terça-feira, 22 de março de 2022

Plano B de Putin na guerra da Ucrânia é inundar UE de refugiados; leia artigo de Thomas Friedman, OESP

NEW YORK TIMES - Após um mês confuso, agora está claro quais estratégias estão sendo jogadas na Ucrânia: estamos observando o plano B de Vladimir Putin versus o plano A de Joe Biden e Volodmir Zelenski. Esperemos que Biden e Zelenski triunfem, porque o plano C de Putin é realmente assustador – e eu nem quero escrever o que temo ser seu plano D.


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Não tenho nenhuma fonte secreta no Kremlin, apenas a experiência de ter visto Putin operar no Oriente Médio por muitos anos. Assim, parece óbvio para mim que Putin, tendo percebido que seu plano A falhou – a expectativa de que o Exército russo marcharia para a Ucrânia, decapitaria sua liderança “nazista” e esperaria que o país caísse pacificamente nos braços da Rússia – mudou para seu plano B.


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O plano B é que o Exército russo atire deliberadamente contra civis ucranianos, prédios de apartamentos, hospitais, empresas e até abrigos antiaéreos – tudo isso aconteceu nas últimas semanas – com o objetivo de encorajar os ucranianos a fugir de suas casas, criando uma crise de refugiados dentro da Ucrânia e, ainda mais importante, dentro das nações vizinhas da Otan.


Bombeiro apaga fogo em prédio atingido pela artilharia russa em Kiev, na Ucrânia

Bombeiro apaga fogo em prédio atingido pela artilharia russa em Kiev, na Ucrânia Foto: Vadim Ghirda/AP

Um mar de refugiados no leste

Putin, suspeito, está pensando que, se não puder ocupar e manter toda a Ucrânia por meios militares e simplesmente impor seus termos de paz, o melhor passo seguinte seria conduzir 5 ou 10 milhões de refugiados ucranianos, principalmente mulheres, crianças e idosos, para a Polônia, Hungria e Europa Ocidental – para criar ônus sociais e econômicos tão intensos que esses Estados da Otan acabarão pressionando Zelenski a concordar com quaisquer termos que Putin exija para parar a guerra.


As análises do Estadão sobre a Guerra na Ucrânia

A cyclist passes by graffitis reading #Glory to Ukraine and "Stop Putler" (Putin+Hitler), are seen near Vienna's Danube Canal on March 7, 2022. (Photo by GEORG HOCHMUTH / APA / AFP) / Austria OUT

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UCRANIA / RUSSIA / GUERRA / INTERNACIONAL / EXCLUSIVO EMBARGADO / 18/03/2022 -RUSSIAN WAR UKRAINE - TRAIN REFUGEES TO POLAND1701.jpg: Após 76 km rodados, o trem para no posto fronteiriço soviético de Mostyska Druhi; incia-se uma corrida por comida, chá e agua, todos fornecidos na estação fruto de doações, mas  número de pessoas supera muito a capacidade de distribuição CREDITO Gustavo Basso / ESTADÃO

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Putin, provavelmente, espera que, embora esse plano envolva cometer crimes de guerra que possam deixar ele e o Estado russo párias permanentes, a necessidade de petróleo, gás e trigo russos – e da ajuda da Rússia para lidar com questões regionais como o iminente acordo nuclear com o Irã – logo forçariam o mundo a voltar a fazer negócios com o “Bad Boy Putin”, como sempre fez no passado.


O plano B de Putin parece estar se desenrolando como planejado. A agência de notícias France-Presse informou de Kiev no domingo: “Mais de 3,3 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde o início da guerra – a crise de refugiados que mais cresce na Europa desde a 2.ª Guerra – a grande maioria mulheres e crianças, segundo a ONU. Outros 6,5 milhões estão deslocados dentro do país.”


A matéria continuou dizendo: “Em uma atualização de inteligência, o Ministério da Defesa do Reino Unido disse que a Ucrânia continua a defender seu espaço aéreo, forçando a Rússia a confiar em armas lançadas de seu próprio espaço aéreo. Assim, a Rússia foi forçada a “mudar sua abordagem e agora está buscando uma estratégia de atrito. Isso envolve o uso indiscriminado de poder de fogo, resultando em aumento de vítimas civis, destruição da infraestrutura e intensificação da crise humanitária.”


