sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

PDV da GM tem carro, salários extras e plano de saúde para cortar 1.215 em São Paulo, FSP

 

SÃO PAULO

Funcionários da GM (General Motors) que tenham mais de sete anos de casa e aderirem ao PDV (Programa de Demissão Voluntária) receberão um veículo Onix Hatch ou R$ 85 mil como parte do pacote de benefícios acertado pela montadora com os sindicatos de metalúrgicos.

A proposta da companhia foi aprovada em assembleias em Mogi das Cruzes, São Caetano do Sul e São José dos Campos nesta sexta (1º). A meta da GM é demitir 1.215 funcionários das três fábricas, segundo informações dos sindicatos.

Portaria da fábrica da General Motors em São José dos Campos (interior de São Paulo) - Roosevelt Cassio-23.out.23/Reuters

A GM não comentou os detalhes das propostas discutidas com os sindicatos, mas confirmou que o programa de desligamento foi aprovado nas três unidades.

Essa não é a primeira vez que a montadora inclui um carro ou o valor equivalente no plano para incentivar demissões. Há quatro anos, porém, o tempo de casa era maior, de nove anos.

Segundo a proposta de indenizações fechada nesta sexta, os funcionários empregados há mais tempo também receberão cinco meses de salário e plano médico por seis meses (que pode ser substituído por R$ 12 mil).

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Quem trabalha há menos de sete anos na companhia receberá seis meses de salário, adicional de R$ 15 mil e plano médico por três meses ou R$ 6.000. Em Mogi, como há mais funcionários empregados há menos tempo, há faixas intermediárias de indenização e adicionais de R$ 15 mil.

Davi Martins, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, diz que também ficou acertado que cada adesão resultará no retorno de outro empregado em licença remunerada.

A fábrica de Mogi produz peças e tem 480 funcionários. Em outubro, 105 foram demitidos, na mesma leva de cortes que atingiu as duas outras unidades, e que foram canceladas após determinação da Justiça do Trabalho.

As fábricas da GM no Brasil chegaram a ter 17 dias de greve por causa das demissões –o acordo fechado com os sindicatos prevê a compensação de 50% dos dias parados até junho de 2024.

"O PDV já tem uma procura imensa, com muita gente indo embora. As demissões [em outubro] criaram muita insegurança, porque foram totalmente sem critério", diz Davi. Os readmitidos dos três municípios estão, desde então, em licença remunerada.

Em São José do Campos, a meta é dispensar 830 trabalhadores, segundo o sindicato local.

O período de adesão ao PDV é de 5 a 12 de dezembro. Para quem não aderir, haverá estabilidade no emprego até 3 de maio de 2024.

A fábrica de São José dos Campos tem cerca de 4.000 trabalhadores e produz os modelos S10 e Trailblazer.

Em São Caetano do Sul são produzidos os modelos Spin, Tracker e Montana e trabalhavam cerca de 4.300 metalúrgicos, segundo o sindicato. Na fábrica do ABC, o plano da GM é cortar 290 postos de trabalho. Em outubro, 300 foram demitidos.

Na época dos cortes, a GM disse que as demissões eram necessárias devido à queda nas vendas e nas exportações.

"Esta medida foi tomada após várias tentativas atendendo as necessidades de cada fábrica como, layoff, férias coletivas, days off e proposta de um programa de desligamento voluntário. Entendemos o impacto que esta decisão pode provocar na vida das pessoas, mas a adequação é necessária e permitirá que a companhia mantenha a agilidade de suas operações, garantindo a sustentabilidade para o futuro", afirmou a empresa, em outubro.

TJ-SP autoriza penhora de bens do alto escalão da dona da Starbucks, FSP

 Fernanda Brigatti

SÃO PAULO

O desembargador Nelson Jorge Júnior, da 13ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), concedeu tutela nesta sexta-feira (1º) para penhorar bens de dois integrantes do alto escalão do grupo Southrock, controlador da rede de cafeterias Starbucks e do Eataly no Brasil.

Serão penhorados R$ 5,3 milhões do CEO do grupo, Kenneth Pope, e do CFO (chefe do financeiro), Fábio Rohr, e do Eataly. A decisão atendeu a um pedido do banco Pine, para quem o grupo deve R$ 14 milhões.

