domingo, 20 de janeiro de 2019

Em defesa do direito à legítima defesa, Onyx Lorenzoni, FSP


Decreto de 14 de janeiro foi apenas o primeiro passo



O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante entrevista à imprensa no Palácio do Planalto, no início deste mês
O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante entrevista à imprensa no Palácio do Planalto, no início deste mês - Pedro Ladeira/Folhapress
Onyx Lorenzoni
Em 2003, primeiro ano do governo Lula, entrou em vigor o Estatuto do Desarmamento. A esquerda brasileira comemorou e prometeu o que jamais poderia entregar: a diminuição da violência e o consequente aumento da segurança. 
Na verdade, eles sempre souberam o que estavam fazendo. E nós, que éramos poucos dentro do Parlamento brasileiro, também sabíamos o que pretendiam. Por isso, fizemos o enfrentamento desde o início pelo direito à legítima defesa. 
Desarmar a população é um dos maiores desejos daqueles que não respeitam o que há de mais precioso para um povo, a liberdade. 
Tomemos como base o país conhecido como o grande defensor e protetor da liberdade, os Estados Unidos, onde o direito à legítima defesa é sagrado. Ou então a Suíça, conhecida como um dos melhores e mais seguros países do mundo, onde um em cada três habitantes tem pelo menos uma arma para se defender e os índices de violência são irrelevantes. 
No Brasil, o fato é que com a entrada em vigor do famigerado estatuto a violência aumentou. A insegurança aumentou. A insegurança do cidadão que não pode defender a sua vida, a sua família e a sua casa, do comerciante que sofre com assaltos, do produtor rural que sofre com invasões de suas terras e o abigeato. São fatos que põem por terra os argumentos de quem sempre defendeu o desarmamento dos cidadãos. 
Em 2005, outro capítulo revelador das intenções dos desarmamentistas merece destaque. Como previa o estatuto, os brasileiros foram chamados a um referendo para se manifestar sobre o comércio de armas e munições. 
Durante o processo, o então ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos, talvez em um ato falho, deixou escapar que “o desarmamento não era para desarmar bandido”. Enquanto isso,  nós mostrávamos o que estava por trás daquela consulta pública, o verdadeiro perigo: a retirada de um direito. 
A população, por ampla maioria, exigiu a manutenção do direito à legítima defesa. Mas eles nunca aceitaram o resultado. Logo após o referendo, o mesmo ministro chamou algumas entidades para uma reunião, mas, por um algum  equívoco, convidaram alguém que não partilhava dos mesmos ideais e que ouviu mais uma pérola reveladora: “Perdemos o referendo, mas temos a caneta e vamos desarmar.” 
Foi o que fizeram todos os governos que se sucederam. Não apenas desrespeitaram a vontade da maioria da população manifestada nas urnas como tentaram sucessivamente restringir um direito legítimo. Ao mesmo tempo em que deixavam o cidadão de bem desprotegido, davam segurança à bandidagem, como se em cada porta de casa, de comércio, de uma propriedade rural, tivesse uma placa “pode entrar, estamos desarmados”. Além de jogarem na ilegalidade milhões de pessoas que nunca se envolveram em crimes e se recusaram a entregar suas armas. Aos poucos, vamos corrigir esse erro proposital.  
O dia 14 de janeiro de 2019 ficará marcado pelo fim desse processo errático de mais de 15 anos e o início de uma mudança necessária e desejada. O povo brasileiro será respeitado em seus desejos e necessidades. 
decreto presidencial 9.685, construído sob o comando do presidente Jair Bolsonaro, foi apenas o primeiro passo. Precisamos evoluir ainda mais e a participação da nova composição do Congresso Nacional será decisiva em muitas questões, como as relativas ao porte, que necessariamente passarão por lá. 
A maioria dos que estão chegando ao Parlamento foi eleita pela defesa dos mesmos princípios que colocaram Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto e renovaram a esperança do povo brasileiro. 
O ponto principal do decreto 9.685, o fim do critério subjetivo da discricionariedade —a partir de agora valerá uma declaração de necessidade do cidadão— tem um significado muito maior que apenas acabar com uma decisão política sobre quem pode ou não possuir uma arma. Traz as grandes marcas que o presidente e o governo querem imprimir em cada ato: o respeito e a confiança nos brasileiros de bem, a maioria absoluta da nossa gente.
Onyx Lorenzoni
Ministro-chefe da Casa Civil e deputado federal (DEM-RS) desde 2003, atualmente licenciado

Marcos Lisboa Hermanos FSP

trajetória da Argentina e dos EUA mostra a importância das instituições e das regras do jogo

No começo do século 20, o novo mundo era liderado pela Argentina e pelos EUA. Suas principais cidades, Buenos Aires e Nova York, impressionavam pelo urbanismo moderno, incluindo novidades como o metrô.
Os dois países, porém, tinham agendas econômicas bem distintas.
Na Argentina, havia consenso sobre a necessidade de intervenção discricionária do Estado. Nos anos 1920, a esquerda defendia a reforma agrária, e a direita, a garantia de maiores preços para os bens exportados. Nos anos 1940, a maioria defendia políticas para incentivar o desenvolvimento da indústria local, que deveria ser protegida da competição estrangeira.
Nos EUA, por outro lado, desde a independência o Judiciário garantia a liberdade de contratos e limitava a intervenção na economia. As inovações legais procuravam aperfeiçoar o funcionamento dos mercados e a governança do setor público.
No fim do século 19, aprovou-se legislação que proibia a indicação política de servidores públicos. Pouco depois, adotaram-se regras para combater cartéis, para resolver conflitos em caso de falência e para regular as condições de trabalho no setor privado. Durante décadas foram aprimoradas as normas dos mercados de crédito e de capital e criadas agências reguladoras.
Construção do metrô em Nova York em 1902
Construção do metrô em Nova York em 1902 - New York Transit Museum
Argentina e EUA exemplificam a importância das instituições e das regras do jogo para explicar o desenvolvimento desigual dos países.
A Argentina ilustra como ideias apressadas e a intervenção pública voluntariosa podem ser devastadoras em um país institucionalmente frágil. O desenvolvimento dos EUA, por sua vez, revela a importância de contrapesos institucionais, como independência do Judiciário e respeito ao Congresso, para mediar reformas e arbitrar conflitos.
No Brasil, alguns insistem em elixires milagrosos, como juros para baixo, câmbio para cima e proteção à produção doméstica. Pois bem, ataxa de juros está no seu menor nível em décadas, o câmbio se desvalorizou quase 20% em 2018 e temos mais proteções contra a importação de bens manufaturados do que qualquer país da OCDE. A indústria, no entanto, patina e a produtividade continua estagnada.
Muitos parecem nem mesmo saber contra quem debatem, propondo caricaturas irreconhecíveis, como a que neoliberais defendem valorizar o câmbio e financiar o crescimento por meio da poupança externa. Impressiona o desconhecimento da extensa pesquisa aplicada sobre desenvolvimento dos últimos 30 anos em que a macroeconomia tradicional é um tema menor.
Talvez seja hora de aposentar as narrativas de salão e seus rótulos, “neo” isso ou “neo” aquilo, e analisar com cuidado a evidência sobre o muito a fazer para retomar o desenvolvimento.
Marcos Lisboa
Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e doutor em economia.