quinta-feira, 9 de maio de 2024

Escolhidos por vereador Milton Leite para substituí-lo na Câmara já fazem campanha em reduto do clã, FSP

 Fabio Victor

SÃO PAULO

Uma raposa da política paulista conta que, na zona sul de São Paulo, há divisões de poder como no futebol brasileiro. A Série A é composta pelas famílias Leite e Tatto. A Série B, pelos clãs Caruso e Goulart –e por Ricardo Nunes.

Descontando o fato óbvio de que, após três anos como prefeito, Nunes deixou as divisões inferiores para se juntar à elite político-eleitoral da região, a dinastia Leite ganhou muita força na última década. Sobretudo graças à crescente influência política do patriarca, o vereador Milton Leite (União), presidente da Câmara Municipal de São Paulo pela sexta vez.

Leite, que no governo de João Doria (sem partido) expandira seus tentáculos pela esfera estadual, perdeu parte do poder com a chegada de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Gilberto Kassab (secretário de Governo estadual) ao comando do estado –mas segue soberano na Câmara, fortíssimo na prefeitura e aumentou sua ascendência no diretório estadual de seu partido.

Montagem mostra campos de futebol na zona sul de São Paulo com faixas de agradecimento a Milton Leite e seus filhos e aliados; à esq., em 2007, no Jardim Miriam; à dir,. em abril de 2024, no Jardim São Luís - Diego Padgurschi - 22.set.2007/FolhaFolhapress Danilo Verpa - 17.abr.2024/Folhapress

A dinastia é composta ainda por dois dos seus cinco filhos, o deputado federal Alexandre Leite e o deputado estadual Milton Leite Filho, ambos também do União. Dez anos mais velho (45 a 35), Miltinho é o xodó do pai e está no quinto mandato seguido como deputado estadual.

Alexandre, tido como mais hábil que o irmão, cumpre o quarto mandato como deputado federal. Ficou mais conhecido por ter sido relator de um projeto que facilitava o acesso a armas (é atirador e armamentista ardoroso) e por ter matado a tiros um assaltante em dezembro passado. Em 2005, outro filho de Milton Leite, Felipe, foi preso por porte ilegal de arma.

Se confirmada a promessa de Milton Leite de que, pela primeira vez desde os anos 1990, não concorrerá em outubro a um novo mandato de vereador, a grande família Leite poderá ganhar em breve dois novos integrantes –nenhum deles é seu filho.

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Silvio Antonio Azevedo, o Silvão, é chefe de gabinete de Leite na Câmara Municipal e presidente da escola de samba Estrela do Terceiro Milênio, do Grajaú (zona sul), da qual o patrão é presidente de honra.

Silvio Ricardo Pereira dos Santos, o Silvinho, é chefe de gabinete da Subprefeitura de M’Boi Mirim, região onde o patriarca dos Leite nasceu, cresceu e fincou sua base política. Os dois foram escolhidos pelo presidente da Câmara como seus candidatos a vereador em outubro.

Arena Luciano Nunes, no Jardim Felicidade (distrito de Jardim São Luís), zona sul de São Paulo; espaço da prefeitura ostenta logomarca da família Leite e desenho de Milton Leite com Silvinho, que deverá ser candidato a vereador em outubro apoiado pelo clã - Danilo Verpa/Folhapress

Milton Leite controla hoje as subprefeituras de M’boi Mirim, Parelheiros (ambas na zona sul), Guaianazes (zona leste) e Jaçanã (zona norte). A primeira é a área de atuação de Silvinho. As demais têm supervisão de Silvão.

Técnico em contabilidade e bacharel em direito formado pela Unisa, Silvinho conta que desde o tempo da faculdade alimenta a ideia de se candidatar a um cargo parlamentar.

"A família Leite sendo a potência que é hoje, com toda representatividade dentro das comunidades, acredito que possa ser um apoio favorável, caso eu venha me candidatar", afirmou.