Fachada do Eataly, em São Paulo - Alberto Rocha-05.mai.18/Folhapress

Segundo o pedido (que havia sido negado na primeira instância), os dois, o Eataly e a Southrok foram citados no início de novembro para que indicassem bens que servissem à execução da dívida com o banco. Como a indicação não foi feita, a instituição financeira pediu a concessão da penhora online, aceita nesta sexta.

O grupo Southrock foi procurado, mas não respondeu até a publicação desse texto. O Eataly funciona como um centro gastronômico (ou uma praça de alimentação refinada) com restaurantes, adegas, cafeterias, confeitarias e sorveteira. O espaço localizado na Vila Nova Conceição, em São Paulo, tem 4.500 metros quadrados e um portfólio de cerca de 8.000 produtos.

Segundo o advogado Gabriel de Britto Silva, especializado em direito empresarial, sem o pagamento do débito e sem a indicação de bens, a penhora passa a ser devida.

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controlador do Eataly apresentou pedido de recuperação judicial no fim de outubro deste ano. O juiz Leonardo Fernandes do Santos, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, ainda não decidiu sobre o mérito do pedido.

Na quinta (30), ele determinou a inclusão da rede de lanchonetes Subway na relação de negócios sujeitos à recuperação judicial. Um dos credores do grupo já havia questionado a ausência da empresa no pedido encaminhado à Justiça.

A Southrock chegou a pedir a exclusão do Eataly do rol de empresas sujeitas à recuperação judicial.

No laudo de constatação prévia encaminhado pela Laspro Consultores a pedido do juiz do caso, há a recomendação de exclusão do Eataly porque o CNPJ do negócio tem menos de dois anos de atividade. Esse prazo é um dos requisitos previstos na lei que regula o procedimento.

O juiz manteve o centro gastronômico no pedido, deu cinco dias para a inclusão do Subway e negou pedidos de despejo que afetariam as cafeterias Starbucks. Desde o pedido de recuperação judicial no dia 31 de outubro, lojas foram fechadas e funcionários foram demitidos.

As empresas sob gestão da SouthRock no Brasil têm dívidas a serem pagas a 2.357 credores, segundo documentos enviados pelo grupo à Justiça de São Paulo.

Com ex-funcionários, a dívida da controladora da Starbucks é de R$ 10,447 milhões e alcança 885 pessoas, com valores descritos como referentes à rescisão de contrato.

Alvaro Costa e Silva - No país dos macaquitos e dos barões, FSP

 No seu livro "Balão Cativo", Pedro Nava conta que nos tempos de Rio Branco não havia concurso para ingressar na "carrière". Era ele próprio, o barão, quem dava a palavra final na escolha dos futuros diplomatas, em geral pessoas de família influente e bem-apresentadas. O poeta Antônio Francisco da Costa e Silva, apesar de candidato dos mais qualificados, não deu nem para a saída.

Na descrição de Nava, a face de Da Costa e Silva "parecia um bolo de miolo de pão com os furos dos olhos, das ventas e da boca". Depois de almoçar com Rio Branco, ele ouviu a sentença antes da sobremesa: "Até gosto dos seus versos e aprecio seu talento. Contra sua pretensão o que está é seu físico. Eu só deixo entrar na carreira homens de talento que sejam também belos homens. A diplomacia exige isso. Desejo-lhe boa sorte em tudo. Agora, no Itamaraty, não! O senhor aqui não entra".

O historiador e africanista Alberto da Costa e Silva, filho do poeta tão rudemente preterido, tornou-se diplomata para tirar uma desforra do barão. Numa entrevista, ele me contou mais detalhes da história familiar: "Nascido no Piauí, meu pai era um mestiço indefinido. Rio Branco primeiro o elogiou, o considerou inteligente, preparado ao extremo, bom conversador em francês, conhecedor de inglês, alemão e espanhol. Depois foi cruel, ao dizer na cara de meu pai que ele era feio e que, lá fora, já chamavam o Brasil de país dos macaquitos".

Alberto morreu no domingo (26), aos 92 anos. Ainda me lembro da sua voz emocionada ao relatar o episódio. Perguntei se Da Costa e Silva era realmente feio. "Ele tinha mãos bonitas. De perfil, era um homem passável".

Com sua produção historiográfica, Alberto da Costa e Silva explicou, como ninguém antes dele, a importância da África e da diáspora africana para que possamos entender um certo país do outro lado do Atlântico, que continua tão exclusivista como nos tempos do barão.

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O historiador e poeta Alberto da Costa e Silva - Ricardo Borges/Folhapress