quarta-feira, 3 de maio de 2023

Governo de SP oferece reajustes de 13% a 34% para policiais; veja valor de cada cargo, FSP

 Por Arthur Stabile, g1 SP

 


Policial militar durante ocorrência de Trânsito — Foto: Divulgação/SSP

Policial militar durante ocorrência de Trânsito — Foto: Divulgação/SSP

O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) entregou à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) proposta de reajuste salarial para os policiais civis e militares do estado. Os valores variam de 13% a 34% de acordo com o cargo ocupado pelo agente de segurança pública.

Conforme apurado pelo g1, os 2º tenentes da Polícia Militar terão o menor reajuste, de 13,71% em seus salários - que passarão de R$ 7.577,12 para R$ 8.615,94. Já os alunos de praça da PM terão o maior aumento, de 34,24%: salários passam de R$ 3.029,36 para R$ 4.066,54.

Pela proposta, mais de 150 mil agentes serão beneficiados, entre polícias Civil, Militar, Técnico-Científica e Corpo de Bombeiros, aposentados e pensionistas.

Policiais são a primeira categoria beneficiada com aumento salarial por Tarcísio de Freitas, que prometeu enviar até o fim do mês à Assembleia projetos de reajustes para os demais servidores públicos do estado.

Veja o valor do reajuste por categoria:

Valor de aumento salarial proposto por cargo

CargoCorporaçãoReajuste
Comandante-geralPolícia Militar24,45%
CoronelPolícia Militar20,52%
Tenente-CoronelPolícia Militar22,85%
MajorPolícia Militar26,01%
CapitãoPolícia Militar28,79%
1º TenentePolícia Militar28,87%
2º TenentePolícia Militar13,71%
Aspirante a oficialPolícia Militar15,24%
SubtenentePolícia Militar30,85%
1º SargentoPolícia Militar23,62%
2º SargentoPolícia Militar21,07%
3º SargentoPolícia Militar15,18%
CaboPolícia Militar20,57%
Soldado 1ª classePolícia Militar22,70%
Soldado 2ª classePolícia Militar31,62%
Aluno oficialPolícia Militar34,24%
Delegado-geralPolícia Civil18,33%
Delegado classe especialPolícia Civil14,27%
Delegado 1ª classePolícia Civil17,03%
Delegado 2ª classePolícia Civil18,92%
Delegado 3ª classePolícia Civil20,70%
Escrivão de polícia classe especialPolícia Civil16,78%
Escrivão de polícia 1ª classePolícia Civil17,17%
Escrivão de polícia 2ª classePolícia Civil20,82%
Escrivão de polícia 3ª classePolícia Civil24,64%
Investigador de polícia classe especialPolícia Civil16,78%
Investigador de polícia 1ª classePolícia Civil17,17%
Investigador de polícia 2ª classePolícia Civil20,82%
Investigador de polícia 3ª classePolícia Civil24,64%
SuperintendentePolícia Científica18,29%
Médico legista de classe especialPolícia Científica17,41%
Médico legista de 1ª classePolícia Científica20,28%
Médico legista de 2ª classePolícia Científica22,24%
Médico legista de 3ª classePolícia Científica24,09%
Perito criminal de classe especialPolícia Científica17,41%
Perito criminal de 1ª classePolícia Científica20,28%
Perito criminal de 2ª classePolícia Científica22,24%
Perito criminal de 3ª classePolícia Científica24,09%
Fotógrafo técnico-pericial de classe especialPolícia Científica16,61%
Fotógrafo técnico-pericial de 1ª classePolícia Científica19,09%
Fotógrafo técnico-pericial de 2ª classePolícia Científica20,71%
Fotógrafo técnico-pericial de 3ª classePolícia Científica22,19%
Auxiliar de necropsia de classe especialPolícia Científica16,61%
Auxiliar de necropsia de 1ª classePolícia Científica19,09%
Auxiliar de necropsia de 2ª classePolícia Científica20,71%
Auxiliar de necropsia de 3ª classePolícia Científica22,19%
Desenhista de classe especialPolícia Científica16,61%
Desenhista de 1ª classePolícia Científica19,09%
Desenhista de 2ª classePolícia Científica20,71%
Desenhista de 3ª classePolícia Científica22,19%
Papiloscopista de classe especialPolícia Científica16,61%
Papiloscopista de 1ª classePolícia Científica19,09%
Papiloscopista de 2ª classePolícia Científica20,71%
Papiloscopista de 3ª classePolícia Científica22,19%
Atendente de necrotério classe especialPolícia Científica21,44%
Atendente de necrotério 1ª classePolícia Científica22,80%
Atendente de necrotério 2ª classePolícia Científica22,99%
Atendente de necrotério 3ª classePolícia Científica22,94%
Auxiliar papiloscopista de classe especialPolícia Científica21,44%
Auxiliar papiloscopista de 1ª classePolícia Científica22,80%
Auxiliar papiloscopista de 2ª classePolícia Científica22,99%
Auxiliar papiloscopista de 3ª classePolícia Científica22,94%

