quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Excesso de confiança na CPI levou oposição a cair na própria armadilha, FSP

 Bruno Boghossian

BRASÍLIA

Jair Bolsonaro (PL) anunciou que abraçaria a missão quando voltasse ao Brasil depois de uma temporada nos EUA. "Estamos focados na CPI dos atos do dia 8 de janeiro", disse o ex-presidente, no fim de março. "Esperamos muito que haja a CPI para levantar isso aí. Foi uma armadilha feita pela esquerda."

A oposição via a Comissão Parlamentar de Inquérito como uma ferramenta para borrar impressões digitais, espalhar alguma confusão e alimentar teorias conspiratórias que pintavam os ataques golpistas como um trabalho interno da esquerda.

Última sessão da CPI do 8 de janeiro, que vota relatório final da investigação - Gabriela Biló/Folhapress

A segurança com que deputados e senadores alinhados a Bolsonaro lideraram a coleta de assinaturas para criar a comissão foi o sinal de que eles acreditavam que seria possível dominar as investigações e provocar desgastes ao governo Lula (PT). Meses depois, os oposicionistas caíram no próprio alçapão.

Criada pela pressão de bolsonaristas, a CPI chegou ao fim nesta quarta-feira (18) com um passeio do governo petista. O relatório final, que responsabiliza Bolsonaro e outras 60 pessoas pelos ataques, foi aprovado com 20 votos. Outros 11 parlamentares rejeitaram o parecer.

O tiro no pé da oposição foi provocado por uma sequência de erros de cálculo, cometidos tanto pelos líderes do grupo como por soldados rasos. O primeiro e mais fundamental deles foi um erro político.

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Quando decidiu fornecer combustível à instalação da CPI, Bolsonaro enxergava um Congresso disposto a emparedar Lula. Além das amplas bancadas de direita na Câmara e no Senado, o ex-presidente acreditava que o petista seria vítima do jogo duro do centrão.

O diagnóstico parecia fazer sentido, mas os bolsonaristas deixaram de considerar diferenças fundamentais. Uma delas era o repúdio ao golpismo manifestado publicamente por líderes do centrão. Nem Valdemar Costa Neto, presidente do PL, topou encarar o 8 de janeiro com meias palavras.

A oposição também menosprezou a rapidez com que o centrão estaria disposto a fazer negócios políticos com o governo Lula. Ainda que a nomeação de ministros do PP e do Republicanos tenha se arrastado, as conversas já ocorriam durante todo o primeiro semestre.

O Congresso fez um jogo duplo que, no fim das contas, favoreceu o governo. O Planalto ficou com maioria na comissão e escolheu a relatora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), mas não conseguiu emplacar o presidente.

No comando da CPI com o apoio do centrão, o deputado Arthur Maia (União Brasil-BA) fez generosas concessões à minoria, barrando convocações e quebras de sigilo consideradas delicadas. O comportamento restringiu a investigação, mas ajudou a mitigar a retórica bolsonarista de que a comissão seria um instrumento de perseguição.

A oposição se afogou também no que pareceu um excesso de confiança em versões conspiratórias disseminadas para proteger os golpistas, além da certeza de que seu eleitorado estaria permeável a elas.

De fato, os bolsonaristas conseguiram amplificar o barulho quando foram divulgadas, em abril, imagens da invasão ao Palácio do Planalto que mostravam o então ministro Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional) dentro do prédio durante os ataques.

A gravação foi instrumentalizada como uma suposta evidência de que o governo havia orquestrado os ataques, num conluio com os invasores. A teoria não colou dentro do Congresso, mas a agitação foi suficiente para garantir que a CPI fosse instalada.

Animada, a oposição dobrou a aposta numa tentativa mirabolante de reescrever os acontecimentos. Vendeu a ideia de que os atos violentos eram obra de infiltrados de esquerda, insistiu na suspeita de que Lula tinha interesse nos ataques e argumentou que os bolsonaristas presos eram bodes expiatórios.

A única brecha obtida pela oposição foram as acusações de omissão de forças de segurança federais que, no dia 8, estavam sob a batuta do governo Lula. A maioria alinhada ao Planalto, no entanto, blindou o petista e direcionou a responsabilidade a agentes remanescentes da gestão Bolsonaro.

Sem sucesso, a direita bolsonarista tentou tumultuar a CPI. No encerramento dos trabalhos, o deputado Abilio Brunini (PL-MT) disse que sua função era "tirar a tranquilidade" dos governistas. O senador Jorge Seif (PL-SC) usou a carta do aborto para chamar aliados do governo de "pastores do capiroto".

A CPI levantou poucos fatos novos e fez a maior parte do trabalho com base em provas colhidas anteriormente pela Polícia Federal. Essa poderia ser uma boa notícia para a oposição, mas se tornou um indicativo dos riscos que cercam Bolsonaro e aliados graúdos.

Aquele, afinal, é o mesmo material que deve embasar a sequência das investigações, uma eventual denúncia da Procuradoria-Geral da República e um julgamento no Supremo Tribunal Federal dos responsáveis pela incitação dos ataques.

Dois dos mais longevos políticos de SP, Suplicy e Barros Munhoz São homenageados pela Alesp, Alesp

 17/10/2023 16:57 | Sessão Solene | Claus Oliveira - Foto: Rodrigo Costa e Rodrigo Romeo

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Suplicy e Barros Munhoz São homenageados Clique para ver a imagem
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Os deputados estaduais Eduardo Suplicy (PT) e Barros Munhoz (PSDB) - 82 e 78 anos de idade, respectivamente - foram condecorados nesta segunda-feira (16) com o Colar de Honra ao Mérito Legislativo, maior honraria da Alesp. A solenidade reuniu políticos de vários partidos e familiares dos dois homenageados.

