sexta-feira, 10 de maio de 2024

Rio ou lago? Entenda o que é o Guaíba, que transbordou e agravou as enchentes no Rio Grande do Sul, g1

 Por Sarah Resende — São Paulo

 

Água invade a Orla do Guaíba, em Porto Alegre — Foto: RBS TV

Água invade a Orla do Guaíba, em Porto Alegre — Foto: RBS TV

Para a prefeitura de Porto Alegre, o Guaíba é tratado como um lago. No Google Maps, ele também aparece com essa designação. Ainda assim, há uma discussão que perdura há tempos e que parece não ter uma resposta definitiva: o que é o Guaíba? Tem gente que diz que é um rio, tem quem diga que é um lago, e tem até quem fale em laguna ou estuário.

De cara, os dois últimos podem ser descartados já que, para ser classificado dessa forma, teria que ter alguma ligação direta com o mar.

"O Guaíba não tem nenhum tipo de inclusão salina. A água é doce", explica Jaime Federici Gomes, professor do Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da PUCRS.

O Guaíba desagua na chamada Lagoa dos Patos. Para Joel Avruch Goldenfum, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), o Guaíba tem um comportamento dual, já que apresenta características de lago nas suas margens, e de rio mais no seu meio.

"Nas margens, ele funciona como um lago. Ele tem a vegetação, o tipo de profundidade como se fosse um lago. O escoamento, como a gente diz, é bidimensional, não tem uma direção preferencial. E é de baixa profundidade."

Mas...

"Ele tem, no meio dele, um canal. Não é incomum um lago ter uma parte com um escoamento. Mas, nesse caso, ele está escoando um rio muito grande, que é o Jacuí. E esse canal mais profundo tem correnteza. Lago não tem correnteza."

⚠️ Importante! Entre tantas nomenclaturas, há quem diga, também, que o Guaíba é um corpo hídrico. E isso, sim, ele é com certeza — mas esta definição é abrangente demais. Rio, mar, lagoa ou estuário são todos corpos hídricos, por exemplo.

"Eu prefiro dizer que ele é ou um lago onde passa um Jacuí no meio — e o Jacuí não é um riozinho, é um rio de grandes proporções. Ou um rio que tem as margens como um lago. O Guaíba tem um comportamento dual", reforça Goldenfum.

Gomes concorda que as definições são complexas. Mas vê mais semelhanças com o modelo de lago, por causa de zonas de recirculação de águas e predominância de escoamento bidimensional.

"Essas definições [rio ou lago] são sempre muito complexas. O rio ele tem um curso d'água mais unidirecional, ou seja, no sentido que o fluxo da água está indo. O Guaíba, por ter uma dimensão muito grande, com zonas de recirculação de água, típico de escoamento bidimensionais, se assemelha a um lago."

❓ E por que o Guaíba encheu tanto? A explicação não tem relação com ser rio ou lago. É algo que pode acontecer com qualquer outro corpo hídrico: ele recebeu uma carga muito grande de água.

Desastre histórico

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Nível do Guaíba segue quase 2,30 m acima da cota de inundação

As chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde o fim de abril já deixaram 95 mortos e 130 desaparecidos. A água alagou 5 das 6 estações de tratamento de Porto Alegre, que tiveram que ser desligadas. Também na capital, as águas do Guaíba invadiram o centro e inundaram a rodoviária e o aeroporto Salgado Filho.

O que surpreendeu é que em outras cheias do Guaíba, a velocidade da subida da água com as chuvas não foi tão rápida quanto agora. E, por causa das mudanças climáticas, a tendência, para o sul do país, é de aumento de chuvas.

Além disso é provável que se observe aumento na frequência e na intensidade de eventos extremos, o que já pode ser visto em um intervalo cada vez mais, curto, como aconteceu por duas vezes em 2023 e, agora, em 2024 (outras enchentes históricas foram registradas em 1928; em 1936; em 1941; e em 1967).

estamos em ano de El Niño, o que provoca aumentos nas precipitações no sul do país, principalmente no Rio Grande do Sul.

