domingo, 9 de setembro de 2018

Almas tirânicas, FSP

Nesta eleição de 2018, o que os brasileiros precisam, como exemplo de político, é de alguém com a ousadia moral de um Sólon (638 - 558 a.C.).

Modelo de legislador para Platão, Sólon, ao perceber os primeiros sinais de decadência na frágil ordem da pólis ateniense, afirmou que a culpa dessa situação nunca foi dos deuses do Olimpo, como muitos queriam pensar, mas sim dos próprios gregos.

Por não terem compreendido a "medida invisível" da justiça divina que mora dentro de cada alma, revoltaram-se contra a natureza das coisas, prejudicando a estabilidade social e política de Atenas.

Obviamente, ele foi escorraçado pelo povo, e sua única escolha foi o exílio, para que o "julgamento do tempo" desse a resposta justa, conforme a "medida invisível" que orientava a sua alma em direção à verdade transcendente.

Hoje em dia, pouca coisa mudou —e, se mudou, foi para pior. O claro sinal de nossa decadência está no jogo de empurra-empurra, no qual a responsabilidade sempre é do Estado, do PT, de Donald Trump, da Ursal, do finado Roberto Marinho, e, quiçá, do vizinho da esquina.

Na verdade, a culpa de estarmos neste pandemônio é da nossa natureza mesquinha, enraizada numa inveja espiritual que os acadêmicos catalogaram de "o homem cordial" e, assim, vivem iludidos de que são iguais a Sólon.

Eis o problema: segundo as nossas cabeças pensantes, o que manda na história é a luta pelo poder —e ela faz o sujeito imaginar que pode vencer tudo.

Essa seria a característica principal de um homem tirânico, que detém o poder absoluto, sobre tudo e sobre todos. Segundo Platão, em "A República", a alma do tirano quer impor uma ordem estranha ao mundo.

Seu íntimo mal sabe da existência dela, pois, por ser uma consequência da alma democrática, não possui nenhuma hierarquia em suas paixões --e, portanto, nenhum domínio sobre as qualidades que devem ter o bom estadista: sabedoria, coragem, temperança e justiça.

O tirano desconhece essas quatro qualidades; elas vivem dentro dele em constante embate, sem nenhuma lógica, exceto a do sentimentalismo excessivo, refletido num carisma que, por ter um toque messiânico, cativa a opinião popular.

Logo, é o mais infeliz de todos os homens, porque depende dos outros para a sua aprovação e, quando não a consegue, tenta impô-la por meio da coerção.

Portanto, na política brasileira, estamos completamente rodeados por almas tirânicas, apenas com uma diferença ou outra de gradação.

Todos os políticos são bem vestidos ou bem assessorados, mas nenhum é sincero para mostrar que estão possessos por uma vontade alucinada pelo poder.

São cegos para verem além deste mundo, procurando uma justiça que, acompanhada pelo adjetivo "social", só tende a criar ruínas, em vez das fortalezas que planejaram.

Mas não estão sozinhos: jornalistas, professores, estudantes, artistas, filósofos —várias pessoas contribuem para esse embotamento da razão, seja da esquerda ou da direita, levando-nos a um período histórico que só tem paralelos com o da Alemanha de 1933, e o da decadência de Atenas em torno de 350 a.C., em que se via uma patologia com uma lógica bem peculiar, baseada na nossa ignorância.

Quando a ordem do indivíduo se opõe à desordem da sociedade, sobram apenas uns poucos que resistem a essa tentação, refugiados em suas cidadelas. Infelizmente, a ameaça do espectro tirânico na eleição de 2018 faz a alma brasileira ir a um velório de projetos falidos e de ilusões, a ser vendido como se fosse a única realidade. Resta saber se tal alucinação durará por muito tempo. Até lá, seremos como cegos que conduzem outros cegos —e assim tombaremos na mesma vala.
Martim Vasques da Cunha
Doutor em ética e filosofia política (USP); pós-doutorando pela EAESP/FGV e autor de "Crise e Utopia - O Dilema de Thomas More" e "A Poeira da Glória - Uma (Inesperada) História da Literatura Brasileira"

