17 de março de 2022 | 20h08
O presidente Jair Bolsonaro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e outros políticos espalham confusão sobre o que deve ser a função social da Petrobras.
Entendem que a Petrobras precisa subsidiar os preços dos combustíveis. Após o último reajuste, o preço médio da gasolina no País chegou a R$ 7,47, segundo levantamento da ValeCard, realizado em mais de 25 mil estabelecimentos.
Mas, atenção, eles forçam essa barra por uma razão que nada tem de interesse social. Querem ganhar as eleições em cima de preços populistas.
Qual é hoje o interesse maior da Petrobras? É canalizar o máximo de recursos para investimentos em exploração e produção de petróleo.
Depois de 150 anos, a era do petróleo vai chegando ao crepúsculo. A partir de 2045, o consumo de combustíveis fósseis cairá para que sejam substituídos por combustíveis de fonte limpa e renovável. Dentro de pouco mais de 20 anos o petróleo se tornará mico. O que tiver sido produzido, produzido terá sido. O resto dormirá para sempre em berço esplêndido.
Há pressa nessa tarefa, porque entre encontrar um campo economicamente viável e o início de sua produção vai um período de sete a nove anos. Isso significa que, até 2035, há urgência em que se inicie a produção.
Mas isso não é tudo. Hoje o Brasil é autossuficiente em petróleo bruto, mas não em derivados. Cerca de 25% dos combustíveis, especialmente óleo diesel, têm de ser importados, porque não há capacidade de refino suficiente. A prática de preços abaixo da paridade internacional prejudicaria as importações e o mercado interno ficaria sujeito a desabastecimento.
Se a Petrobras se dedicasse ainda mais ao refino, não só estaria contrariando determinação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que pressiona por concorrência no setor, mas estaria desviando recursos da produção – agora atividade prioritária.
Para deixar o refino para outros investidores é preciso que os preços sejam equivalentes aos do mercado externo. Interferência nos preços internos afugentaria os interessados na produção de óleo bruto e no refino.
Ou seja, a principal função social da Petrobras não é praticar preços eleitoreiros de interesse imediato dos maiorais da hora, mas produzir o máximo de petróleo e gás, antes que seja tarde demais, de modo a criar empregos, pagar salários, receitas com royalties e dividendos, que possam ser usados pela União na execução de sua política social.
O presidente Bolsonaro sabe disso e reconheceu há uma semana que preços artificiais produziriam desabastecimento, que é pior que preço alto. Mas seguiu com seu discurso mistificador e meteu na frigideira com óleo fervente a cabeça do presidente da companhia, que ele mesmo indicou, o general Joaquim Silva e Luna.