O chefe de gabinete da Subprefeitura de M'Boi Mirim, Silvio Ricardo Pereira dos Santos, o Silvinho, discursa em inauguração
O chefe de gabinete da Subprefeitura de M'Boi Mirim, Silvio Ricardo Pereira dos Santos, o Silvinho, discursa durantre inauguração de serviço municipal; apoiado por Milton Leite, ele deverá ser candidato a vereador na eleição de 2024 - Reprodução redes sociais

Procurado em seu gabinete na Câmara e em uma loja de borrachas e metais da qual é sócio, Silvão não deu retorno. Apesar de ser Azevedo, ele tem adotado o sobrenome Leite para se apresentar –Silvinho diz que não pretende fazer o mesmo.

Seis meses antes da eleição de outubro –e quatro meses antes da data oficial permitida para propaganda eleitoral (16 de agosto)--, ambos estão em campanha a todo o vapor. Participam de inaugurações, discursam, supervisionam obras e colam cada vez mais suas imagens à da família Leite.

A reportagem esteve na região do M’Boi Mirim no dia 17 de abril. Num raio de cerca de 3 km do Jardim São Luís, havia 26 faixas de agradecimento a Milton, à família Leite, a Silvinho e ao prefeito, a maioria com fotos dos políticos.

"Não tenho conhecimento sobre as faixas nem controle sobre quem as coloca. Não posso ser responsabilizado por faixas que a população coloca em agradecimento às muitas obras e projetos que apoiamos na zona sul e por toda a cidade"

Milton Leite

vereador, presidente da Câmara Municipal de SP

Na esquina entre as ruas Geraldo Fraga de Oliveira e Adalto Batista de Lima, há um escritório para esclarecimentos sobre as realizações da Subprefeitura de M’Boi Mirim, onde eram distribuídos panfletos listando obras na região. Nome e fotos de Silvinho estão estampados nos folders. Indagado mais tarde sobre quem banca o escritório e o material de divulgação, ele não respondeu.

Perto dali, numa área de lazer no Conjunto Promorar contígua a uma quadra poliesportiva, as paredes do complexo público administrado por uma associação comunitária ostentam a logomarca Família Leite –onipresente em toda a região, em faixas e camisetas vestidas por aliados.

Voluntária na administração do local, Joseane Bandeira da Cunha conta que o espaço estava abandonado, e que a reforma foi possível graças a emendas da família Leite. Acrescenta que Silvinho libera verbas para transporte de doações e está sempre presente nas festas.

Alguns quilômetros adiante, no Jardim Felicidade, uma campo de futebol reformado tem uma pintura que retrata Milton Leite e Silvinho, e faixas agradecem a todos do grupo e ao prefeito Nunes.

No Grajaú, havia, em menor número, faixas celebrando "Silvão Leite", com foto dele abraçado a Milton.

O chefe de gabinete do vereador Milton Leite, Silvio Antonio de Azevedo, o Silvão, discursa durante entrega de pavimentação em Guaianazes (zona leste de SP)
O chefe de gabinete do vereador Milton Leite, Silvio Antonio de Azevedo, o Silvão, discursa durante entrega de pavimentação em Guaianazes (zona leste de SP); apoiado por Milton Leite, ele deverá ser candidato a vereador na eleição de 2024, sob o nome Silvão Leite - Reprodução redes sociais

Especialistas em direito eleitoral (Fernando Neisser, professor da FGV) e administrativo (Odete Medauar, professora titular aposentada da USP) afirmam que o uso da logomarca da família pode ferir o princípio constitucional da impessoalidade e que as faixas com a logomarca da Prefeitura de São Paulo associada a políticos pode configuraria uso indevido de um símbolo público.

Já a campanha antecipada dos aliados de Milton Leite não fere a lei eleitoral –por ora só é proibido pedir votos expressamente.

Leite disse que não é o responsável. "Não tenho conhecimento sobre as faixas nem controle sobre quem as coloca. Não posso ser responsabilizado por faixas que a população coloca em agradecimento às muitas obras e projetos que apoiamos na zona sul e por toda a cidade".

Sobre a presença disseminada da logomarca Família Leite pela região, reiterou: "Não tenho conhecimento nem responsabilidade sobre".

Milton Leite Filho deu resposta semelhante: "Desconheço a existência de faixas e logomarcas, bem como os responsáveis por elas". Procurado por meio de sua assessoria, Alexandre Leite não respondeu.

