tem essa simpatia toda por liberalismo econômico. Nem na direita.

Vale dizer, aliás, que nem todos os grandes projetos estatistas do PT deram errado. Na briga recente da Petrobras, os acionistas queriam que a empresa se concentrasse no seu "core business", extrair petróleo. Bom, mais de três quartos desse "core business" atualmente vêm do pré-sal, cuja exploração é resultado de um imenso investimento estatal de governos petistas.

E sim, Haddad está tentando cobrar imposto de rico. Mas se isso for radicalismo, quase todo mundo nas democracias desenvolvidas é radical.

Se o centro não tiver esquerdismo nenhum, de duas uma: ou você incorreu em uma impossibilidade geométrica, ou tirou do cálculo metade da democracia brasileira. É razoável?

Se você quer provar que seu direitista preferido é de centro, tente escrever sobre ele algo como o quarto parágrafo desta coluna, mas com o sinal invertido. Se não for possível, lamento, amigão: o radical é você.

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Lula diz que fará propaganda do etanol brasileiro de segunda geração para líderes mundiais, FSP

 Marcelo Toledo

GUARIBA (SP)

A Raízen, maior grupo sucroenergético do país, inaugurou nesta sexta-feira (24) uma planta industrial de R$ 1,2 bilhão para a produção de etanol de segunda geração (E2G) na usina Bonfim, em Guariba (a 339 km de São Paulo).

Com o investimento na segunda planta de etanol celulósico, a maior do mundo, no Parque de Bioenergia Bonfim, a empresa passa a ter capacidade total de produção de 112 milhões de litros anuais, sendo 82 milhões na unidade inaugurada nesta sexta e outros 30 milhões de litros do bioparque Costa Pinto.

A inauguração contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice Geraldo Alckmin (PSB), que estavam acompanhados dos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Renan Filho (Transportes), Márcio França (Empreendedorismo) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário).

Lula ao lado do ministro Alexandre Silveira (esq.) e Rubens Ometto, presidente do conselho da Raízen, durante inauguração nesta sexta (24)
Lula ao lado do ministro Alexandre Silveira (esq.) e Rubens Ometto, presidente do conselho da Raízen, durante inauguração nesta sexta (24) - Divulgação/ PR

Em seu discurso, Lula disse que o Brasil sempre teve autoestima baixa e citou o ex-jogador Ronaldo Fenômeno, que passou por diversas lesões, como exemplo. Afirmou, ainda, que o país precisa acreditar quando "Deus e a natureza" dão oportunidade e saber se quer ou não aproveitar esse benefício, em relação à produção do etanol de segunda geração.

Disse ainda que a cana, que já foi tão maltratada e criticada por causa das queimadas, agora produz energia e que será garoto-propaganda do etanol desse combustível.

"Estava jogando [ao queimar a cana] energia fora por desconhecimento (...). Nossos pesquisadores conseguiram fazer o que nenhum país no mundo que pensa que é melhor que a gente conseguiu."

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Segundo Lula, a partir de agora ele fará propaganda mundo afora do etanol que conheceu em Guariba e que usará isso quando se encontrar com líderes mundiais, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ou de países como Alemanha e França.

"Vou dizer ‘escuta aqui, vocês têm etanol de segunda geração'? Vocês têm? Então compra o nosso, para de encher o saco e compra aquilo que o Brasil tem competência de produzir", disse.

Antes dele, Alckmin disse que "para onde nos olharmos, vemos o caminho do etanol". Afirmou, ainda, que o Brasil será o "grande líder no combate a essas mudanças climáticas", após dizer que o mundo está há 17 meses enfrentando altas temperaturas de forma ininterrupta.

O etanol de segunda geração é um combustível que é processado a partir de resíduos vegetais, como palha, folhas e bagaço —de cana-de-açúcar, no caso— e que, conforme a Raízen, permite a elevação da produtividade em até 50% sem aumentar o tamanho da área plantada. Antes, esses resíduos eram descartados.

O bagaço já era utilizado para gerar energia elétrica, mas agora também é usado como matéria-prima, junto com a palha e outros resíduos, para a produção do etanol de segunda geração.

O etanol tradicional é feito diretamente com a moagem da cana e passa pelos processos de extração e tratamento do caldo e fermentação e destilaria. Já o etanol a partir do bagaço passa por mais processos: pré-tratamento, hidrólise, separação, evaporação e fermentação e destilaria.

Dos 82 milhões de litros da planta, 80% já estão contratados, segundo a Raizen. Na avaliação do grupo, o investimento tem como objetivo atender a demanda em alta no mundo por tecnologias limpas.

O etanol de segunda geração, de acordo com Rubens Ometto, presidente do conselho da empresa, será fundamental para alimentar soluções que estão em desenvolvimento, como o SAF (combustível sustentável de aviação).

O ministro Silveira afirmou que a força do Brasil é a sua pluralidade energética e que no governo Lula "não se fala em passar boiada". "Sempre seguiremos a legislação ambiental do país,", disse.

Já Ometto defendeu a política de preços, pelo fato de o etanol estar diretamente ligado a gasolina. "É importante não matar as outras alternativas de combustíveis."