Mais Brasil e menos Brasília, FSP


Um bordão que tem sido comum nesta campanha eleitoral é a necessidade de repensar nosso federalismo: "Mais Brasil e menos Brasília". Ninguém define exatamente do que se trata.
Há três temas.
O primeiro é tributário: como se divide entre União, estados e municípios o bolo tributário e como se opera o princípio da solidariedade federativa na transferência de recursos dos entes ricos aos pobres.
O segundo é a forma como o Congresso Nacional tem recentemente ferido a independência dos entes da Federação ao estabelecer obrigações a estes sem que as Assembleias Estaduais ou as Câmaras Municipais se pronunciem.
Tem sido comum corporações do setor público lutarem no Congresso pelo estabelecimento de pisos de remuneração que se aplicam aos servidores estaduais e municipais.
Surpreendentemente, essas e outras interferências do Legislativo nacional sobre os entes da Federação têm sido pouco tratadas pelos candidatos.
Aparentemente o bordão mencionado no título da coluna remete à ideia de que o dinheiro arrecadado vai para Brasília e, em seguida, retorna aos governos locais. No entanto, os casos em que ocorre a ida e o retorno dos recursos estão associados a programas de apoio aos entes mais pobres da Federação.
Em alguns casos o dinheiro é transferido automaticamente, como nos Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos Municípios (FPM).
Em outros, a União transfere recursos aos entes mais pobres em áreas específicas, como a complementação da União ao Fundeb.
No nível estadual, as transferências da União conseguem reduzir em muito as diferenças de recursos entre os estados.
Por exemplo, a receita per capita do Maranhão é de 55% a receita per capita de São Paulo enquanto que o PIB per capita é de 30% o de São Paulo.
A receita per capita de impostos, já considerando arrecadação própria e transferências, varia de um máximo de R$ 7.978, no Distrito Federal, até a mínima de R$ 2.418 no Maranhão. São Paulo arrecada R$ 4.378 per capita, menos do que 11 estados.
O terceiro tema é que a maior parte da concentração de receita na União ocorrida nas últimas décadas foi para financiar programas de transferências ligados ao estado de bem-estar social, que são nacionais por natureza: benefícios previdenciários, aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, seguro-desemprego, abono salarial e Bolsa Família, entre outros.
Este fato não tem sido notado pelas pessoas que enunciam o bordão "mais Brasil e menos Brasília".
O bordão talvez se refira à enorme profusão de estados e, principalmente, municípios que foram criados em seguida à redemocratização, e que não têm a menor condição de sobrevivência autônoma.
Por exemplo, a receita per capita do estado de Roraima foi, em 2017, de R$ 7.740, sendo R$ 2.703 de receita própria e R$ 5.037 de transferência. Para municípios, os números são ainda mais chocantes.
Ou seja, faz sentido um pacto federativo que estabeleça que a receita própria do ente da Federação tenha de ser no mínimo capaz de custear a administração direta dos Poderes.
As transferências existem para equalizar recursos e garantir acesso da população a serviços públicos de qualidade, independentemente da localização.
Finalmente, diversos entes da Federação, exatamente porque recebem volume expressivo de transferências, se abstêm de arrecadar localmente.
Seria importante que os candidatos explicitassem o que entendem por "mais Brasil e menos Brasília".


    Samuel Pessôa
    Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e sócio da consultoria Reliance. É doutor em economia pela USP.

