domingo, 13 de março de 2022

Petrobras registra lucro líquido recorde de R$ 106,668 bilhões em 2021, O Globo

RIO - A Petrobras registrou no ano passado um lucro líquido de R$ 106,668 bilhões (ou US$ 19,875 bilhões). É o maior de sua história e superior ao ganho de R$ 7,10 bilhões (US$ 1,141 bilhão) obtido em 2020.

Especialistas projetavam um lucro em torno de R$ 100 bilhões no ano passado.  A empresa também elevou os dividendos relativos ao exercício de 2021. Agora, vai distribuir R$ 101,4 bilhões, dos quais 28,67% vão para União.

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Segundo analistas, o ganho foi influenciado pelo aumento do preço do petróleo no mercado internacional, corte de custos e aumento da vendas de combustíveis.  Segundo a estatal, o "aumento expressivo" do lucro se deve principalmente à alta de 77% do preço do barril do petróleo em reais, aliado a maiores volumes de venda no mercado interno e melhores margens de derivados.

"Além disso, houve reversão de impairment de R$ 16,9 bilhões (devido à revisão das projeções do preço médio do brent de curto prazo)", disse a estatal.

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Em carta aos acionistas, o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, disse que a empresa "gerou resultados consistentes, mostrando que uma empresa saudável e comprometida com a sociedade é capaz de crescer, investir, gerar empregos, pagar tributos e retornar dinheiro aos seus acionistas, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento do país".

 

Em 2021, a Petrobras vendeu 409 mil barris de gasolina por dia, alta de 19,1%. As vendas de diesel alcançaram 801 mil barris por dia, avanço de 16,7%. A venda de óleo combustível saltou 51% e a de gás natural aumentou 25%, sob impacto de maior uso de usinas termelétricas no país por causa da crise hídrica.

A receita de vendas da estatal ficou em R$ 452,668 bilhões em 2021, alta de 66,4% em relação ao ano anterior.

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- O superlucro da Petrobras reflete o aumento das vendas de derivados no mercado interno e pela pujante elevação dos preços de derivados no mercado interno, os quais acompanhara a política de preços de paridade de importação (PPI) da companhia - disse o pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma dos Santos.

Desafios para 2022

A empresa explicou que a receita líquida cresceu 66% em relação ao ano anterior devido à alta do petróleo e da demanda das vendas no mercado interno. "Destaque também para o aumento nas vendas de gás natural e energia elétrica, tendo em vista o aumento do despacho termelétrico em 2021 e a recuperação da demanda do segmento industrial", destacou. Rafael Chacur, sócio e analista da SFA Investimentos, destacou o aumento no preço do petróleo:

- Um dos fatores principais para puxar a receita da companhia é o avanço no preço do Brent, que permaneceu acima de US$ 80 o barril na maior parte do quarto trimestre de 2021 - disse Chacur.

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A estatal registrou em 2021 uma produção de 2,77 milhões de barris de óleo equivalentes diários. Foi uma queda de 2,2%   em comparação com o ano anterior. 

Apesar do lucro recorde, Chacur lista desafios para a estatal:

- A Petrobras reportou uma produção mais baixa, impactada por paradas de manutenção. Creio que o principal desafio para 2022 seja manter sua estratégia de desinvestimento, tendo em visto a aproximação do cenário eleitoral - afirmou Chacur. 

Alta de 188% na importação de GNL

Em 2021, o custo dos produtos vendidos cresceu 57% refletindo, principalmente, maiores gastos com importações, fruto de maiores volumes de petróleo, derivados e gás natural e de maiores preços de Brent e de GNL (gás em estado líquido).

"Vale destacar o aumento do GNL na composição das compras de gás natural, tendo em vista o aumento de 188% no volume de importações de GNL para atendimento da demanda crescente, associado ao aumento de 226% nos custos de aquisição em reais", disse a estatal. 

Ilan Arbetman , analista de research da Ativa Investimentos, a Petrobras teve um resultado sólido, com forte geração de caixa.

-Número veio em linha com a expectativa, já que a empresa vem focando no pré-sal, que responde por 70% da produção. Hoje, a companhia tem tecnologia para explorar petróleo a baixo custo, o que ajuda em suas margens - disse ele.

A empresa reforçou seu caixa com venda de ativos de US$ 4,8 bilhões em 2021, incluindo a conclusão da venda da RLAM, que representa cerca de 13% da capacidade de refino do Brasil, pelo valor de US$ 1,8 bilhão, e conclusão da oferta das ações da Petrobras Distribuidora no valor de US$ 2,2 bilhões.