Tanto Silvão quanto Silvão integram o diretório estadual do União Brasil, repleto de aliados de Milton Leite –ele próprio é o tesoureiro e Alexandre Leite, primeiro vice-presidente. Miltinho e Felipe também são membros, assim como assessores e ex-assessores da família.

Nos últimos anos, o poder do clã liderado por Milton se alastrou pela cidade, por áreas distantes do reduto original como Guaianazes (zona leste) e Jaçanã (zona norte). Mas a sua hegemonia sempre foi (e continua a ser) mais explícita em M’Boi Mirim.

"Na eleição de 2012, enquanto eu tive uns 60 mil votos somando Capela [do Socorro] e Grajaú, em M’Boi só tive uns 500, pela força do Milton ali", relata o ex-vereador e ex-deputado federal Antônio Goulart, cujo filho Rodrigo é atualmente vereador pelo PSD. "Aí depois ele também cresceu em Parelheiros, Grajaú…"

Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a 372ª Zona Eleitoral de São Paulo, em Piraporinha, região de M’Boi Mirim onde Milton Leite nasceu e cresceu, é a maior da capital, com 282,8 mil eleitores.

Os números e a influência sobre a administração da maior cidade do país ajudam a explicar por que Milton Leite sempre preferiu se manter como vereador, em vez de tentar se lançar como deputado, por exemplo.

"Ele tem uma visão política gigante. Não diria que um vereador de São Paulo é menos importante que um deputado federal. [Um vereador de São Paulo] tem uma importância enorme, que deputados federais podem ter dez mandatos e não alcançarão", sintetiza Goulart.

SBT causa crise com governo Lula, Globo e Record após reportagem sobre tragédia no RS, F5 Folha

 

Tá na Hora: reportagem de programa causa crise do SBT com governo Lula, Globo e Record - Rogério Pallatta -7.mar.2024/SB
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SBT criou uma crise com o governo Lula, a Globo e a Record por causa de uma reportagem do programa Tá na Hora, exibida na última terça-feira (7). A matéria afirmava que caminhões com doações para vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul estavam sendo multados por não ter a nota fiscal dos produtos.

O relato foi feito pela âncora Márcia Dantas, que foi enviada ao estado gaúcho na segunda-feira (6). Marcão do Povo, o outro apresentador do programa, também ressaltou a informação e criticou as autoridades que supostamente multavam doações. A matéria ocupou 75 minutos de duração do Tá na Hora, que teve 1h45.

Assim que foi ao ar, Paulo Pimenta, atual ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, pediu providências para que a reportagem fosse desmentida. Nesta quarta-feira (8), a reportagem não era mais encontrada nas páginas digitais do SBT ou no canal oficial da emissora no YouTube. Elas ficaram no ar por 16 horas.

Nos bastidores da emissora de Silvio Santos, a interpretação é que a reportagem exibida é um indicativo da nova linha editorial de jornalismo do SBT nos próximos meses. Na semana passada, houve uma troca de comando: saiu José Occhiuso, e assumiu Luiz Weber.

Vale ressaltar, porém, que o Tá na Hora está no guarda-chuva no entretenimento da emissora, e não do jornalismo.

O material do Tá na Hora revoltou especialmente Paulo Pimenta, que já havia dito em suas redes sociais que aquela informação, que rodava em grupos de extrema-direita fazia algumas horas, não era verdadeira.

A reportagem foi compartilhada por Daniela Beyruti, vice-presidente do SBT e também filha de Silvio Santos, em seu Instagram, com os dizeres: "Isso é jornalismo de verdade. Parabéns SBT!".

Em sua defesa, o SBT tem dito nos bastidores que não houve erro. A reportagem apenas relatou o que viu durante a ida para o Rio Grande do Sul.

Nesta quarta (8), a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) atualizou o protocolo para inspeções de caminhões, segundo o SBT, por causa da reportagem.

O fato também incomodou concorrentes. Globo e Record desmentiram, tanto em sua programação, como por meio de seus profissionais, que fizeram publicações a respeito do fato em suas redes sociais pessoais. Camila Bomfim, Natuza Nery e Reinaldo Gottino foram alguns deles.

