terça-feira, 10 de agosto de 2021

Dinamarqueses vão importar lixo para geração de energia, FSP (notícia de 2011, mas válida)

 Usina gigante que deve ficar pronta em 2016 absorverá mais do que Dinamarca é capaz de produzir em resíduos


País escandinavo já processa totalidade de dejetos; ideia é investir em queima de lixo para a produção de biogás

SABINE RIGHETTI
ENVIADA ESPECIAL A COPENHAGUE

A produção de biogás e outros produtos a partir de lixo está dando tão certo na Dinamarca que o país deve importar resíduos a partir de 2016.
Nesse ano ficará pronta uma nova usina de processamento de lixo da cooperativa Amagerforbrænding, hoje a segunda maior do país.
A ideia é comprar resíduos de países do norte e do leste da Europa, como Alemanha e Polônia, para dar conta da capacidade total da usina.
Hoje, a Dinamarca processa 100% do lixo que produz em empresas privadas e em cooperativas sem fins lucrativos (esse é o caso da Amagerforbrænding).
A população separa o lixo em casa e também leva os recicláveis até postos de troca.
"Os dinamarqueses estão bastante acostumados a trocar garrafas de plástico e latas de alumínio por moedas", disse à Folha a ministra do Clima e Energia da Dinamarca, Lykke Friis.
A Amagerforbrænding processou no ano passado cerca de 400 mil toneladas de lixo, ou 400 caminhões carregados todos os dias.

ADEUS AOS FÓSSEIS
O tratamento de lixo reduz a emissão de CO2, principal gás do aquecimento global.
Além disso, no caso da Dinamarca, o biogás produzido a partir do lixo substitui os combustíveis fósseis que seriam usados para aquecimento das casas.
De acordo com Vivi Nør Jacobsen, da cooperativa, 4 kg de lixo processados na usina equivalem a 1 l de óleo para aquecimento das casas.
"A atividade da usina está dentro da proposta do governo de acabar com o uso de combustíveis fósseis no país até 2050", explica Jacobsen.
A Amagerforbrænding também tem uma proposta de aproximar o processamento do lixo da sociedade.
A nova fábrica será em Copenhague, assim como a atual, que é de 1970 e se destaca por ser limpa e colorida.
A diferença é que a usina que será inaugurada ficará ainda mais perto do palácio real dinamarquês e funcionará como um espaço público, tendo até pista de esqui.
"Queremos mostrar que uma usina de processamento de lixo não precisa ser feia e fedida", explica Jacobsen.
No Brasil, algumas iniciativas de reciclagem funcionam bem. Por exemplo, quase todas as latinhas de alumínio são recicladas no país.
Os lixões a céu aberto continuam predominando no Brasil pelo menos até 2014.
Esse é o prazo final estipulado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada no ano passado, para que todos os lixões sejam completamente fechados.
O objetivo é ter aterros sanitários para os resíduos que não possam ser tratadas - e reaproveitar o restante.

A jornalista SABINE RIGHETTI viajou a convite do Consórcio do Clima da Dinamarca

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Proposta de campanha, investimento em dessalinização no semiárido não decola sob Bolsonaro, FSP

 Anunciados pelo presidente Jair Bolsonaro como uma de suas prioridades no enfrentamento à seca no semiárido do Nordeste, os programas de dessalinização de água não decolaram sob sua gestão.

Os investimentos no Programa Água Doce alcançaram R$ 13,5 milhões em 2019 e R$ 18,9 milhões em 2020. O valor equivale a 1% do investimento do governo em recursos hídricos nos dois anos.

PUBLICIDADE

O patamar é o mesmo observado em governos anteriores. Apenas em 2016, sob os governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), o investimento no programa Água Doce chegou a R$ 38 milhões.

O volume de recursos investido no Água Doce chegou a R$ 55,4 milhões incluindo os anos de 2016, 2017 e 2018. Até o momento, são 895 sistemas em operação em sete estados, dos quais 617 entram operação antes do governo Bolsonaro.

Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro anuncia projetos de dessalinização como uma espécie de redenção para o semiárido, citando Israel como exemplo de sucesso. Em 2019, o governo enviou o ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) a Israel para conhecer a experiência daquele país.

A tecnologia já vem sendo usada no sertão nordestino há pelo menos 30 anos, mas tem como principal gargalo o custo para a produção de água potável em larga escala.

O Ministério do Desenvolvimento Regional informou que o programa Água Doce tem execução continuada e avança conforme o ritmo da execução física de implantação dos sistemas de dessalinização, pactuadas com os dez governos estaduais que possuem áreas de semiárido.

Informou ainda que há 53 sistemas com a implantação em andamento e recursos assegurados para construção de mais 286 sistemas.

O distritão e a regra micromega, Marcus André Melo, FSP

 Como defendi neste espaço, o que explica a proposta do distritão no atual momento é o choque representado pela proibição de coligações em 2017. A regra foi aprovada pela legislatura eleita em 2014, mas criou problemas para a reeleição da eleita em 2018. O cientista político André Regis foi certeiro: “nunca antes uma legislatura havia inviabilizado a reeleição da seguinte”.

Isso explica porque, na atual proposta, o distritão valeria apenas como regra de transição. A relatora da PEC tenta agora restaurar o status quo ex ante —as coligações em eleições proporcionais e acesso universal a fundos públicos—, o que é ainda pior do que o distritão; significa a volta do mercado espúrio de compra de apoio de partidos pequenos cujos “donos” negociam a adesão de legendas e candidatos.

PUBLICIDADE

A proposta tem levado a interpretações equivocadas entre analistas, mesmo os mais qualificados. Colomer sintetizou o conhecimento acumulado sobre por que regras eleitorais são reformadas na expressão regra micromega. No caso de escolhas eleitorais: “o grande prefere o pequeno e o pequeno prefere o grande”. Na fábula de Voltaire, Micrômegas, um gigante de oito léguas de altura, deixa o planeta Sirius para viajar pelo universo. A moral da história é que as preferências e incentivos mudam com a perspectiva dos atores.

Sim, partidos pequenos preferem distritos eleitorais e assembleias grandes porque assim maximizam suas chances de eleição; e os grandes, o contrário —exceto quando têm expectativa de serem minoritários. Colomer testou a hipótese com dados para todas as reformas eleitorais do século 20.
Partidos grandes preferem distritos uninominais (voto distrital) e partidos pequenos, distritos com grande magnitude (que chegam a ser gigantescos como no Brasil cuja magnitude media é 17 —o número de deputados varia de 8 a 70).

Os partidos pequenos deveriam em tese rejeitar o distritão porque ele é usualmente classificado como da família majoritária, em oposição a proporcional. Mas isso é um erro como mostrou empírica e formalmente Gary Cox, em “SNTV and d’Hondt are equivalent”, Electoral Studies. Sim, o distritão em distritos grandes tem efeitos semelhantes à representação proporcional; ele é péssimo, mas não por que não garante proporcionalidade.

O distritão está sendo proposto em resposta ao choque de 2017 e é consistente com a nossa hiperfragmentação. Como todos os deputados federais vêm de partidos pequenos e médios, suas preferências pelo modelo é consistente.

Mas a solução não é embarcar nem na canoa furada do distritão nem voltar ao mercado persa de chapas anterior e implementar plenamente a reforma de 2017.