Nesta semana completam-se dez anos do massacre do Pinheirinho. Em 2012, a polícia de São Paulo executou uma operação de guerra para despejar milhares de famílias de um terreno em São José dos Campos. Muita gente ferida, casas incendiadas, uma "barbárie", nas palavras da então presidente Dilma.
Eu estava lá e pude presenciar o desespero de quem perdeu tudo. Diante de um conflito de competências entre as Justiças estadual e federal, que tinha suspendido a ordem, a palavra final para ordenar a ação veio de Geraldo Alckmin, o governador.
Três anos mais tarde, o mesmo Alckmin tomou a decisão de fechar escolas estaduais enquanto seu governo inaugurava presídios e fazia crescer os índices de letalidade policial. Dessa vez, foi derrotado pelos estudantes, que ocuparam centenas de escolas para manter as vagas. A propósito, sua política para educação nas três oportunidades em que governou São Paulo foi fiel à famosa frase de Darcy Ribeiro, de que a crise da educação no Brasil não é uma crise, mas um projeto político.
Fui professor da rede estadual num de seus governos. Faltava giz nas salas, papel higiênico nos banheiros e, acima de tudo, respeito aos educadores. O salário era um dos piores do país, sem plano de carreira e com precarização nas contratações, a chamada "categoria O". Quando nos manifestávamos por melhores condições, a resposta era à base de bombas de gás. Aliás, a mesma régua usada com servidores de todas as áreas.
Foi também em seu governo que a Sabesp, maior empresa de saneamento da América Latina, foi capitalizada na Bolsa de Nova York. E a Cesp, empresa de energia, foi privatizada. Quando Alckmin defendeu, nas eleições de 2018, "privatizar tudo", falava com conhecimento de causa. Foi nesse mesmo período que ele declarou, após ataque a tiros contra a caravana de Lula, que Lula e o PT "colhiam o que plantavam".
Política deve ser feita com grandeza e capacidade de diálogo, mas jamais com esquecimento. Os sem-teto do Pinheirinho, os professores e, as mães que perderam filhos pela letalidade policial guardam vivas na memória as cicatrizes do governo Alckmin, pelas quais não houve reparação, nem mudança de rota.
Neste ano, temos o desafio de derrotar Bolsonaro, e não tenho dúvidas de que Lula é quem tem melhor condição de enfrentá-lo. Mas precisamos derrotar também a agenda política antipopular e de retirada de direitos, da qual Alckmin é sócio.
Meu foco agora será na batalha eleitoral, para ajudar o Brasil a vencer o pesadelo e voltar a sonhar. Por isso, como serei candidato, esta é minha última coluna aqui. Agradeço a todos os que me acompanharam.