    Como seria nossa vida se soubéssemos quando vamos morrer?, BBC

    Você e todos os que já conheceu irão morrer um dia. De acordo com psicólogos, essa verdade desconfortável fica escondida no fundo de nossas mentes e acaba direcionando tudo o que fazemos, desde ir à igreja, comer vegetais e fazer ginástica a nos motivar a ter filhos, escrever livros e fundar um negócio.
    Para pessoas saudáveis, a morte geralmente exerce uma influência subconsciente. "Na maior parte do tempo, passamos os dias sem pensar em nossa mortalidade", diz Chris Feudtner, pediatra e especialista em ética do Hospital Infantil da Filadélfia e da Universidade da Pensilvânia, nos EUA. "Lidamos com isso focando em coisas que estão mais à nossa frente".
    O que aconteceria, no entanto, se não houvesse dúvida sobre o momento de nossa morte? E se de repente soubéssemos exatamente o dia e como morreríamos? Embora isso seja impossível, considerações cuidadosas desse cenário hipotético podem lançar luz sobre nossas motivações como indivíduos e sociedades —e dar pistas de como usar nosso tempo limitado na Terra da melhor forma possível.
    Primeiramente, como a morte define o comportamento no mundo? Nos anos de 1980, psicólogos passaram a estudar como lidamos com a enorme ansiedade e o medo da percepção de que não somos nada além de "peças de carne conscientes que respiram e defecam e que podem morrer a qualquer momento", como define Sheldon Solomon, professor de psicologia de Skidmore College, em Nova York.
    A teoria de gerenciamento de terror, cunhada por Solomon e colegas, sugere que os humanos se apegam a crenças culturalmente construídas —de que o mundo tem sentido, por exemplo, e de que nossas vidas têm valor— a fim de afastar o que de outra forma seria um terror existencial paralisante.

    DEFESA DE CRENÇAS

    Em mais de mil experimentos, pesquisadores concluíram que, quando lembrados de que vamos morrer, nos apegamos mais às nossas crenças e nos esforçamos para aumentar o senso de valor próprio. Também ficamos mais defensivos de nossas crenças e reagimos com hostilidade a qualquer coisa que as ameace.
    Mesmo acenos sutis à mortalidade —como um flash de 42,8 milissegundos da palavra "morte" na tela do computador ou uma conversa que comece numa casa funerária— são suficientes para engatilhar mudanças comportamentais.
    Como são algumas dessas mudanças? Quando lembrados da morte, tratamos aqueles que são semelhantes a nós em aparência, inclinação política, origem geográfica e crenças religiosas de forma mais favorável. E nos tornamos mais desdenhosos e violentos com pessoas que não compartilham dessas semelhanças.
    Professamos um compromisso mais profundo com parceiros românticos que validam nossas visões de mundo. E estamos mais inclinados a votar em líderes mão de ferro que incitam o medo de pessoas de fora.
    Também nos tornamos mais niilistas, bebendo, fumando, comprando e comendo em excesso —e ficamos menos preocupados com o meio ambiente.
    Se todo mundo de repente soubesse o dia e a forma da morte, a sociedade poderia se tornar mais racista, xenófoba, violenta, belicista, auto e ambientalmente destrutiva do que já é.
    Mas isto não é uma predestinação. Pesquisadores como Solomon acreditam que, ao se tornar cientes dos efeitos negativos da ansiedade pela morte, poderíamos combatê-los. Na realidade, cientistas já registraram alguns exemplos de pessoas derrubando essas tendências gerais.
    Monges budistas da Coreia do Sul, por exemplo, não respondem dessa forma aos lembretes de morte.
    Pesquisadores estudaram um estilo de pensamento chamado "reflexão sobre a morte" e notaram que as reações são diferentes se as pessoas pensam em morte de maneira ampla ou, ao contrário, se forem específicos sobre como o episódio ocorreria e qual impacto ele teria em suas famílias.
    Nesse último caso, as pessoas ficaram mais altruístas —com a vontade, por exemplo, de doar sangue, mesmo que não houvesse uma demanda imediata. Elas também ficam mais abertas a refletir sobre os papéis positivos e negativos de eventos em suas vidas. Com essas descobertas, saber o dia da morte poderia levar indivíduos a focar mais em objetivos de vida e vínculos sociais em vez de se isolarem.
    Isso seria especialmente verdadeiro "se promovêssemos estratégias para aceitar a morte como parte da vida e se esse conhecimento fosse integrado a nossas escolhas de vida e comportamento", diz Eva Jonas, professora de psicologia da Universidade de Salzburgo, na Áustria. "Entender a escassez da vida pode aumentar a percepção de valor da vida e desenvolver um senso de que 'estamos todos no mesmo barco', aumentando a tolerância e a compaixão e minimizando as respostas defensivas".