A proposta agora passa por aprovação dentro da Assembleia: senão três sessões ordinárias entre os deputados estaduais antes de análises nas comissões específicas da área. Só depois o texto será aprovado na íntegra, sofrerá alterações ou será rejeitado.

Se aprovado, o impacto vai ser R$ 2,5 bilhões no orçamento estadual em 2023 e de R$ 5 bilhões nos demais anos.

Tarcísio propõe reajuste maior a militares e irrita policiais civis, Mariana Carneiro , OESP

 A proposta de valorização salarial dos policiais entregue pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à Alesp nesta terça-feira (2) acirrou a disputa entre as categorias da Segurança Pública. Com elevação média de 20,2% dos vencimentos, o texto garante reajustes maiores aos agentes militares em detrimento dos civis. Neste último grupo, o maior aumento foi o de 24,64%, concedido aos peritos criminais, escrivães e investigadores de terceira classe. Já para os militares, a elevação vai chegar a, no máximo, 30,85%, no caso dos subtenentes, e 31,62%, no caso dos soldados de segunda classe.

O Governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), durante entrevista realizada na tarde desta quinta-feira (09) no Palácio do Planalto, em Brasília-DF.
O Governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), durante entrevista realizada na tarde desta quinta-feira (09) no Palácio do Planalto, em Brasília-DF. Foto: Wilton Junior/Estadão

A redução da diferença salarial é uma demanda antiga da Polícia Militar, categoria a que pertence o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite. “O reajuste mais alto para alguns postos da PM trouxe justiça”, diz o deputado estadual capitão Telhada (PP-SP), egresso da corporação.

Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp), que representa os policiais civis, Jacqueline Valadares se queixa da falta de abertura dada à entidade para participar da elaboração da proposta. “Em nenhum momento fomos convidados para colaborar com o debate. Pelo contrário, precisamos ir atrás do governo para pontuar os principais problemas. Foi decepcionante”, diz. A categoria teve elevação de 20% em seu salário inicial, mas pleiteava 30%.

Para Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a diferença dos reajustes será lida pelos policiais civis como favoritismo à Polícia Militar. “Todos os cargos de direção estão na mão da PM. Passa a mensagem de que o governo só tem olhos para a PM. Isso aprofunda o sentimento de desvalorização da Polícia Civil e reduz a motivação.” Ele lembra ainda que, para a maior parte das carreiras, não haverá recomposição das perdas inflacionárias ocorridas desde 2014, estimadas em cerca de 30% pelo próprio governo.

Ex-prefeito nos EUA morre como sem-teto em sua própria cidade, FSP NYT

 Mike Baker

BEND (OREGON) | THE NEW YORK TIMES

Craig Coyner, membro de uma das famílias mais proeminentes de Bend, no estado de Oregon, costa oeste dos Estados Unidos, teve uma carreira elogiada como promotor, advogado de defesa e depois prefeito. Como chefe do Executivo, ajudou a colocar a cidade na lista das que mais cresciam no país.

