quinta-feira, 5 de julho de 2018

Igreja 'flutua' a 31 m para ser preservada em obra na região da Paulista, FSP

Complexo Matarazzo, que terá hotel e shopping, mantém estrutura suspensa

Fillipe Mauro
SÃO PAULO
Um delicado projeto de engenharia executado nos últimos nove meses conseguiu deixar suspensa, a uma altura de 31 metros, uma capela de 1.200 toneladas do antigo Hospital Matarazzo, a uma quadra da av. Paulista, na região central de São Paulo.
A operação, que surpreendeu quem mora e trabalha ao lado do terreno, foi projetada para proteger a estrutura da igreja de Santa Luzia durante as obras do futuro complexo Cidade Matarazzo. Inaugurada em 1922 pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi, ela é tombada pelo Condephaat (conselho estadual do patrimônio histórico).
 
Ao redor da igreja, será construído um conjunto com hotel, shopping e uma torre de 22 andares assinada pelo arquiteto francês Jean Nouvel, vencedor do prestigiado prêmio Pritzker, em 2008, e autor do ambicioso projeto do museu do Quai Branly, em Paris.
Em São Paulo, será o primeiro projeto do arquiteto. Em 2001, ele foi contratado no Rio para a instalação de uma filial do museu Guggenheim na região do Píer Mauá, mas a execução acabou barrada após polêmicas (inclusive pelo custo) que chegaram à Justiça.
De acordo com o engenheiro Maurício Bianchi, responsável pela obra no complexo Matarazzo, foi necessário manter a capela suspensa para aproveitar ao máximo o terreno de 27 mil m². Ele explica que várias partes do antigo hospital são protegidas pelo patrimônio histórico, o que obriga o aproveitamento máximo de cada centímetro.
Um sistema de oito profundas colunas —com 31 metros de altura, além de outros 23 metros sob o solo—conectadas por uma laje foi construído no entorno e abaixo da capela, que originalmente possuía só 1,5 metro de fundação.
Para evitar qualquer rachadura, a escavação das colunas não foi feita com bate-estacas, mas sim com uma perfuratriz de baixa percussão, da maneira mais lenta possível. "Eu deixava até um copo de água sobre o altar para ter certeza de que as vibrações eram mínimas", conta Bianchi.
Somente então foi iniciada a etapa mais delicada do procedimento. Através de processos como o hidrojateamento, espécie de bombeamento de água sob alta pressão, a terra acomodada sob o prédio foi lentamente removida —e a enorme estrutura se revelou.
Ao longo de semanas, o solo abaixo da capela erodiu até que a construção se acomodasse sobre a nova sustentação. "Ficamos então ilhados", brinca Bianchi, que precisou instalar uma espécie de ponte entre o nível da alameda Rio Claro e o perímetro da capela.
Questionado sobre os eventuais prejuízos que a operação causou ao prédio, ele é categórico: "O resultado é impecável. Apesar da estrutura de tijolos antigos, não houve absolutamente nenhum dano".
Abaixo da capela, serão construídos oito subsolos. Cinco deles serão destinados a estacionamentos. Os demais abrigarão áreas de apoio para o hotel (como cozinhas e cinema) e um espaço chamado "creativity center", destinado a conferências e eventos.
Apenas o piso da capela Santa Luzia sofreu modificações. Para mantê-lo intacto e sem quebras, foi necessário desmontá-lo em peças, que foram catalogadas uma a uma, como em um quebra-cabeças. O altar também seria removido, mas os engenheiros temeram danos ao mármore e preferiram instalar sob ele uma laje adicional de sustentação.
Hoje, toda a área ocupada pelo antigo Hospital Matarazzo pertence aoempresário francês Alexandre Allard, conhecido por investir em projetos de modernização de edifícios antigos. O negócio foi fechado em 2010 pelo valor de R$ 117 milhões, após oito anos de negociação. A expectativa é que o restauro das instalações, assim como sua expansão, custe ao Grupo Allard R$ 1 bilhão e que a obra fique pronta no final de 2019.
O hospital (cujo nome original era Umberto Primo) foi erguido em 1904 pelo empresário Francesco Matarazzo e se tornou um ícone da arquitetura neoclássica de São Paulo.
O interior da capela Santa Luzia tem detalhes em escaiola amarela, técnica italiana do século 17 com pó de jaspe para reproduzir a textura polida e as cores do mármore.
Somente em 1986, os prédios que compõem o complexo foram tombados pelo patrimônio histórico e cultural do estado de São Paulo. A partir de 1993, com a falência da fundação que o administrava, o Hospital Matarazzo acabou fechando as portas.