Em 31 de dezembro de 2021, a dívida bruta alcançou US$ 58,7 bilhões, 1% inferior a 30 de setembro de 2021, principalmente em função de pré-pagamentos e amortizações de dívidas. No ano de 2021, a redução foi de 22%. 

sábado, 12 de março de 2022

Ex-secretário e homem de confiança de Márcio França são suspeitos de fraude na Saúde, oESP

 Luiz Vassallo e Marcelo Godoy, O Estado de S.Paulo

12 de março de 2022 | 05h00

O Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo investiga o ex-secretário adjunto da Saúde Antônio Rugolo Junior e o advogado Danilo Druzian Otto, responsável pela coordenadoria de gestão de contratos da pasta na gestão Márcio França (abril a dezembro de 2018), pré-candidato ao governo paulista pelo PSB. Eles são suspeitos de fraude em licitação e foram alvo de busca e apreensão em investigação sobre a organização criminosa liderada pelo médico Cleudson Garcia Montali, condenado a 200 anos de prisão por desvios de R$ 500 milhões de unidades de saúde em quatro Estados.

Segundo os investigadores, Otto teria contratado uma Organização Social ligada a Cleudson, a OSS Pacaembu, para gerir o Hospital Geral de Carapicuíba, mesmo após a área técnica da Secretaria de Saúde considerar o plano apresentado por ela insatisfatório por não atender às exigências do edital. Ainda de acordo com a investigação, o esquema agia da seguinte forma: assumia a administração de hospitais e desviava recursos por meio de despesas fictícias ou superfaturadas. Conforme a Promotoria, entre 2017 e 2019, o grupo recebeu repasses públicos de R$1,43 bilhão. Estimou ainda que outros R$ 500 milhões foram repassados em 2020. Parte desses recursos foi efetivamente usada para cobrir despesas existentes no hospitais e outra foi desviada.

O contrato de Carapicuíba envolvia despesas de R$ 10,5 milhões só em 2019. Foi na investigação sobre esse contrato que o Ministério Público requisitou pela primeira vez buscas na casa e no escritório de França, em novembro de 2020, alegando que ele seria integrante do “núcleo político” do esquema de desvios na Saúde. O juiz Renato de Andrade Siqueira, no entanto, negou as buscas contra França, mas autorizou a ação contra Rugolo e Otto. 

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Contratada para gerir Hospital de Carapicuíba, OS não preenchia requisitos do edital, diz investigação. Foto: Prefeitura Carapicuiba-30/11/2018

França é citado por integrantes da organização de Cleudson em diálogos interceptados pela polícia. As conversas demonstrariam a proximidade do médico com o ex-governador. A polícia anexou ao inquérito fotos de França com os acusados, como indícios da ligação entre eles. O pessebista nega.

Apontado como homem de confiança de França, Otto foi nomeado na Secretaria de Saúde em abril de 2018. Antes, havia trabalhado, entre 2015 e 2017, como assessor do deputado estadual Caio França (PSB), filho do ex-governador. Também esteve lotado no gabinete de França, na Câmara dos Deputados, de 2013 a 2014, assim como participou de sua gestão na prefeitura de São Vicente (SP), entre 2009 e 2012.

Contrato

Em 2018, o hospital de Carapicuíba era gerido pela OSS São Camilo, em um contrato que terminaria em dezembro. Em 30 de julho daquele ano, a secretaria publicou uma resolução – sem passar por nenhuma consultoria jurídica da pasta – na qual convocava entidades privadas para a gestão do hospital. O prazo de manifestação de interesse era de apenas dez dias. Somente três entidades apresentaram propostas, entre elas a OSS Pacaembu, que não fez nenhuma visita técnica ao hospital.

O parecer feito pela área técnica da secretaria, de 13 de novembro de 2018, apontava que o plano da OSS Pacaembu não atendia às exigências do edital. Já a São Camilo teria apresentado proposta adequada, mas com valores maiores. A organização social aceitou diminuí-lo, mas o documento em que aceitava reduzir sua proposta não foi anexado ao processo.

No mesmo dia, Otto contratou a OSS Pacaembu. Para administrar o hospital, Cleudson chamou o administrador Fernando de Carvalho. Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Civil apontam que Carvalho arrecadava dinheiro desviado para Cleudson. Foi Carvalho que contratou a médica Maria Paula Loureiro de Oliveira Pereira como diretora do hospital. Ela fechou uma delação premiada com o Ministério Público.

Os investigadores apontam ainda conflito de interesse na atuação de Rugolo na secretaria. Segundo os promotores, ele foi nomeado para o cargo na pasta mesmo sem se desligar da Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar (Famesp), uma OS que já era contratada pelo governo.

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Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo investiga o ex-secretário adjunto da Saúde Antônio Rugolo Junior. Foto: Carol Jacob/Alesp

‘Vão ter de tentar me derrotar na única maneira que aceito: no voto’

O ex-governador Mário França disse que a busca e apreensão contra ele foi “um ato político, nos primeiros dias de um ano eleitoral”. “Nem os cavalos de mármore do Palácio dos Bandeirantes acreditaram. Aliás, 30 dias depois, o próprio juiz responsável dos autos determinou a devolução imediata dos bens apreendidos, e eles me foram devidamente devolvidos.” 