Mas, aos 75 anos, estava em uma cama num abrigo na Second Street. Havia perdido sua casa para uma dívida hipotecária e tinha os dedos dos pés corroídos por congelamento e pertences limitados a uma banheira de roupas esfarrapadas e livros.

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Centro de Bend, em Oregon; cidade se transformou à medida que sua população aumentou nas últimas décadas - Joe Kline - 21.mar.23/NYT

Coyner foi puxado pelo redemoinho de problemas que atingiu muitas cidades prósperas do oeste: doença mental não tratada, vício generalizado, custos crescentes de moradia e um senso de comunidade cada vez menor. Depois de uma vida como pilar do civismo em Bend, Coyner chegou a um ponto de miséria quase total, cercado pela prosperidade que ajudou a criar.

Outrora uma pequena cidade madeireira, Bend passou por uma transformação impressionante nas últimas décadas, quando pessoas endinheiradas descobriram o local. Os custos, porém, sobrecarregaram os orçamentos das enfermeiras, professores e policiais de Bend, e a falta de moradia disparou na cidade de 100 mil habitantes, assim como nas cidades maiores da costa oeste. O abrigo onde Coyner finalmente encontrou refúgio estava lotado há meses.

O ex-prefeito nasceu em uma família comprometida com o dever cívico.

No início do século 20, seu bisavô era prefeito de Bend, no centro do Oregon, onde madeireiras estavam explorando florestas. Em pouco tempo, uma comunidade conhecida como um lugar para vadear o rio se tornou uma escala importante numa rede ferroviária crescente. Algumas das maiores usinas de pinho do mundo processavam toras tão grandes que algumas precisavam primeiro ser divididas com a ajuda de uma dinamite.

Em meados da década de 1970, depois de ser convocado para o serviço nos fuzileiros navais, casar-se com sua namorada da faculdade e se formar em direito em Portland, Coyner voltou para Bend, seguindo seu pai numa carreira como advogado e se estabelecendo numa modesta casa térrea, comprada por US$ 25.500.

O casal teve duas filhas, mas se separou alguns anos depois. Em 1981, Coyner ingressou na Câmara Municipal. Ele se casou com Patty Davis, que trabalhava vendendo anúncios de rádio na cidade e, como sua ex-mulher também se casou novamente, ele parou de se relacionar com as filhas.

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Catherine Emick exibe algumas das poucas fotografias que ela tem com o pai, Craig Coyner, na casa dela em Bend, Oregon - Joe Kline - 14.mar.23/NYT

Em 1984, tornou-se prefeito.

Foi uma época de agitação na cidade: a recessão global destruiu a indústria madeireira, enquanto moradores temiam que a comunidade estivesse se tornando uma cidade fantasma e pessoas sem-teto se reuniam ao longo da ferrovia que ajudou a estabelecer Bend como a capital madeireira. Coyner trabalhou para arrecadar fundos para eles, às vezes indo pessoalmente até os trilhos para distribuir roupas doadas e lanches de US$ 0,19. Suas conexões ajudaram as pessoas a encontrar lugares baratos para morar, numa época em que quartos podiam ser alugados por apenas US$ 75 ao mês.

Coyner viu nisso um momento de transição da economia de Bend, que passaria a aproveitar de novas maneiras a beleza natural ao redor, recebendo visitantes que desejavam esquiar, fazer trilhas, acampar e andar de bicicleta. Ele e outros vereadores começaram a traçar planos para expandir o sistema de esgoto e melhorar a capacidade das estradas.

Algumas pessoas desconfiavam de mudanças tão rápidas e, em 1992, Coyner foi destituído da Câmara Municipal por rivais que buscavam conter o crescimento. Não funcionou: na década seguinte, a população do condado cresceu mais rápido do que em qualquer outro lugar do estado.

Coyner voltou a trabalhar como advogado de defesa e regularmente lembrava aos colegas mais jovens a importância de continuar lutando pelos menos afortunados. Ele sempre foi um advogado gentil e inteligente, que se dava bem com juízes e clientes, disse Tom Crabtree, chefe de gabinete do então defensor público. Nos últimos anos, porém, Crabtree observou como a natureza amável de Coyner começou a se tornar cáustica.