Jornalistas que estão cobrindo a tragédia do Rio Grande do Sul no local também se incomodaram com o que aconteceu. Entendem que o SBT atrapalhou o trabalho da imprensa e criou uma histeria desnecessária.

Procurado pelo F5, o ministro-chefe Paulo Pimenta também foi procurado e, ao ser indagado sobre a reportagem do SBT, apenas compartilhou links que voltaram a desmentir o que a TV de Osasco informou.

Em nota, o SBT diz que a reportagem não era mentirosa e que não tem interesses políticos no caso. A empresa defendeu o Tá na Hora e a repórter Marcia Dantas.

Veja a nota na íntegra:

O SBT reforça seu compromisso com a verdade e ressalta que todo o departamento dejornalismo da emissora é guiado pela premissa de responsabilidade com a informação e com a sociedade.

A emissora não produz e não divulga inverdades e não tem o objetivo de politizar qualquer assunto conduzido pela equipe de jornalismo.

Especificamente sobre a tragédia que assola o Sul do País, o SBT tem adotado uma postura de serviço de utilidade pública, divulgando todas as ações de auxílio às vítimas e os canais oficiais de doação.

Em determinado momento desse trabalho, nossa equipe de reportagem constatou embaraços oficiais ao trânsito de caminhões com doações para o Rio Grande do Sul, e assim retratou os fatos, até mesmo como forma de alerta às autoridades.

A informação foi confirmada hoje pela Agência Nacional de Transportes Terrestres e o resultado, inclusive, é a suspensão das multas aplicadas, o que só foi possível diante da exposição do fato.

O objetivo da cobertura do jornalismo do SBT sobre a tragédia no Sul do País segue sendo o de ser um canal de apoio à população local, reforçando tudo o que pode ser feito para auxiliar as pessoas. Não há nem nunca houve vínculo ou objetivo político.

Comprometida com a verdade, a emissora seguirá trabalhando de forma incansável para trazer informação de qualidade e credibilidade para toda a população brasileira.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

O muro da Mauá sabe o que destruiu Porto Alegre, Por Moisés Mendes

 O muro da Mauá sabe o que destruiu Porto Alegre


5 Maio, 2024

 

Sacos de areia foram amontoados na semana passada na base das 14 comportas do muro da Avenida Mauá, que separa Porto Alegre do Rio Guaíba. Era parte do plano de prevenção contra a cheia.

 

Mas os sacos não aguentaram a pressão da água. Porto Alegre virou a Veneza gaúcha dos desastres climáticos, do egoísmo e da inépcia.

 

As comportas e os sacos estavam, em alguns trechos, a menos de 20 metros de armazéns do cais do porto da cidade. Os mesmos armazéns que acolheram, em março, o South Summit Brazil 2024.

 

Um mês antes das cheias que atingem um terço do Estado e invadem a capital, Porto Alegre havia sido a cidade mundial das ideias, da inovação, da tecnologia e do empreendedorismo.

 

É provável que nenhuma das soluções apresentadas por 3 mil startups tratasse de técnicas do uso de sacos de areia em situações parecidas. Os sacos se romperam, a cidade foi inundada por causa dessa e de muitas outras deficiências, e seus moradores se interrogam: o que falhou?

 

Por que Porto Alegre consegue acolher o evento das soluções, geralmente virtuais, que irão gerir o mundo no século 21, e não consegue enfrentar uma cheia analógica? E os dois eventos, o Summit Brazil e a estrutura para evitar a invasão das águas, foram vizinhos no mesmo espaço na beira do rio.

 

Porto Alegre foi invadida pelas águas porque o muro e as comportas são dos anos 70 (uma das comportas estourou), a cidade sucateou seu sistema de drenagem e não sabem mais nem mesmo usar sacos de areia para conter a água.

 

O Estado e o município, a exemplo do que acontece no Brasil todo, privatizaram o que era bom e rentável, ou sucatearam para vender depois, ficaram com o que consideram ruim ou pouco lucrativo, desmantelaram estruturas e quadros de pessoal e acabaram por expor seus servidores sobreviventes a constrangimentos.