Pink vagina, FSP

Russas que aparecem nas redes sociais em companhia de turistas sofrem perseguição

Um dia antes da abertura da Copa, a líder do Comitê para as Famílias do Parlamento russo, Tamara Pletnyova, pediu que as russas não fizessem sexo com estrangeiros que não fossem brancos. Ela alega que a “medida” pode evitar que elas sejam abandonadas e se tornem mães solteiras de filhos mestiços. 
Ao ler uma barbaridade dessa, você imagina que se trata de um lampejo de xenofobia individual. Mas não. Nesta semana, a BBC noticiou que as mulheres que têm aparecido nas redes sociais em companhia de turistas estão sendo perseguidas por grupos de extrema direita. 
Quando os vídeos em que russas foram humilhadas por brasileirosviralizaram, houve quem dissesse que elas jamais saberiam o que tinha acontecido e que não sofreriam consequência por causa das “brincadeiras”. 
Esquecem-se de que a internet tornou o mundo um quintal ainda menor do que já era e que nem a barreira da língua impede que as notícias, principalmente as más, se espalhem com velocidade assustadora. Segundo a reportagem, as vítimas dos torcedores e também outras garotas, que tiveram contato amistoso com estrangeiros, têm sido alvo de insultos, de ameaças de violência física e até de morte. “Vou cortar seu útero”, diz uma das mensagens.
A garota que aparece cercada pelos brasileiros teve a vida vasculhada, foi culpada pelo abuso que sofreu e acusada de envergonhar seus compatriotas. Para se proteger, apagou a sua página da VKontakte, rede social russa, com 30 milhões de usuários. Mas a essa altura do campeonato todos sabem quem ela é. 
Os ataques têm partido de vários grupos, alguns que se autodenominaram The Pink Vagina Group, em alusão ao episódio que envolveu nossos torcedores. Para quem tinha alguma dúvida da estupidez do machismo tupiniquim, essas garotas estão sendo punidas pela segunda vez, pelo machismo violento e pela xenofobia dos russos, que tem feito também várias outras vítimas. 
Mariliz Pereira Jorge
Jornalista e roteirista de TV.

Um jogo de faz de contas: (des)controle interno, no legislativo estadual bandeirante, por Marcelo Nerling, GGN