Certo dia, quando um juiz o retirou de um caso, a explosão surpreendente do advogado no tribunal levou Crabtree a decidir que era hora de demitir Coyner, que reagiu com uma ameaça de morte, segundo ele.

O problema na verdade era um transtorno bipolar inicial, disse Coyner, agravado pela bebida alcoólica.

No dia seguinte ao Dia de Ação de Graças de 2003, alguns anos depois de perder o emprego, Coyner foi preso, acusado de danificar o carro de uma mulher e resistir à ordem de um policial. A associação de advogados estadual suspendeu sua licença em resposta a reclamações de que ele negligenciava os deveres com seus clientes.

Então, em 2008, veio o pior golpe de todos: sua mulher, Patty, morreu após uma doença. Outras pessoas já haviam se afastado –não apenas suas filhas, mas também sua irmã, que começou a se distanciar quando telefonemas bêbados durante a madrugada se tornaram abusivos.

Dois encontros com a polícia o levaram a ser brevemente internado em tratamento psiquiátrico, e ele lutou para pôr sua vida de volta nos trilhos —conseguiu, algum tempo depois, encontrar uma conexão com uma nova amiga, Cheraphina Edwards, que foi morar com Coyner para servir como cuidadora. Mas ele estava atrasado com a hipoteca e sem emprego, e então o banco iniciou um processo de execução hipotecária em 2012.

O advogado havia trabalhado em anos anteriores para ajudar outras pessoas que enfrentavam a execução de hipotecas e resistiu veementemente a seu próprio destino. Ainda assim, em 2017, a polícia estava avaliando despejá-lo.

Coyner e Edwards encontraram poucas opções de vida quando finalmente foram despejados. Os aluguéis haviam subido 40% em cinco anos. Muitas pessoas que viveram na cidade a vida inteira não podiam mais morar lá.

Por um tempo, eles dormiram no sofá de um amigo. Passaram outras noites dormindo num caminhão, estacionado na mata ao lado de um campo de golfe. Mais tarde, ouviram falar de uma cabana abandonada na comunidade vizinha de La Pine, e foram até lá para descobrir que mais parecia um depósito. As coisas não estavam indo muito bem entre os dois quando, na primavera de 2022, ele saiu da cabana e voltou a andar sozinho.

A essa altura, a pandemia de coronavírus havia aumentado a conscientização sobre a atraente vida de cidade pequena que Bend oferecia, e trabalhadores remotos com salários lucrativos estavam comprando terrenos. O preço médio das casas saltou para quase US$ 800 mil, com imóveis muitas vezes comprados à vista.

Coyner então passou a acampar numa barraca ao longo da Parkway, estrada que ajudou a construir para preparar Bend para o crescimento que os líderes da cidade previam. Às vezes, ele se estabelecia na propriedade de um grupo que atendia idosos sem-teto –organização da qual já havia sido membro do conselho. Em outros momentos, se aventurava perto de Coyner Trail, uma trilha para caminhada que leva o nome de sua família por causa de tudo o que fizeram pela cidade.

No outono passado, enquanto as temperaturas noturnas caíam abaixo de zero, Frankie Smalley, um amigo sem-teto, caminhou pela cidade para localizar Coyner e se deparou com uma barraca amarela perto de um Walmart. "Ei, Craig, você está aí?", ele gritou.

Ouviu uma voz lá dentro e puxou a aba da barraca. Lá dentro, os sapatos de Coyner estavam encharcados, e seus pés tão queimados pelo gelo que ele mancou de dor quando tentou se levantar. Quando se recusou a ir para um abrigo, Smalley contatou Edwards e ela chamou a polícia para pedir ajuda.

No hospital, foi tratado por congelamento, mas logo recebeu alta para o novo abrigo de baixo custo da cidade. O acidente danificou tanto os dedos dos pés de Coyner que ele teve que voltar ao hospital no final de janeiro para uma amputação, que teve complicações. Após a cirurgia, ele sofreu um derrame que o deixou incapaz de falar.

Dias depois, em 14 de fevereiro, Coyner morreu.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves