Nicho é vital. Se os dinossauros não tivessem sido extintos, liberando espaços ecológicos para que os mamíferos prosperassem e se diversificassem, a classe Mammalia provavelmente teria ficado limitada a poucas ordens de pequenos animais peludos e amedrontados.
O Datafolha que mostra Lula vencendo com folga Bolsonaro inaugura uma disputa por nichos. O petista parece dominar o campo da centro-esquerda, o que é má notícia para Ciro Gomes, e, sem tanta desenvoltura, também o do centro —com Lula encarnando o antibolsonarismo, Doria, Huck etc. têm menos espaço para crescer.
É na esfera da direita, porém, que as coisas ficam mais interessantes. Bolsonaro está bem enfraquecido. Se a eleição fosse hoje, ele perderia de lavada. Só que a eleição não é hoje. A grande incógnita é como estará o capitão reformado em outubro de 2022.
Eu adoraria decretar que o derretimento de Bolsonaro é irreversível, mas não creio que seja o caso. A menos que o Sars-CoV-2 nos reserve mais surpresas mortais, a tendência é que, com o lento avanço da vacinação, a situação epidemiológica melhore já a partir dos próximos meses. Com menos doença e morte, a economia deve dar sinais de recuperação. A combinação tende a ajudar o presidente. Mas ajudar quanto?
Penso que a imagem de Bolsonaro de incompetente com tendências homicidas já está consolidada. Será difícil reverter isso, o que o torna um candidato muito vulnerável em 2022, especialmente diante de um Lula turbinado. Mas ele tem um grupo expressivo de seguidores fiéis e é o detentor da poderosa Bic presidencial, o que ainda o deixa forte o bastante para barrar o caminho de outros candidatos da direita.
Isso põe as forças conservadoras diante de um interessante dilema. Se querem um candidato com mais chance de derrotar Lula, a melhor estratégia talvez seja promover o impeachment de Bolsonaro, a fim de liberar o nicho da direita.
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