Destroços provocados pelos ataques russos a áreas civis em Kiev 

Destroços provocados pelos ataques russos a áreas civis em Kiev  Foto: Heidi Levine/Washington Post

Um empate militar

O plano B de Putin, no entanto, está colidindo com Biden e Zelenski. O plano A de Zelenski, que suspeito estar se saindo ainda melhor do que ele esperava, é lutar contra o Exército russo até um empate, quebrar sua vontade e forçar Putin a concordar com os termos de Zelenski para um acordo de paz – com apenas o mínimo para poupar a imagem do líder do Kremlin. Apesar de todo o derramamento de sangue bárbaro e bombardeios das forças russas, Zelenski está – sabiamente – ainda de olho em uma solução diplomática, sempre pressionando por negociações com Putin enquanto reúne suas forças e seu povo.


O Times informou, no domingo, que “a guerra na Ucrânia chegou a um impasse após mais de três semanas, com a Rússia obtendo apenas ganhos marginais e cada vez mais visando civis, segundo analistas e autoridades dos EUA. “As forças ucranianas derrotaram a campanha russa inicial desta guerra”, disse o Instituto para o Estudo da Guerra, com sede em Washington. “Os russos não têm homens ou equipamento para tomar Kiev, a capital, ou outras grandes cidades como Kharkiv e Odessa”, concluiu o estudo.


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Sanções devastadoras

O plano A de Biden, sobre o qual ele explicitamente alertou Putin antes do início da guerra, em um esforço para impedi-lo, era impor sanções econômicas à Rússia como nunca haviam sido impostas antes pelo Ocidente – com o objetivo de paralisar a economia russa.


A estratégia envolvia enviar armas aos ucranianos para pressionar militarmente a Rússia. Está tendo sucesso, provavelmente, além das expectativas de Biden porque foi amplificada por centenas de empresas estrangeiras que operam na Rússia e também suspendendo suas operações no país – voluntariamente ou por pressão de funcionários.


As fábricas russas agora estão tendo de fechar porque não podem obter do Ocidente microchips e outras matérias-primas de que precisam; as viagens aéreas para e ao redor da Rússia estão sendo reduzidas porque muitos de seus aviões comerciais eram, na verdade, de propriedade de empresas de leasing irlandesas, e a Airbus e a Boeing não prestam serviços aos que a Rússia possui.


Enquanto isso, milhares de jovens trabalhadores de tecnologia russos estão demonstrando ser contra a guerra e simplesmente deixando o país – tudo em apenas um mês após Putin iniciar essa guerra ilegítima.


“Mais da metade dos bens e serviços que chegam à Rússia vêm de 46 ou mais países que aplicaram sanções ou restrições comerciais, com os EUA e a União Europeia liderando o caminho”, informou o Washington Post, citando a empresa de pesquisa econômica Castellum.


A matéria do Post acrescentou: “Em um discurso televisionado, na quinta-feira, um desafiador presidente russo, Vladimir Putin, parecia reconhecer os desafios do país. Ele disse que as sanções generalizadas forçariam difíceis mudanças estruturais profundas em nossa economia, mas prometeu que a Rússia superaria as tentativas de organizar uma blitzkrieg econômica.” Putin acrescentou: “É difícil para nós no momento. Empresas financeiras russas, grandes empresas, pequenos e médios negócios estão enfrentando uma pressão sem precedentes”.


Hospital de Mariupol foi alvo de ataques russos em 9 de março

Hospital de Mariupol foi alvo de ataques russos em 9 de março Foto: Evgeniy Maloletka/AP

Pressão humanitária x pressão econômica

Então, aí está a pergunta do momento: será que a pressão sobre os países da Otan, de todos os refugiados que a máquina de guerra de Putin está criando – mais e mais a cada dia – superará a pressão que está sendo criada em seu Exército estagnado na Ucrânia e em sua economia em casa, cada vez mais a cada dia?


A resposta a essa pergunta deve determinar quando e como essa guerra termina – se com um claro vencedor e perdedor ou, talvez mais provavelmente, com algum tipo de acordo sujo inclinado a favor ou contra Putin.


Digo “talvez” porque Putin pode sentir que não pode tolerar qualquer tipo de empate ou acordo sujo. Ele pode sentir que qualquer coisa além de uma vitória total é uma humilhação que minaria seu controle autoritário do poder. Nesse caso, ele poderia optar por um plano C – que, suponho, envolveria ataques aéreos ou com foguetes contra linhas de suprimentos militares ucranianos do outro lado da fronteira com a Polônia.


