domingo, 16 de maio de 2021

João Doria: 'Bruno Covas e suas virtudes'; leia artigo, OESP

 João Doria*, O Estado de S.Paulo

16 de maio de 2021 | 10h26

Bruno Covas tinha orgulho de se dizer político. Ele nunca escondeu a satisfação com a atividade porque exercia a política com honestidade e ética, fazendo o que ela tem de mais elevado: a defesa do bem comum. E, apesar das muitas funções que teve, como secretário de Estado e parlamentar, foi na Prefeitura de São Paulo que vi o Bruno ser mais feliz - justamente pela enorme possibilidade de praticar o bem comum. 

João Doria Bruno Covas
João Doria ao lado de Bruno Covas; dupla tucana dividiu a Prefeitura de São Paulo. Foto: Suamy Beydoun/Agif/Estadão Conteúdo

Seu olhar significava esperança, a mesma que continuará nos movendo na defesa de interesses coletivos que o Bruno sempre defendeu. No ápice da pandemia, num dos momentos mais desafiadores, ainda em 2020, Bruno chegava discretamente no Palácio dos Bandeirantes. Entrava de forma anônima na sala de reunião, antes das entrevistas coletivas. Sentava na ponta da mesa no meu lado esquerdo. Sempre teve um local cativo.

Ouvia as discussões. Era cuidadoso e, também por isso, impunha respeito. Recordo das suas observações sempre com o propósito de melhorar uma iniciativa. Usava o seu conhecimento da máquina pública para fazer contrapontos, com sua voz serena, com equilíbrio e, acima de tudo, com humildade.

Bruno Covas foi leal, sem abrir mão da sua independência. Quando decidi concorrer a prefeito de São Paulo, sabia que o Bruno seria a melhor escolha para ser meu vice, ainda que muitos criticassem a candidatura “puro sangue”, formada integralmente pelo PSDB. Na sua gestão, manteve o projeto que defendemos na campanha. Acreditamos numa cidade mais humana, com melhores serviços e mais oportunidades. Sua reeleição é prova de coerência.

Dele, sempre recebi integral apoio. Bruno foi o primeiro a entender a necessidade da minha candidatura ao governo de São Paulo. Dizia que precisávamos evitar que nosso Estado fosse tomado por aventureiros. Era preciso preservar os ideais de Mário Covas que foram aprovados e testados nas últimas sete eleições consecutivas.  A sintonia da nossa convivência se estendeu para uma parceria entre Estado e Prefeitura, que garantiu o andamento de projetos e o bem comum que o Bruno tanto defendia.

Vejo hoje que compartilhamos a ideia de que as virtudes de cada um valem mais que as conjunturas da política. Penso, igual ao Bruno, que os bons princípios se impõem sobre as pressões de ocasião. É muito duro perder, no auge, uma liderança da qualidade do Bruno Covas. Mas, sobretudo, perder o convívio de um ser humano amoroso, de um pai carinhoso, de um amigo muito afetuoso. Sentiremos muita falta do Bruno. São Paulo está triste e em luto.

* É GOVERNADOR DE SÃO PAULO


sábado, 15 de maio de 2021

Vacina pra quê? Alvaro Costa e Silva, FSP

 O ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten chegou todo pimpão para depor na CPI da Covid. Embaixo do braço trazia um discurso —redigido em péssimo português, para manter a tradição bolsonarista— em que evocou palavras e conceitos que, explorados tão somente da boca para fora, soam vazios e falsos aos ouvidos da população: Deus, pátria, família. Usou até o termo "resiliente", que ninguém aguenta mais.

Quando o jogo começou a valer, fugiu das perguntas, tentou enganar os senadores e escapou de ser preso. "Vossa Excelência exagerou na mentira", disse-lhe Renan Calheiros, o relator da comissão. Ao longo do interrogatório, Wajngarten foi perdendo a pose de esperto. Nem de longe exibia a gabolice do início.

Respondia com a voz chorosa de um menino pego em flagrante. Ao sair da sessão, parecia sem pai nem mãe, pátria ou Deus. Como o Brasil sob Bolsonaro.

Wajngarten acabou admitindo que uma carta enviada ao presidente e aos generais do regime (inclusive o trânsfuga Pazuello), na qual a Pfizer oferecia doses de vacina, não teve resposta. Na sabatina de quinta-feira (13), revelou-se que a negligência foi mais grave. Carlos Murillo, gerente-geral da farmacêutica, declarou que o governo, em 2020, ignorou pelo menos cinco ofertas, significando 4,5 milhões de doses.
Por alguma razão que precisa ser explicada, Bolsonaro, o mito, resolveu não imunizar os brasileiros.

Apostou na estratégia de priorizar, em detrimento da vacinação e de medidas restritivas, a imunização por contágio. Insistiu na cloroquina. Duplamente equivocado, seu plano hoje é xingar adversários de vagabundo e ladrão, a fim de agitar as redes sociais, enquanto distribui dinheiro aos deputados do centrão para evitar o impeachment.

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Por falar nas redes, o vereador carioca Carlos Bolsonaro está na mira da CPI. Mostrará Zero Dois a valentia de Fabio Wajngarten?


Hélio Schwartsman -O nicho da direita, FSP

 Nicho é vital. Se os dinossauros não tivessem sido extintos, liberando espaços ecológicos para que os mamíferos prosperassem e se diversificassem, a classe Mammalia provavelmente teria ficado limitada a poucas ordens de pequenos animais peludos e amedrontados.

Datafolha que mostra Lula vencendo com folga Bolsonaro inaugura uma disputa por nichos. O petista parece dominar o campo da centro-esquerda, o que é má notícia para Ciro Gomes, e, sem tanta desenvoltura, também o do centro —com Lula encarnando o antibolsonarismo, Doria, Huck etc. têm menos espaço para crescer.

É na esfera da direita, porém, que as coisas ficam mais interessantes. Bolsonaro está bem enfraquecido. Se a eleição fosse hoje, ele perderia de lavada. Só que a eleição não é hoje. A grande incógnita é como estará o capitão reformado em outubro de 2022.

Eu adoraria decretar que o derretimento de Bolsonaro é irreversível, mas não creio que seja o caso. A menos que o Sars-CoV-2 nos reserve mais surpresas mortais, a tendência é que, com o lento avanço da vacinação, a situação epidemiológica melhore já a partir dos próximos meses. Com menos doença e morte, a economia deve dar sinais de recuperação. A combinação tende a ajudar o presidente. Mas ajudar quanto?

Penso que a imagem de Bolsonaro de incompetente com tendências homicidas já está consolidada. Será difícil reverter isso, o que o torna um candidato muito vulnerável em 2022, especialmente diante de um Lula turbinado. Mas ele tem um grupo expressivo de seguidores fiéis e é o detentor da poderosa Bic presidencial, o que ainda o deixa forte o bastante para barrar o caminho de outros candidatos da direita.

Isso põe as forças conservadoras diante de um interessante dilema. Se querem um candidato com mais chance de derrotar Lula, a melhor estratégia talvez seja promover o impeachment de Bolsonaro, a fim de liberar o nicho da direita.