Um jogo de faz de contas: (des)controle interno, no legislativo estadual bandeirante
por Marcelo Nerling
Prevenir a corrupção é função de todos, mas quem controla deve dar o exemplo.
O momento da campanha, na busca do voto pode ser oportuno ao eleitor perguntar, para sua candidata ou candidato: qual o estado da arte, sobre o sistema de controle interno do legislativo bandeirante, e como esse sistema se articula com os demais órgãos de controle interno do Executivo, do Judiciário, do Ministério Público e do Tribunal de Contas?
Nós ofertamos uma hipótese ao problema: há décadas, não passa de um jogo de faz de contas! Não há um sistema de controle interno no legislativo paulista e tampouco uma articulação de sistema unificado como determina a Constituição. Talvez, um problema recorrente, um mal-estar ‘civilizatório’ federativo, pouco republicano! Faltam porquês para instituições de controle tão pífias, tão capazes e desconsertadamente dispostas a deslegitimar a democracia.
Recorde que é no governo republicano que se tem a necessidade de toda a ‘força da educação para a virtude política’, que deveria significar uma renúncia pessoal, pelo amor às leis e a pátria, o que exige sempre a supremacia do interesse público sobre o interesse particular. Esse amor é inspirador e deve ser implantado na educação atenta. Porém, para que as crianças possam tê-lo, há um meio seguro: é que os próprios pais o possuam!
“Não é a nova geração que se degenera; essa só se perde quando os homens maduros já estão corrompidos” (Montesquieu). Uma mirada no tempo presente, e parece que uma geração de homens e mulheres maduros foram corrompidos, e não deixaram exemplo que sirva à educação para a virtude política.
É uma história de políticos omissos na matéria do sistema de controle interno do poder legislativo estadual bandeirante. Ineficientes, degeneraram a virtude política e o espírito das leis, e assim, o amor às leis e a pátria. A omissão na criação do sistema de ‘controle interno do poder legislativo’, por essa geração de corrompidos, de incapazes de trabalhar na arte do possível em nome do interesse público, mesmo subsidiados, não concretizaram a missão legada pelo constituinte ordinário e não honraram o que juraram cumprir: a Constituição do Estado de São Paulo.
Quase três décadas, ou sete legislaturas foram necessárias para que as ‘disposições transitórias’ sobre a modernização no controle do legislativo viessem à lume no Palácio 9 de julho. O Projeto de Lei Complementar 28/2017, trata da criação da “Controladoria Geral da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo”.
No mérito, ela já nasce centralizada, é excludente e refratária aos mandatos singulares e vinculada à Mesa Diretora, com competências nas funções de controle e auditoria interna; acompanhamento e fiscalização operacional, orçamentário, financeiro, patrimonial e contábil, além da avaliação das metas plurianuais, das diretrizes e do orçamento anual, quanto à eficiência, eficácia e economicidade da gestão das políticas públicas da ALESP, e deve melhorar o planejamento e a transparência sobre a governança e a governabilidade de quem deve agir com responsabilidade fiscal no dever de prestar contas.
Esse sistema permitirá a formação de um padrão para articulação/interoperabilidade com os demais órgãos de controle interno do Executivo, do Judiciário, Ministério Público e do próprio Tribunal de Contas, como determina a Constituição do Estado. O sistema servirá de base, de diretriz para a consolidação de um sistema integrado de recursos e gastos públicos no Estado.
O controle interno é fundamental para alertar autoridades sobre impropriedades, imprecisões, erros de procedimento, ou para informar a necessidade de instauração de tomada de contas em programas, projetos, atividades e ações que envolvam bens, recursos, valores ou direitos do tesouro.
É necessário que ventos de mudança soprem com transição geracional de valor positivo, para que modernizemos o controle interno do legislativo e dos demais poderes da república. Pensa em um voto para a concretização da Constituição paulista de 05/10/1989, que no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias deu um prazo de 180 dias para que os três poderes apresentassem uma forma de “integração de seus controles internos”.
Os controladores estão nus! Nos termos do Artigo 35 da CESP, não há autonomia para privilégios contra a Constituição do povo paulista. Após 28 anos, uma proposição entrou em regime de urgência e, passados nove meses, o projeto segue a tramitar com substitutivos e emendas que precisam de atenção social e parlamentar, algo raro em ano eleitoral, além da liquidez do controle social.
Controle interno do legislativo é medida constitucional impostergável. Eis aí um tema forte na decisão do seu voto para deputado estadual na próxima eleição. Controle interno do legislativo, você é contra ou a favor?



NERLING, Marcelo Arno, 48, professor de ‘direito financeiro e controladoria do poder legislativo’ na Pós-graduação Lato Sensu em Gestão de Políticas Públicas no Legislativo (EACH/USP-ILB/ALESP, 2017). mnerling@usp.br