 

Faltam inteligências, no plural, para dar conta de coisas do cotidiano e de situações excepcionais, como a catástrofe do clima que o homem provoca.

 

O professor Rualdo Menegat, do Instituto de Geociências da UFRGS, sintetiza, em artigo compartilhado por toda parte: além de vender tudo, “desmontaram também a inteligência estratégica do Estado”.

 

Sumiram as inteligências de Estado que pensavam a vida, a economia, o meio ambiente, as cidades, a tecnologia, as questões sociais. O setor público desistiu, ao transferir o que é seu ao setor privado, de refletir sobre o que precisa fazer por prerrogativa e dever.

 

O privado passa também a pensar pelo que deveria ser tarefa da área pública. Vale para o município, não só nas questões consideradas estratégicas, mas cotidianas.

 

Augusto Damiani, engenheiro hidrólogo, ex-diretor-geral do Dmae (o departamento de águas e saneamento de Porto Alegre), servidor público aposentado, já sabia que a água invadiria Porto Alegre.

 

Porque a prefeitura não faz a manutenção das comportas. Porque a drenagem da cidade não funciona mais. E porque, acreditem, aqueles pequenos sacos de plástico com areia, desses de obras caseiras, colocados na base das comportas, não deveriam estar ali.

 

As comportas vazaram, os bueiros estouraram e os sacos de areia se esfarelaram. No caso singelo dos sacos, era preciso usar outro recipiente mais forte e outras misturas, com uso até de cimento. Os sacos deveriam ser maiores, para segurar a água. E as frestas das comportas deveriam ser vedadas com borrachas.

 

E assim se deu a combinação de grandes e pequenos desastres materiais e humanos. O Rio Grande do Sul está sendo devastado pela chuvarada que provoca mais danos em áreas mais degradadas. É tão óbvio.

 

Porque as pessoas das mais variadas áreas, as empresas e a agricultura do agro pop e suas ganâncias tiveram a cumplicidade da leniência dos que se elegeram para cuidar do setor público.

 

E por isso agora falta inteligência para pensar soluções para o Estado e para as cidades. Não há inteligência porque, de forma deliberada, o entreguismo só funciona se o Estado for descerebrado.

 

Damiani, que dirigiu também o Departamento de Esgotos Pluviais (Dep) de Porto Alegre, estima que faltem hoje 2 mil servidores no Dmae. A estrutura de pessoal de águas e saneamento tem um terço das necessidades.

 

Damiani e Menegat são dois sábios das águas, conhecem seus impactos em áreas rurais e urbanas maltratadas. Sabem por que os bueiros das ruas de Porto Alegre estão explodindo com a cheia e por que os rios se esparramam pelas cidades.

 

Ambos são inteligências desprezadas pelos privatistas do Estado, que venderam a CEEE, a estatal de energia, e a Corsan, a estatal da água, e estavam com o plano pronto, desde o ano passado, para vender o Dmae, depois de entregarem por centavos a Carris, a companhia de ônibus da capital.

 

Venderam tudo, e a inteligência estratégica de que fala Menegat não tem mais nem a companhia da inteligência prática, capaz de definir o melhor saco de areia para conter uma cheia.

 

É um problema periférico e específico, que só interessa aos gaúchos? Na visão egocêntrica de parte do Brasil, pode ser. Principalmente para os que enxergam o Sul como uma coisa distante, com seus dramas não resolvidos.

 

Mas o Rio Grande governado por Eduardo Leite (PSDB) e a Porto Alegre gerida por Sebastião Melo (MDB) são o Brasil amanhã. Mesmo que já tenham sido exemplos pelo que faziam bem feito.

 

Poucos lembram que o mesmo cais do Summit Brazil foi, há duas décadas, o cais dos encontros do Fórum Social Mundial. O evento de agora está preocupado em encontrar soluções que virem negócios, às vezes imaginados por uma pessoa ou um pequeno grupo. Aquele evento do começo do século 21 ambicionava as soluções coletivas.

 

Aparentemente, as inteligências dos dois eventos poderiam se cruzar e se interligar, mas na essência enxergam mundos diferentes. O muro da Mauá, que o entreguismo não conseguiu privatizar, é testemunha.

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