China dá baile em internet das coisas
Em Pequim, morador de rua carrega placa com seu código QR para receber ajuda
Na semana passada, aconteceu na Universidade Columbia, em Nova York, um evento para promover o diálogo entre o Brasil e a China sobre a chamada internet das coisas. O termo denota a tendência de que tudo tende a se conectar à internet. Desde objetos cotidianos, como lâmpadas, a maquinário industrial.
O Brasil está prestes a lançar oficialmente seu plano nacional para essa área. Faz sentido. A onda de conectar objetos vai gerar um novo ciclo de inovação que está só no começo. O plano brasileiro (do qual participei) prioriza quatro setores: saúde, cidades inteligentes, manufatura e produção rural.
A China, por sua vez, lançou seu plano de internet das coisas em 2010. Colhe agora os frutos do investimento na área. Enquanto o Brasil investe perto de 1% do PIB (Produto Interno Bruto) em ciência e tecnologia (com a maior parte vinda de recursos públicos), a China investe 2,1%, sendo que 75% do valor vem de empresas.
Os resultados são visíveis. A tecnologia mudou a sociedade chinesa. Hoje praticamente ninguém mais usa dinheiro. Todos os pagamentos são feitos por celular. Basta caminhar pelas ruas de Pequim para notar que os moradores de rua carregam placas com seu código QR para receber ajuda. Sabem que a chance de conseguir um trocado em dinheiro é ínfima.
O mesmo acontece com carregadores de mala nos hotéis. Usualmente portam um crachá com seu código QR. Ou, ainda, em festas de casamento. Na entrada há um painel com o código da noiva e do noivo, para que cada um possa receber presentes diretamente.
Outra vítima dessa mudança tecnológica são as “maquininhas” para pagamentos por débito ou crédito. Elas desapareceram. Tudo o que um lojista precisa hoje para aceitar pagamentos digitais é uma folha de papel com seu código QR impresso.
Para pagar, o cliente lê o código do lojista com o celular e digita o valor. O dinheiro é transferido na hora, sem nenhuma taxa de intermediação.
Outra evolução que a internet das coisas trouxe na China é o surgimento de lojas meramente demonstrativas. Elas não têm estoque nem vendem nada. São grandes mostruários onde o consumidor vê os produtos, experimenta roupas e assim por diante.
Se gostar de algo, escaneia o código do produto com o celular, fazendo também o pagamento digitalmente. O produto é então entregue na sua casa no mesmo dia.
Outra inovação comum na China (que começa a chegar ao Brasil) são bicicletas públicas sem estação fixa (“dockless bikes”). Não precisam ser colocadas de volta. Podem ser deixadas em qualquer lugar.
Claro que há recomendações sobre como estacioná-las (não obstruindo passagens, por exemplo). Mas a decisão é de cada pessoa. Como cada bicicleta tem um GPS, são então reorganizadas todas as noites conforme a demanda.
Há hoje 2,3 milhões de bicicletas desse tipo em Pequim. A primeira hora de uso é sempre gratuita. Cada hora adicional custa o equivalente a R$ 0,50, e o valor máximo por 24 horas é de R$ 5.
A impressão é que a China está ao menos cinco anos na frente do Ocidente no uso da tecnologia. Apesar disso, é questão de tempo para que essas mudanças cheguem também entre nós.
Já era Celulares de tela pequena
Já é Celulares de telas grandes
Já vem Celulares com três telas diferentes
Ronaldo Lemos
É advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio e representante do MIT Media Lab.