segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Verticalização da Rebouças, em São Paulo, desperta risco de imóveis vazios, FSP

 

SÃO PAULO

A paisagem da avenida Rebouças, na zona oeste de São Paulo, está em plena transformação com casas demolidas e torres com escritórios e apartamentos de alto padrão sendo erguidas. Mas essa tendência preocupa urbanistas. Na concepção do Plano Diretor, a intenção era tornar esse espaço mais acessível à população de média e baixa renda.

Conectando as avenidas Paulista e Faria Lima, a via atravessa uma das regiões mais ricas da cidade. De um lado estão quarteirões ocupados pelas casas de alto padrão do Jardim Paulistano. Do outro está Pinheiros, que concentra escritórios de grandes empresas e um dos circuitos de bares e restaurantes mais procurados da capital.

Hoje, um conjunto de quarteirões delimitado pela Rebouças e pelas ruas Teodoro Sampaio, Francisco Leitão e Cunha Gago reúne a maior quantidade de obras. Só nas áreas mais próximas à avenida a reportagem contou na última segunda-feira (2) ao menos 24 novos empreendimentos, entre aqueles praticamente completos, em construção ou terrenos com placas indicando a chegada de futuros edifícios.

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Obra na avenida Rebouças, na zona oeste de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Alguns escritórios em oferta chegam a mil m², e apartamentos, a mais de 160 m². Para especialistas, porém, há um risco de que boa parte desses imóveis fique vazia nos próximos anos —em uma cidade cujo déficit habitacional é estimado em 369 mil domicílios.

Nessa área, a verticalização foi incentivada pela prefeitura por causa da proximidade das estações de metrô –Oscar Freire e Fradique Coutinho da linha 4-amarela– e da existência de um corredor de ônibus na avenida. A intenção ao criar um zoneamento diferenciado era aproximar emprego e moradia e desestimular o uso do carro.

O conjunto de quarteirões em obras faz parte de um Eixo de Estruturação da Transformação Urbana, nome dado às áreas em que a gestão municipal pretende estimular o adensamento. O Plano Diretor, que é o conjunto de regras que organizam o crescimento da cidade, estipulou que essas áreas deveriam ter uma mistura de comércio, serviços e moradias destinadas a pessoas que usam prioritariamente o transporte público no dia a dia.

Quando as construtoras incluem unidades de HIS (habitação de interesse social) ou HMP (habitação de mercado popular) em seus empreendimentos, recebem o direito de construir ainda mais unidades. A HIS, mais comum, é destinada a famílias que ganham até seis salários mínimos (R$ 7.812) e o valor do imóvel para financiamento não pode passar de R$ 264 mil.

"O plano era trazer uma população que mora mais distante para essas áreas mais estruturadas. O que está ocorrendo é um efeito diverso do que se pretendia", diz a diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, Angélica Benatti Alvim. "A cidade está se verticalizando e se transformando, mas [com o crescimento voltado] para empreendimentos de alta e média renda. Já tem bastante oferta. Será que temos tanta demanda? Quem está comprando são os investidores."

A hipótese para a provável ociosidade, segundo urbanistas, é que a maior parte desses imóveis em construção na Rebouças não foi adquirida com a intenção de moradia, e sim por investidores.

Junto com empreendimentos de luxo, há uma minoria de unidades de HIS, segundo o vice-presidente de assuntos legislativos e urbanismo do Secovi-SP (Sindicato da Habitação), Ricardo Yazbek.

A tendência do mercado, segundo especialistas, é que elas sejam repassadas a um público com maior poder aquisitivo, sirvam como aluguel de curta temporada por meio de aplicativos ou fiquem vazias.

No ano passado, a Folha mostrou que a Prefeitura de São Paulo não fiscaliza qual é o destino de apartamentos quando concede benefícios para construtoras que oferecem imóveis populares em seus empreendimentos.

"O que foi produzido, e para quem, nesse lugar? Essa pergunta é fundamental. Atraiu moradia popular para os usuários de transporte coletivo? A resposta é não", afirma a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, professora da FAU-USP. "Do ponto de vista da cidade e dos objetivos urbanísticos, é inútil. E pior, é cruel, pois ainda existem pessoas precisando de moradia na cidade."