A Polônia é membro da Otan e qualquer ataque ao seu território exigiria que todos os outros membros da aliança agissem em defesa da Polônia. Putin pode acreditar que, se puder forçar essa questão, e alguns membros da Otan se recusarem a defender a Polônia, a Otan poderá ser fraturada.



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Planos C e D: as escolhas impensáveis de Putin

Certamente, desencadearia debates acalorados em todos os países da Otan – especialmente nos EUA – sobre se envolver diretamente em uma 3.ª Guerra Mundial com a Rússia. Não importa o que aconteça na Ucrânia, se Putin pudesse fragmentar a Otan, isso seria uma conquista que poderia mascarar todas as suas outras perdas.


Se os planos A, B e C de Putin falharem, porém, temo que ele se torne um animal encurralado e possa optar pelo plano D – lançar armas químicas ou a primeira bomba nuclear desde Nagasaki. Essa é uma frase difícil de escrever, e ainda pior de imaginar. Mas ignorá-la como uma possibilidade seria ingênuo ao extremo. / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES 

Pastores liberam dinheiro no Ministério da Educação em prazo recorde de até 16 dias, OESP

 BRASÍLIA - O gabinete paralelo formado por pastores no Ministério da Educação tem obtido uma taxa de agilidade na liberação de verbas da pasta para municípios fora dos padrões de repasses federais. Desde o começo do ano passado, os religiosos Gilmar Santos e Arilton Moura, que, como revelou o Estadão, controlam a agenda do ministro Milton Ribeiro, intermediaram encontros de prefeitos no MEC que resultaram em pagamentos e empenhos (reserva de valores) de R$ 9,7 milhões dias ou semanas após promoverem as agendas. 

Em um dos casos, uma prefeitura conseguiu o empenho de parte do dinheiro pleiteado apenas 16 dias depois do encontro mediado pelos religiosos. Só em dezembro foram firmados termos de compromisso, uma etapa anterior ao contrato, entre o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e nove prefeituras, de R$ 105 milhões após reuniões com os pastores. 

Especialista em finanças públicas, Eduardo Stranz afirmou que é “difícil” um prefeito conseguir liberar recursos em apenas 16 dias. “Isso é muito difícil. Temos coisas que não são pagas desde 2010, para você ter uma ideia. Conseguir essa liberação tão rápido… tem que ter muita vontade de todo mundo para sentar e conseguir essa liberação do dinheiro”, disse ele, que é consultor da Confederação Nacional de Municípios (CNM). “Isso tudo envolve muita burocracia, muito papel, muita negativa.”

Presidente Jair Bolsonaro esteve com pastor
O presidente Jair Bolsonaro discursa ao lado do ministro Milton Ribeiro, da Educação, e do pastor Gilmar Santos. Foto: Catarina Chaves/MEC - 10/02/2021

Ao menos 48 municípios foram contemplados após encontros com pastores entre os primeiros meses de 2021 até agora, sendo 26 deles com recursos próprios do FNDE – o restante recebeu dinheiro de emendas do orçamento secreto. 

A prefeita Marlene Miranda, de Bom Lugar (MA), teve o pedido de dinheiro atendido em apenas 16 dias, prazo fora dos padrões da distribuição de recursos federais. Em 16 de fevereiro, ela esteve no MEC acompanhada do marido, o ex-prefeito Marcos Miranda, numa agenda intermediada pelos religiosos Gilmar Santos e Arilton Moura. No último dia 4, o FNDE reservou R$ 200 mil para pagamento à prefeitura. O recurso foi destinado para a construção de uma escola de educação infantil, obra estimada pelo município em R$ 5 milhões. Procurada, a prefeita não quis comentar. 

Rapidez

Tal celeridade não é usual na liberação dos recursos. Não é raro que um pagamento caia na rubrica de “restos a pagar” e demore anos para ser quitado. Em 2021, por exemplo, o FNDE quitou um empenho de R$ 198,7 mil destinado à Secretaria de Educação de Pernambuco cuja data original era de novembro de 2012, quase dez anos antes.

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Prefeita de Bom Lugar-MA, Marlene Miranda (PCdoB), conseguiu liberar R$ 5 milhões em 16 dias após pastores intermediarem encontro com ministro Foto: Instagram de Marlene Miranda - 16/2/2022
Dos recursos empenhados, a maior parte (R$ 5,2 milhões) foi para a rubrica orçamentária de “apoio à infraestrutura para a educação básica”, que inclui a construção de creches e escolas. Também foram liberados recursos para a compra de ônibus escolares e para a construção ou reforma de quadras de esportes, além da compra de materiais didáticos.