Num discurso em que elogiou os ministros, o executivo citou a atuação de Alckmin enquanto governador paulista. Na época, ele reduziu o ICMS do etanol para 12%, com o objetivo de tornar o combustível mais competitivo.

Ricardo Mussa, CEO da Raízen e colunista da Folha, disse que a aposta no biocombustível tem como objetivo atender o compromisso de produzir a energia do futuro de forma limpa e renovável.

"É muito único o que a gente está fazendo aqui no Brasil hoje", disse. Ele afirmou que o país tem terra fértil, chuva, clima favorável e "gente para fazer isso tudo acontecer".

"A cana ocupa 1% do território nacional e é responsável por 20% da matriz energética nacional (...). Na Raízen estamos no caminho para extrair o máximo da planta", disse.

Por isso, ele afirmou que o grupo já tem nove plantas anunciadas, com investimentos semelhantes, e que a empresa chegará a 20 plantas. "E 1,6 bilhão de litros de etanol adicionais sem precisar de um pé de cana a mais."

A visita de Lula à instalação no interior paulista é a segunda de um presidente nos últimos quatro anos. Em outubro de 2020, Jair Bolsonaro (PL) esteve na unidade para participar da inauguração da maior usina de biogás com produção a partir de derivados da cana-de-açúcar do mundo.

O projeto havia sido iniciado em agosto de 2018 para diversificar o portfólio do grupo. O biogás é produzido por meio de vinhaça e torta de filtro, dois subprodutos da cana.

A capacidade da unidade é de produção de 138 mil MWh por ano, o suficiente para abastecer uma cidade do porte de Araraquara (242 mil habitantes).

Tarcísio é alvo de protesto na USP em evento de posse de procurador, FSP

 Flávio Ferreira

SÃO PAULO

O governador de São PauloTarcísio de Freitas (Republicanos), foi alvo de protesto na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), no centro da capital, nesta sexta-feira (24).

O protesto ocorreu em meio à cerimônia solene de posse do procurador Paulo Sérgio de Oliveira e Costa para o cargo de procurador-geral de Justiça —chefe do Ministério Público estadual de São Paulo.

Composto por cerca de 50 pessoas, o grupo de manifestantes reunia jovens que se apresentavam como integrantes da UNE (União Nacional dos Estudantes), do DCE (Diretório Central dos Estudantes da USP), do Centro Acadêmico XI de Agosto e do partido PSOL. Eles criticam as privatizações e ações policiais do governo.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) é alvo de protesto na Faculdade de Direito da USP na cerimônia de posse de procurador
O governador Tarcísio de Freitas é alvo de protesto na Faculdade de Direito da USP na cerimônia de posse de procurador - Flávio Ferreira/Folhapress

Tarcísio chegou ao local por uma entrada privativa e não teve contato com os manifestantes.

Policiais usaram a força para retirar estudantes que obstruíam a entrada do Salão Nobre da faculdade, local reservado para a cerimômia. Ao longo da posse, o grupo permaneceu na porta de entrada para o auditório gritando palavras de ordem e era observado pelos policiais.

Próximo ao final da cerimônia, os estudantes se dirigiram para a frente da saída privativa do salão, para tentar ficar frente a frente com o governador. Segundo um oficial da PM no local, o governador deixou o prédio pela saída comum do salão sem ser percebido.

Com a saída do governador da faculdade, o protesto foi encerrado por volta das 20h30.

Uma das principais pautas dos manifestantes era o projeto de Tarcísio para a criação de escolas cívico-militares em São Paulo, aprovado pela Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) nesta terça-feira (21). Na Casa legislativa, a sessão de aprovação foi marcada por confronto entre policiais militares e estudantes contrários à proposta.

Bandeira bolsonarista na área educacional, o projeto foi enviado pela gestão estadual no início de março e teve uma tramitação célere. O texto foi aprovado com 54 votos favoráveis e 21 contrários.

Além de Tarcísio, participam da posse nesta sexta (24) o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, o presidente da Alesp, André do Prado (PL) e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.

Também estiveram presentes o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e o ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Herman Benjamin.

Em seu discurso, Costa defendeu o combate ao crime organizado e à corrupção.

"Todos, indistintamente, não podemos tolerar que o Estado e a sociedade continuem a ser desafiados pelo crime organizado, pelo corrupto, pelo traficante, pelo improbo, pela prática de mercados ilegais, pela lavagem de dinheiro, pela fraude fiscal e tributária, pelo crime em geral. Pois tais condutas corroem a confiança e os sonhos de toda uma nação", disse.

Afirmou ainda que a vítima é "a essência e a finalidade" da atuação do Ministério Público.

"Logo nos primeiros dias de mandato, formulamos diretrizes claras, no sentido de que o Ministério Público de São Paulo tem a sua política institucional de proteção integral e de promoção de apoio às vítimas do crime e da violação de direitos", disse.

O procurador ficou em terceiro lugar na eleição interna do Ministério Público mas foi escolhido pelo governador para o cargo, já que o chefe do Executivo estadual tem a prerrogativa de escolher qualquer um dos três primeiros colocados no pleito da instituição.