O Guaíba em números

Segundo a prefeitura de Porto Alegre, o Guaíba tem:

  • Extensão da margem: 85 km de terra na margem esquerda (sendo 70 km no Município de Porto Alegre) e 100 km na margem direita;
  • Área: 496 km² (começa na ponta da Usina do Gasômetro, no Centro de Porto Alegre, e percorre 50 km até encontrar a Laguna dos Patos);
  • Largura máxima: 20 Km.
  • Comprimento: 50 Km;
  • Profundidade média: 2 metros, chegando a 12 metros no Canal de Navegação;
  • Volume de água: 1,5 Km³ aproximado.

Indecência mesmo é o novo acordo entre Brasil e Paraguai para Itaipu, não o show da Madonna, Elena Landau OESP

 


O ministro Alexandre Silveira anunciou, com toda pompa, que finalmente saiu o acordo entre Brasil e Paraguai para Itaipu. Foi decidido um aumento nas tarifas para US$ 19,28/kW, e o Brasil vai assumir US$ 900 milhões do plano de investimento da usina para “compensar” um reajuste menor que o pedido pelos paraguaios. A parte boa ficou para 2027: as tarifas passam a refletir custos operacionais, devendo cair para US$ 10, e o excedente de energia será comercializado no mercado livre, mais um ganho para o ACL. Só que não tem nada firmado ainda. O passado de negociações com o Paraguai não dá razão para otimismo.

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O MME diz que a elevação de 15,4% não terá impacto sobre as contas de luz. Claro que tem. Deixa de repassar o ganho com o fim do pagamento da dívida, principal componente do custo, o que levaria a tarifa para menos de US$ 12. O governo brasileiro ignorou os consumidores cativos brasileiros. Seu verdadeiro objetivo é usar a folga nas tarifas para gastar. Há anos que Itaipu investe onde não deve, usando como desculpa a licença para apoiar projetos de impacto socioeconômicos, que deveriam estar localizados em sua área de influência. Ano passado, quase atingiram US$ 1 bilhão, em empreendimentos questionáveis.

Não por acaso, o acordo sai após Lula anunciar que Itaipu vai repassar R$ 1,3 bilhão para a COP-30 em Belém!

Para um país que coloca o Amapá na região da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), incluir o Pará na área de influência de Itaipu não chega a surpreender.

Brasil chegou a novo acordo com o Paraguai por Itaipu, o que era previsto nos termos iniciais entre os dois governos na época da construção da usina
Brasil chegou a novo acordo com o Paraguai por Itaipu, o que era previsto nos termos iniciais entre os dois governos na época da construção da usina Foto: Caio Coronel/Itaipu

No Rio Grande de Sul, uma tragédia afeta a vida de milhares de pessoas. Faria muito mais sentido investir na recuperação das cidades atingidas, além dos gastos necessários para a reconstrução de sua infraestrutura.

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Mas tanto COP-30 quanto verbas para o RS não são despesas a serem financiadas por tarifas, e, sim, pela União.

O anúncio veio com tom de vitória. Na verdade, é uma derrota para os consumidores de energia que, mais uma vez, vão pagar a conta. E quem não deveria ganhar, ganhou: o Paraguai, umas centenas de milhões por ano; e o governo brasileiro, para gastar recursos fora do Orçamento. Mais uma vez, acha um atalho para fugir de restrições das já combalidas regras fiscais.

Pretendia mudar de assunto nesta semana e fugir do tema energia elétrica. Mas o MME não dá trégua. Pensei em comentar o show da Madonna, que deixou os conservadores tão revoltados. Não sei por onde andaram nos últimos 40 anos. Indignados com sua ousadia, postavam os tais vídeos “indecentes”. Indecência mesmo é esse acordo para Itaipu.