Outro caso de liberação célere de recursos ocorreu em Centro Novo do Maranhão. Em maio passado, o pastor Gilmar Santos levou o ministro da Educação à cidade de 22 mil habitantes. Noventa e seis dias depois, em 18 de agosto, o ministério empenhou R$ 300 mil para a construção de uma escola infantil. Na ocasião da visita, o pastor deixou claro seu papel no evento: “Estamos levando aos municípios os recursos”.

Advogados dizem que os religiosos podem ter incorrido no crime de usurpação de função pública, punível com até dois anos de prisão, por não terem cargo no ministério, mandato parlamentar ou ligação com o setor de ensino. Em encontros promovidos com os dois pastores, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, já declarou que prefere fazer o contato com os prefeitos sem a intermediação de parlamentares.

Obras

Também em agosto, a cidade de Amapá do Maranhão recebeu o empenho de R$ 300 mil para a construção de uma escola de educação básica. Três meses antes, a prefeita esteve em Brasília para uma visita ao ministro da Educação – novamente, com a presença de Gilmar e Arilton.

No caso de Guatapará (SP), o município conseguiu receber no ano passado R$ 214 mil do FNDE para a compra de ônibus escolares para crianças da zona rural. O pedido estava represado desde junho de 2019, mas foi liberado depois que representantes da cidade estiveram no MEC acompanhados dos pastores em duas ocasiões: em 23 de dezembro de 2020 e em 27 de maio de 2021.

Situação parecida ocorreu em Israelândia (GO). A cidade conseguiu, em 2021, quitar um empenho de R$ 214 mil para a compra de ônibus escolares que estavam inscritos nos chamados “restos a pagar”, o que ocorre quando a verba federal é empenhada, mas não paga. No caso de Israelândia, o empenho original era de dezembro de 2019. A prefeita Adelícia Moura (PSC) esteve no MEC em janeiro passado. Foi incluída na reunião por Arilton. “O rapaz que organizou para ele (Arilton) que me incluiu na lista dessa reunião”, disse ela. Procurada, a prefeita afirmou que a entrega não teve relação com a reunião no ministério.

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Encontro de pastores com o ministro da Educação

As agendas dos pastores incluem reuniões também com Djaci Vieira de Souza, chefe de gabinete de Milton Ribeiro. Em 24 de fevereiro de 2021, Arilton solicitou e foi recebido em audiência levando o prefeito de Tuntum (MA), Fernando Portela (Solidariedade). A agenda do MEC registra a reunião com o tema “obras”. Em dezembro, o município celebrou termos de compromisso de R$ 1,2 milhão e de R$ 279,2 mil, para compra de veículos. Do montante total, R$ 280 mil já foram empenhados.

Lideranças

Gilmar e Arilton se apresentam como presidente e assessor da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, respectivamente. O Estadão revelou que eles participaram de 22 agendas oficiais do MEC, sendo 19 delas com a presença do ministro, do ano passado para cá. 

Procurados, os religiosos admitiram que levam prefeitos ao gabinete de Milton Ribeiro, mas não explicaram por que participam de reuniões onde são discutidas liberações de recursos. Disseram que não pedem contrapartida pelo acesso ao ministro e que fazem isso porque são “homens de Deus”. “Nunca houve (contrapartida)”, disse Gilmar. Arilton alegou que nunca participou de reunião sobre obras, embora conste de agenda do MEC. O ministério não comentou.

Entenda como funciona a atuação: 

Reunião: Na manhã do dia 16 de fevereiro, uma quarta-feira, a prefeita de Bom Lugar, no Maranhão, Marlene Miranda (PCdoB), esteve em Brasília para uma reunião com o ministro da Educação, Milton Ribeiro. O encontro foi intermediado pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.

Demandas: De acordo com o site da prefeitura de Bom Lugar, Marlene Miranda entregou a Milton Ribeiro uma pauta de demandas, como a “construção de novas escolas e novos ônibus escolares”.

Liberação: Apenas 16 dias depois da reunião entre prefeita e ministro, o sistema de pagamentos do governo federal, o Siafi, registrou um empenho de R$ 200 mil para a prefeitura de Bom Lugar. O empenho é uma reserva que o governo federal faz para quitar depois. Segundo a nota de empenho, o dinheiro se destinava ao “apoio à implantação de escolas para educação infantil”.