Rolnik diz que, apesar de o plano original para essas áreas diminuir o incentivo para construção de garagens em prédios residenciais e de uso misto, a prefeitura teria permitido "gambiarras": compensações que, na prática, garantiram vagas em garagens para as unidades mais caras. Seria outra distorção da lei, pois atrai carros para uma área onde esse modal deveria ser desestimulado.

Ricardo Yazbek, do Secovi-SP, diz acreditar que apartamentos e escritórios no local não ficarão ociosos. Para ele, o que garantirá a ocupação contínua desses imóveis é a atividade econômica movida a shows, eventos, turismo de negócios, congressos e a atração do setor de saúde a pacientes de outras regiões do Brasil.

Para ele, é natural haver uma minoria de HIS e HMP por ali, uma vez que se trata de uma das regiões com metro quadrado mais caro da cidade.

"Nessa região da Faria Lima, Jardins, Pinheiros, há bairros excelentes em que normalmente o custo do solo é caro", ele diz. Os apartamentos menores, de até 25 m², "mesmo que não custem tão barato por metro quadrado [R$ 15 mil a R$ 20 mil], ficam mais acessíveis à classe média ou média baixa".

As torres sendo construídas no lado par da Rebouças, em Pinheiros, contrastam com a calçada oposta. Ali, casarões do Jardim Paulistano estão abandonados e cercados por tapumes, com placas anunciando aluguel e venda dos imóveis.

É proibido construir prédios no lado ímpar da avenida devido ao zoneamento, que separa esse setor dos Jardins apenas de casas —inclusive com tombamento de parte do bairro devido ao valor histórico do bairro, planejado na década de 1910 pela Companhia City.

Com a multiplicação das torres a poucos metros de distância, tem aumentado um antigo interesse do setor imobiliário para que se libere a construção de prédios nos dois lados da Rebouças.

Segundo a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras), o investimento na Rebouças está obedecendo a orientação do Plano Diretor e também a demanda de consumidores. "As regiões que estão se desenvolvendo são aquelas que possuem demanda da população e leis que permitem seu crescimento. A Rebouças é uma dessas", disse a Abrainc.

REVISÃO

Questionada, a Prefeitura de São Paulo disse, por meio da Smul (Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento), que tem feito um "amplo e transparente diálogo com a população" sobre o Plano Diretor nas etapas da revisão obrigatória da lei. O prazo de entrega da revisão está marcado para o fim de março, após ser adiado três vezes.

A gestão municipal afirmou que um diagnóstico sobre o plano identificou que o licenciamento de unidades de HIS cresceu na cidade como um todo, o que inclui os Eixos de Estruturação da Transformação Urbana. Esse diagnóstico também apontou "uma distribuição heterogênea entre as macroáreas da cidade", disse a secretaria.

A secretaria também destacou o número de unidades de moradia popular entregues. "Em 2021, foram 154.573 unidades aprovadas, o maior número desde 2013 e mais do que todas as unidades aprovadas entre 2013 e 2016. Em 2022, foram 103.753 até outubro."

Sobre a destinação de moradia popular para outros públicos, a gestão Ricardo Nunes (MDB) disse, em outubro, que o proprietário ou possuidor do empreendimento apresenta declaração se responsabilizando expressamente pela correta destinação das unidades de habitação de interesse social e de mercado popular. Essa regra está prevista no Decreto nº 59.855, disse a gestão municipal à época.

Presidente do Congresso fala em 44 presos e agradece Polícia Legislativa, FSP

 

BRASÍLIA

presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou nesta segunda (9) que 44 pessoas foram presas em flagrante neste domingo (8) pela Polícia Legislativa, e estão sendo levadas ao complexo penitenciário do Distrito Federal. O grupo dormiu no Senado.

Os vândalos, segundo ele, estavam com machadinhas, facões, porretes e estilingues com esferas de aço. Rodrigo Pacheco agradeceu aos policiais legislativos, que são responsáveis pela segurança do Congresso Nacional —e subordinados ao Parlamento.

Local onde bolsonaristas estão detidos no Senado
Local onde bolsonaristas estão detidos no Senado - Ranier Bragon/Folhapress


"Registro aqui o trabalho das polícias legislativas, órgãos responsáveis pela segurança do Congresso Nacional, que realizaram 44 prisões em flagrante de criminosos que protagonizaram atos antidemocráticos e cenas de selvageria em Brasília", afirmou.