    PERSONALIDADES MÓRBIDAS

    Independentemente de a sociedade como um todo tomar um rumo bom ou ruim, como reagiríamos à informação de nossa morte poderia variar de acordo com a personalidade e as especificidades do grande evento?
    "Quanto mais neurótico e ansioso você for, mais preocupado estará com a morte e incapaz de se concentrar em mudanças significativas na vida", diz Laura Blackie, professora-assistente de psicologia da Universidade de Nottingham, no Reino Unido. "Mas, por outro lado, se você souber que vai morrer em paz aos 90 anos enquanto dorme, talvez não se preocupe tanto com isso".
    Se a vida termina aos 13 ou aos 113 anos, estudos sobre indivíduos com doenças terminais podem lançar luz sobre as típicas respostas à morte.
    Os pacientes de cuidados paliativos, diz Feudtner, muitas vezes experimentam duas fases de pensamento. Primeiro, eles questionam a própria premissa de seu diagnóstico, perguntando-se se a morte é evitável ou não.
    Depois disso, eles contemplam como aproveitar ao máximo o tempo que lhes resta. A maioria cai em uma das duas categorias: eles decidem colocar toda a sua energia e foco em fazer tudo o que podem para vencer a doença, ou optam por refletir sobre suas vidas e passar o maior tempo possível com os entes queridos, fazendo coisas que lhes tragam felicidade.
    Os mesmos processos provavelmente aconteceriam sob o cenário hipotético da data de morte. "Mesmo que você saiba que tem mais 60 anos, eventualmente essa expectativa de vida será medida em apenas alguns anos, meses e dias", diz Feudtner. "Quando o relógio se aproxima do desfecho, acho que veríamos pessoas se movendo em duas direções diferentes".
    Aqueles que tentam impedir a morte podem ficar obcecados em evitá-la, especialmente com o tempo se esgotando. Alguém que sabe que se afogará pode praticar natação incessantemente para ter uma chance de sobrevivência, por exemplo; e alguém que sabe que vai morrer em um acidente de trânsito pode evitar veículos a todo custo.
    Outros, no entanto, podem seguir o caminho oposto —tentando terminar a vida em seus próprios termos. Isso permitiria, de certa forma, ter controle sobre o processo. Jonas e seus colegas descobriram, por exemplo, que quando pediam às pessoas que imaginassem que sofreriam uma morte lenta e dolorosa por uma doença, aquelas que tiveram a opção de terminar a vida sentiram ter mais controle e menos ansiedade da morte.
    Aqueles que seguem o caminho aceitando a sentença de morte podem reagir de várias formas. Alguns ficariam energizados para aproveitar ao máximo o tempo que lhes resta, atingindo altos níveis de conquistas criativas, sociais, científicas e empreendedoras.
    "Gosto de pensar que saber o dia da morte traria o melhor de nós, que nos daria uma amplitude psicológica para sermos capazes de fazer mais por nós mesmos e nossas famílias e comunidades", diz Solomon.
    Realmente, há evidências promissoras de sobreviventes de traumas de que ter a noção do tempo limitado que nos resta pode motivar o autoaperfeiçoamento. Embora seja difícil coletar dados dessas pessoas, muitos insistem que eles mudaram profundamente, e de forma positiva.
    "Eles dizem estar mais fortes, mais espirituais, reconhecem mais possibilidades positivas e apreciam mais a vida", diz Blackie. "Eles chegam à conclusão de que 'uau, a vida é curta, eu vou morrer um dia, preciso tirar o máximo proveito disso'".
    No entanto, nem todo mundo se tornaria o melhor de si próprio. Em vez disso, muitas pessoas provavelmente escolheriam acabar com a vida e parar de contribuir significativamente para a sociedade - não necessariamente porque são preguiçosos, mas porque são tomados pela sensação de falta de sentido. Como explica Caitlin Doughty, agente funerária, autora e fundadora do coletivo Ordem da Boa Morte: "Você estaria escrevendo esta reportagem se soubesse que morrerá no próximo mês?" (Provavelmente não).
    Sentimentos de inutilidade também podem fazer com que muitas pessoas desistam do estilo de vida saudável. Se a morte está predestinada para um período específico, "não vou mais perder tempo comendo alimentos orgânicos, beberei minha Coca normal em vez da sem açúcar, talvez experimente algumas drogas e coma Twinkies (bolinho industrializado) o dia todo", lista Doughty. "Muito de nossa cultura é projetado para se evitar a morte".
    Possivelmente, no entanto, a maioria dos indivíduos alternaria entre estar supermotivado e niilista, escolhendo uma semana para "sentar em casa e despejar Cheez Whiz (molho de queijo) em um pacote de biscoitos e assistir (à série) Law and Order no Netflix" e na outra "se voluntariaria para preparar sopa (para a população pobre)", diz Solomon. Mas independentemente de onde nesse espectro estejamos, até os mais iluminados —especialmente ao se aproximar do dia da morte - se tornariam ocasionalmente "uma ruína trêmula".
    "Mudanças são estressantes", concorda Feudtner. "Estamos falando aqui da maior mudança que pode acontecer ao um indivíduo - a de não estar mais vivo".