Com 44 anos de vida pública, Suplicy recebeu a homenagem por iniciativa de Munhoz. Já o deputado do PSDB, com 48 anos de estrada na política, foi surpreendido pelo presidente da Alesp, André do Prado, ao saber que também receberia a homenagem.

"Duas personalidades que prestam relevantes serviços para nossa sociedade. Todos reconhecem [isso]" frisou André do Prado. "Muito obrigado por vocês fazerem parte deste estado, deste país, e pelo legado que deixarão", complementou o chefe do Legislativo Paulista.

Líderes partidários, Paulo Fiorilo (PT) e Vinícius Camarinha (PSDB), exaltaram qualidades políticas de Suplicy e Munhoz. "Um político vocacionado que cuida do jardim de todo mundo", disse Fiorilo ao colega de legenda. "Dois gigantes que servem de inspiração para nós", enfatizou Camarinha sobre a dupla.

Já os filhos dos homenageados endossaram características pessoais dos pais políticos. André Suplicy ressaltou a "garra e força de vontade na luta pela redução da pobreza e da desigualdade social". Por seu lado, Luis Henrique Munhoz sublinhou a dedicação integral à causa pública, "buscando melhorar a vida das pessoas".

Renda básica

Na entrega do Colar do Mérito Legislativo, Eduardo Suplicy renovou o compromisso pela universalização da renda básica de cidadania. Principal bandeira do parlamentar paulista, essa política pública foi instituída no Brasil através da Lei 10.835/04, quando Suplicy era senador da República por São Paulo.

Agora, Suplicy defende o processo gradual e progressivo para que o benefício chegue a todos os brasileiros, sem condicionantes de renda, como ocorre com o Bolsa Família - programa inspirado na Lei de Suplicy. "Com isso, eliminamos qualquer sentimento de vergonha, estigma e toda burocracia em se ter que saber quanto cada um ganha", relatou.

Surpresa

Surpreso com a homenagem a si, Barros Munhoz recordou uma das frases mais usadas por ele na Alesp, onde exerce o sétimo mandato. "Sinto-me gratificado. Valeu a pena a caminhada e vai continuar valendo, porque a política é a mais sórdida das profissões, mas é a mais nobre das artes", finalizou.

Fizeram parte da solenidade, o secretário estadual de Governo, Gilberto Kassab, e o defensor público-geral de São Paulo, Florisvaldo Fiorentino Júnior. Na mesa da sessão solene, a deputada estadual Marina Helou (Rede) representou os quase 50 deputados que subscreverem a homenagem a Eduardo Suplicy.

Yara vai usar biometano da Raízen para produzir amônia verde. Nova Cana

 A fabricante de fertilizantes Yara vai trocar o gás natural de origem fóssil por biometano em sua planta de Cubatão (SP), onde fabrica amônia, que passa a ser “amônia verde” ou “amônia de baixo carbono”.

O processo começa com 3% do total consumido e mira em 2030 para atingir 100%. A etapa de troca começa no primeiro semestre de 2024, mas a Yara ainda não fala de expectativas de impactos financeiros.

A Yara é um dos maiores consumidores de gás natural no estado de São Paulo e o insumo responde por 80% do custo variável na produção da amônia. “Por ora, a troca atende ao propósito de descarbonização e não se refletirá em redução dos custos”, diz o vice-presidente de soluções industriais, Daniel Hubner.

Tampouco a companhia divulga projeções sobre o quanto os clientes estão dispostos a pagar por um produto que contribui para a descarbonização da cadeia. “A grande discussão é se haverá prêmio na amônia verde”, diz Hubner. “O mercado ainda está engatinhando. Ainda não se sabe quanto vai valer o fertilizante de baixo carbono”.

Com o biometano, a companhia estima que vai cortar 80% da emissão de gases de efeito estufa da unidade de Cubatão. O biometano será produzido pela Raízen e distribuído pela Comgás.

A amônia é matéria-prima para fertilizantes nitrogenados e serve como combustível para trens e caminhões. É usada também como elemento de explosivos para mineração. Na fabricação da amônia, o gás é usado como combustível e como matéria-prima.

Inicialmente, a Yara vai comprar 20 mil metros cúbicos de biometano por dia, cerca de 3% dos 700 mil consumidos por dia. Com o insumo, produzirá 15 toneladas de amônia verde por dia, o equivalente a 2,5% da produção atual.

Nova planta

A Yara usará biometano produzido a partir da vinhaça e da torta de filtro, subprodutos da fabricação de etanol, abundante no interior de São Paulo graças às grandes plantações de cana-de-açúcar. A fábrica da Raízen, localizada em Piracicaba (SP), está em fase final de conclusão. A parceria foi decidida há dois anos. O valor dos contratos com a Raízen e a Comgás não foi revelado.

Na fábrica de Cubatão, o biometano terá suas moléculas divididas em metano, gás carbônico e impurezas. Do metano, separa-se o hidrogênio, que, combinado com nitrogênio, forma a amônia. O gás carbônico é capturado e fornecido para indústrias de alimentos e bebidas, como cerveja e refrigerantes. Também serve para a produção de gelo seco.

A Yara informa que reduziu em quase 45% as emissões globais de gases de efeito estufa, desde 2005, com melhorias no processo produtivo e eficiência energética. Agora, busca outras formas de descarbonizar as atividades.

A empresa também chama de amônia verde o produto que se apoia em energia eólica, solar e hídrica, na Noruega e na Austrália. No primeiro semestre deste ano, anunciou a construção de dois projetos para produzir amônia azul nos EUA – a denominação indica que o gás carbônico gerado no processo é enterrado. Ou seja, usa combustível fóssil, mas não envia emissões para a atmosfera.