"Todos os detidos foram encaminhados para o complexo penitenciário da Papuda, no Distrito Federal. Com eles, os policiais encontraram machadinhas, facões, porretes e estilingues com esferas de aço usados para atacar os policiais", completou o presidente do Congresso pelas redes sociais.


Líderes avaliam que o trabalho da Polícia Legislativa foi fundamental para conter os estragos no prédio e impedir que o grupo chegasse aos gabinetes dos senadores. Segundo a direção do Senado, a informação preliminar é de que apenas o gabinete do senador José Serra (PSDB-SP) foi danificado.

Servidora do Museu da Câmara dos Deputados mostra pedaço de presente enviado ao Congresso brasileiro pelo Sudão. Ovo ficava na galeria de presentes, no Salão Verde. Partes da peça foram encontradas no Salão Azul - Thaísa Oliveira/Folhapress


No Senado, os golpistas deixaram um rastro de destruição pelo plenário e pelo Salão Azul. A porta principal do plenário, de vidro, foi estilhaçada. Janelas foram quebradas e vidros espelhados também foram destruídos. O grupo também vandalizou as bandeiras das unidades da federação que ficavam expostas.


O prédio foi liberado para a entrada da imprensa na manhã desta segunda após perícia da PF (Polícia Federal). O local passou por varreduras desde a saída dos vândalos, mas a reportagem testemunhou o momento em que policiais pediram para que as pessoas avisem caso encontrem alguma granada no local.


Lula, a oposição e a sabedoria, Marcelo Godoy, OESP

 Quando o socialista Sandro Pertini foi eleito presidente da Itália, em 1978, o jornalista Indro Montanelli desejou ao ex-partigiano que se tornaria o mais popular chefe de Estado italiano do pós-guerra: “Tenha a coragem de fazer as coisas que devem e podem ser feitas; a humildade de renunciar àquelas que devem, mas não podem e às que podem, mas não devem ser realizadas. E sabedoria para distinguir uma das outras”.

Retomava, assim, a famosa oração do teólogo protestante Reinhold Niebuhr, que foi lembrada por aqui pelo economista Roberto Campos, no último discurso que fez na Câmara, em 1999, quando se despedia do Parlamento, após 16 anos de mandatos consecutivos. Campos deixou aos colegas congressistas esses mesmos votos após reconhecer “o fracasso de uma geração em promover o desenvolvimento sustentável do Brasil”.

Mas não é só Lula que precisa organizar um novo consenso. Na oposição há quem procure um De Gaulle para não se entregar a Pétain.
Mas não é só Lula que precisa organizar um novo consenso. Na oposição há quem procure um De Gaulle para não se entregar a Pétain. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Assim como todo governo que se inicia pede aos eleitores paciência para ser julgado pela consequência de seus atos e não pela pressa dos que pretendem lhe fazer oposição, seria interessante que Luiz Inácio Lula da Silva prestasse atenção às palavras de Campos. É que ali está um caminho para sua gestão, desde que o mandatário não caia na tentação de ser um novo Messias, como o que deixou o Brasil para se refugiar nos Estados Unidos. Reconstruir o País não significa reinventá-lo e uni-lo é diferente de impor uma visão de mundo não hegemônica.

Se quiser aproveitar oportunidades em que o consenso entre as forças políticas pode favorecer seu governo e promover o desenvolvimento pretendido por Campos, Lula deve concentrar esforços na reforma tributária, na educação básica e no desbloqueio da pauta ambiental. Há trilhões de dólares em fundos de investimentos no exterior que só financiarão o desenvolvimento no Brasil caso o País abrace a vocação para se tornar uma potência verde. Até o partido Novo apoiaria essas pautas.

Mas não é só Lula que precisa organizar um novo consenso. Na oposição há quem procure um De Gaulle para não se entregar a Pétain. E defende o compromisso com a democracia para isolar os elementos iliberais, conforme disse o general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Trata-se de reconstruir a aduana da respeitabilidade republicana, barrando os extremistas. A defesa da democracia exige a postura de Angela Merkel, quando ordenou a seu partido desfazer o acordo com os liberais que resolveram se aliar aos ultradireitistas do AfD, na Turíngia, em 2020.

Nem é preciso tanta sabedoria para distinguir essas coisas em um País que continua – como disse Campos em seu último discurso – “longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza corrigível”.