    PAUSA RELIGIOSA

    Em termos práticos, não importa onde vivemos, nossa vida mudaria totalmente se soubéssemos quando iríamos morrer.
    Muitas pessoas podem começar terapia, que acabaria desenvolvendo uma subárea relacionada à morte. Novos rituais sociais e rotinas poderiam surgir, com dias da morte celebrados como aniversários, mas contados para baixo em vez de para cima.
    E as atuais religiões seriam abaladas em seu cerne. Cultos podem surgir no rastro espiritual. "Vamos começar a adorar este sistema que nos diz quando vamos morrer? Fazer oferendas ao sistema? Entregar nossas filhas virgens?", questiona Doughty. "Sem dúvida isto impactaria a crença religiosa".
    Os relacionamentos seriam certamente afetados. Descobrir alguém cujo dia da morte está perto do seu próprio se tornaria um requisito obrigatório para muitos, e aplicativos de encontros que filtrassem a informação tornariam a tarefa mais fácil.
    "Uma das coisas que provocam medo da morte - geralmente mais do que sua própria morte - é a perda do ente amado", diz Doughty. "Por que eu ficaria com alguém que vai morrer aos 40 se eu vou viver até os 89?"
    Da mesma forma, se fosse possível saber o dia da morte a partir de uma amostra biológica, alguns pais poderiam abortar os fetos que fossem morrer muito jovens para evitar a dor de perder o filho. Outros - sabendo que não sobreviveriam até certa idade - poderiam optar por não ter filhos, ou fazer o oposto, ter muitos filhos o mais rápido possível.
    Também teríamos que lidar com novas leis e normas. De acordo com Rose Eveleth, criadora e produtora do podcast Flash Forward (no qual um episódio explorou uma hipótese parecida sobre o dia da morte), a legislação deveria ser pensada em torno da privacidade do dia da morte para evitar discriminação do empregador e do prestador de serviço. Figuras públicas, de um lado, podem ser obrigadas a compartilhar datas antes de se candidatar (ou podem causar polêmica se se negarem a fazê-lo). "Se um candidato à presidência sabe que morrerá três dias após o início do mandato, isso importa", ressalta Eveleth.
    E se não for legalmente requisitado, alguns indivíduos podem escolher tatuar o dia da morte em seu braço ou numa plaqueta de identificação militar, de modo que ——em caso de acidente os profissionais de resgate saibam que não terão como revivê-los, diz Eveleth.
    A indústria funerária também seria profundamente impactada: ofereceria serviços aos que ainda estão vivos e não a famílias em luto. "As casas funerárias não poderiam mais assediar pessoas em luto para tirar o máximo de dinheiro possível", diz Eveleth. "Isso coloca o poder nas mãos dos consumidores de uma forma positiva".
    No grande dia, algumas pessoas podem dar festas como aqueles que optam pela eutanásia estão começando a fazer na vida real. Outros, especialmente aqueles que morreriam colocando outras pessoas em perigo, podem sentir-se ética ou emocionalmente compelidos a se isolar.
    Outros ainda, diz Eveleth, podem escolher usar sua morte para um propósito artístico ou pessoal superior, participando de uma peça em que todos de fato morrem no final ou encenando uma morte por uma causa em que acreditam.
    Se soubéssemos o dia e a forma como morreremos, nossas vidas seriam profundamente afetadas.


    "A civilização humana se desenvolveu totalmente ao redor da ideia de morte", diz Doughty. "Eu acho que (esse conhecimento) iria minar completamente o nosso sistema de vida".