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Ex-governador Mário França disse que a busca e apreensão contra ele foi 'um ato político'. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

França defendeu a nomeação de Danilo Druzian Otto para a coordenadoria de gestão de contratos da Secretaria da Saúde. “Ele é um advogado que exerceu, junto com o doutor Marco Antonio  Zago, atual presidente da Fapesp, ex-reitor da USP, então secretário de Saúde do meu governo, uma função de confiança na Secretaria Saúde do Estado. Ambos são pessoas competentes e respeitadas.”

Ainda segundo o ex-governador, sua relação com Otto é de “confiança”. “Como tenho com o doutor Zago e todos que trabalharam comigo.” França afirmou que seu relacionamento com o ex-secretário adjunto da Saúde Antônio Rugolo Junior – também investigado – é semelhante. “Professor universitário, sério e competente. Grande profissional. Um dos maiores nomes da ciência e da pesquisa de São Paulo.”

França disse que baseou sua decisão de rever a punição de demissão do médico Cleudson Montali, então funcionário da pasta, transformando-a em suspensão de 30 dias, em parecer da Procuradoria do Estado, “que concluiu que a punição original estava equivocada, seguindo parecer de uma das maiores professoras jurídicas do Brasil, a professora Maria Silvia Zanella di Pietro”.

‘Intimidação’

Sobre Cleudson, França declarou que o conheceu apenas “como um médico e administrador de várias Santas Casas do interior”. E disse que tomou providências contra as acusações. “Tenho 40 anos de vida pública, não respondo a nenhum processo criminal e disputarei no voto o governo de São Paulo. Não há intimidação que me acovarde. Vão ter de tentar me derrotar na única maneira que aceito, no voto.”

O criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, que defende Rugolo, afirmou que, após diligência inicial, nada mais aconteceu. “O caso está parado. A acusação que pesa sobre ele é que ele ocupou a secretaria e não se desligou da fundação. Isso é um fato insignificante, não constitui crime.” A defesa de Otto não foi encontrada.

Dieta mental, Daniel Martins de Barros, OESP

 Daniel Martins de Barros, O Estado de S.Paulo

12 de março de 2022 | 03h00

As recomendações dietéticas mudam de tempos em tempos – durante algumas décadas, o ovo foi considerado um vilão; depois, apenas a gema era ruim, até que o ovo todo foi redimido e hoje figura entre os mocinhos da dieta. Eles pegaram carona na esteira da gordura, que de assassina passou a ser a maior aliada na luta contra os carboidratos – antigos aliados e hoje banidos para a turma do mal.

Diante de tantas mudanças, que no fundo apenas refletem a evolução do conhecimento, profissionais razoáveis costumam dizer que não há alimentos terminantemente proibidos, mas que é preciso consciência no comer. Pensar no que se está ingerindo. Refletir sobre a alimentação. Prestar atenção nos sinais do corpo à medida que comemos. E, assim, exercitar a moderação e o bom senso.

Dieta mental
Devemos prestar atenção aos conteúdos que consumimos para nutrir nossa mente Foto: Matthew Feeney/Unsplash.com

Temos dado cada vez mais importância à forma como alimentamos nosso corpo, mas negligenciamos bastante a forma como alimentamos nossa mente. Nossa alma, se preferir. Deveríamos prestar mais atenção aos conteúdos que consumimos, pois, da mesma forma que os nutrientes são a matéria-prima que constitui nosso corpo, as ideias, opiniões, raciocínios, notícias, são a matéria-prima com que construímos nossa mente.

Comecei a fazer essa reflexão no início da pandemia, e agora a guerra na Ucrânia me forçou a voltar a ela. Quem não se lembra da ansiedade e da angústia com que acompanhávamos o noticiário e as redes sociais nos piores momentos da pandemia, seguindo o placar de contaminados, internados, mortos? 

Claro que era importante acompanhar o que estava acontecendo, mas já estávamos de máscara, já estávamos isolados, afastados, banhados em álcool em gel; esse contínuo monitoramento só servia para informar o nosso cérebro que o cerco estava se fechando sobre nós, tornando-nos mais ansiosos, não mais protegidos. Percebi que precisávamos cuidar da dieta mental.

O mesmo se dá agora com a guerra. Não advogo que nos tornemos alienados; é importante que o mundo olhe de frente as consequências trágicas das decisões políticas que são tomadas.

Mas, uma vez informados, não é preciso que fiquemos mergulhados nos horrores da guerra. Expor-se muito intensa e continuamente a uma realidade devastada, ainda que longe fisicamente, pode transmitir ao nosso cérebro a mensagem de que nós também estamos em risco. Ficaremos mais ansiosos, mas não mais bem informados.

Assim como acontece com os alimentos, não há informações proibidas. Mas da mesma forma que devemos fazer com as comidas, que prestemos mais atenção nas quantidades, na velocidade e na qualidade do conteúdo que consumimos.