Recursos: Desde o começo do ano passado, pelo menos 48 prefeitos que participaram de reuniões intermediadas pelos pastores conseguiram a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Entre empenhos e pagamento de débitos antigos, foram R$ 9,7 milhões.

‘Termo de compromisso’: O dinheiro empenhado representa uma pequena parte do valor prometido pelo FNDE aos municípios por meio dos chamados “termos de compromisso”. Em pelo menos nove das 48 cidades, estes “termos” somaram R$ 105 milhões.

Pagamentos: Em Bom Lugar, foram três “termos de compromisso” com o FNDE que somaram quase R$ 20 milhões. Os termos foram assinados entre 22 e 31 de dezembro de 2021. A cidade já tinha recebido outros pagamentos no ano passado, antes mesmo da assinatura dos termos.


Traficantes e usuários de drogas deixam região da Cracolândia e ocupam outras áreas de São Paulo, OESP

 Gonçalo Junior, O Estado de S.Paulo

21 de março de 2022 | 23h10

Traficantes e usuários de drogas deixaram a região conhecida como Cracolândia, na Luz, ao longo deste final de semana e se espalharam por outros pontos do centro da cidade. O local de maior concentração agora é Praça Princesa Isabel, distante menos de um quilômetro.

Moradores e trabalhadores da região relatam que a concentração – o chamado fluxo - no quadrilátero da rua Helvetia, alamedas Dino Bueno e Cleveland e a praça Júlio Prestes já vinha diminuindo nos últimos dias. De acordo com monitoramento da prefeitura, a região recebia um fluxo médio de 527 pessoas por dia. Em fevereiro, o número caiu para 397. 

Cracolândia
Rua Helvetia esquina com alameda Dino Bueno; região conhecida com Cracolândia está praticamente vazia Foto: ALEX SILVA / Estadão

O esvaziamento rápido, no entanto, surpreendeu até os moradores. Nesta segunda-feira, 21, as ruas amanheceram praticamente vazias. Moradores ocuparam a praça, conhecida como Praça do Cachimbo, no final da tarde.

“Tivemos um dia que podemos comemorar. Tivemos a saída dos traficantes da praça neste final de semana e no dia de hoje”, afirmou Alexis Vargas, secretário executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo. “Não dá para dizer que acabou a Cracolândia. Tivemos um final de semana e uma segunda-feira sem a presença de usuários, mas é a vitória de uma batalha. Tem muita guerra pela frente ainda”, afirmou.

Vargas nega que a Cracolândia esteja se transferindo para a Praça Princesa Isabel. Outro local que vem registrando aumento de usuários e traficantes é o túnel de interligação entre as avenidas Paulista e Rebouças. “Um contingente foi para a Praça Princesa Isabel, mas o local não chega a ter 100 pessoas. Alguns traficantes estão tentando se instalar ali, mas estamos monitorando esse e outros pontos, como o túnel que liga a Avenida Paulista com a Rebouças. Não adianta fazer uma lista. Isso é dinâmico. A gente não vai deixar eles se acomodarem em nenhum outro ponto”, promete o secretário.

Nos últimos meses, a Prefeitura e o Governo Estadual vinham intensificando as ações de segurança na região. Desde janeiro de 2019 até o dia 28 de fevereiro, às forças de segurança estaduais informam a apreensão de mais 3,8 toneladas de drogas e 48,3 litros de drogas líquidas na região. No mesmo período, foram apreendidas 18 armas de fogo, 111 facas, 522 munições de diversos calibres, 446 balanças de precisão e mais de R$ 900 mil em notas e moedas.

Entidades de assistência social alertam que o espalhamento dos usuários de substâncias psicoativas pode dificultar o oferecimento de cuidados básicos de saúde e ações de redução de danos do uso de drogas, como oferecimento de anticoncepcionais para as mulheres.

O padre Julio Lancelotti vê com estranheza o esvaziamento. “É um vazio repentino e não se deve a nenhuma intervenção social do Estado ou da Prefeitura. O fluxo foi pulverizado, desde a Praça Princesa Isabel até outros locais do centro. O repentino vazio sugere algum acordo com o tráfico e agentes públicos. Precisamos esclarecer o que está por trás desse repentino e inexplicável vazio”, afirmou o líder da Pastoral do Povo de Rua em São Paulo.

A saída do tráfico ocorre a poucos dias da inauguração do hospital estadual Pérola Byington, na alameda Glete. O governador João Doria (PSDB) esteve no local no último sábado, 19, para anunciar a abertura do processo de escolha para a gestão do hospital.