sábado, 10 de fevereiro de 2018

“Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”, El Pais


O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, um destacado dissecador da sociedade do hiperconsumismo, fala sobre suas críticas ao “inferno do igual”

Byung-Chul Han
O filósofo Byung-Chul Han em Barcelona  EL PAÍS
As Torres Gêmeas, edifícios idênticos que se refletem mutuamente, um sistema fechado em si mesmo, impondo o igual e excluindo o diferente e que foram alvo de um ataque que abriu um buraco no sistema global do igual. Ou as pessoas praticando binge watching (maratonas de séries), visualizando continuamente só aquilo de que gostam: mais uma vez, multiplicando o igual, nunca o diferente ou o outro... São duas das poderosas imagens utilizadas pelo filósofo sul coreano Byung-Chul Han (Seul, 1959), um dos mais reconhecidos dissecadores dos males que acometem a sociedade hiperconsumista e neoliberal depois da queda do Muro de Berlim. Livros como A Sociedade do CansaçoPsicopolítica e A Expulsão do Diferente reúnem seu denso discurso intelectual, que ele desenvolve sempre em rede: conecta tudo, como faz com suas mãos muito abertas, de dedos longos que se juntam enquanto ajeita um curto rabo de cavalo.
“No 1984 orwelliano a sociedade era consciente de que estava sendo dominada; hoje não temos nem essa consciência de dominação”, alertou em sua palestra no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB), na Espanha, onde o professor formado e radicado na Alemanha falou sobre a expulsão da diferença. E expôs sua particular visão de mundo, construída a partir da tese de que os indivíduos hoje se autoexploram e têm pavor do outro, do diferente. Vivendo, assim, “no deserto, ou no inferno, do igual”.
Autenticidade. Para Han, as pessoas se vendem como autênticas porque “todos querem ser diferentes uns dos outros”, o que força a “produzir a si mesmo”. E é impossível ser verdadeiramente diferente hoje porque “nessa vontade de ser diferente prossegue o igual”. Resultado: o sistema só permite que existam “diferenças comercializáveis”.
Autoexploração. Na opinião do filósofo, passou-se do “dever fazer” para o “poder fazer”. “Vive-se com a angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito”, e se você não é um vencedor, a culpa é sua. “Hoje a pessoa explora a si mesma achando que está se realizando; é a lógica traiçoeira do neoliberalismo que culmina na síndrome de burnout. E a consequência: “Não há mais contra quem direcionar a revolução, a repressão não vem mais dos outros”. É “a alienação de si mesmo”, que no físico se traduz em anorexias ou em compulsão alimentar ou no consumo exagerado de produtos ou entretenimento.
‘Big data’.”Os macrodados tornam supérfluo o pensamento porque se tudo é quantificável, tudo é igual... Estamos em pleno dataísmo: o homem não é mais soberano de si mesmo, mas resultado de uma operação algorítmica que o domina sem que ele perceba; vemos isso na China com a concessão de vistos segundo os dados geridos pelo Estado ou na técnica do reconhecimento facial”. A revolta implicaria em deixar de compartilhar dados ou sair das redes sociais? “Não podemos nos recusar a fornecê-los: uma serra também pode cortar cabeças... É preciso ajustar o sistema: o ebook foi feito para que eu o leia, não para que eu seja lido através de algoritmos... Ou será que o algoritmo agora fará o homem? Nos Estados Unidos vimos a influência do Facebook nas eleições... Precisamos de uma carta digital que recupere a dignidade humana e pensar em uma renda básica para as profissões que serão devoradas pelas novas tecnologias”.
Comunicação. “Sem a presença do outro, a comunicação degenera em um intercâmbio de informação: as relações são substituídas pelas conexões, e assim só se conecta com o igual; a comunicação digital é somente visual, perdemos todos os sentidos; vivemos uma fase em que a comunicação está debilitada como nunca: a comunicação global e dos likes só tolera os mais iguais; o igual não dói!”.
Jardim. “Eu sou diferente; estou cercado de aparelhos analógicos: tive dois pianos de 400 quilos e por três anos cultivei um jardim secreto que me deu contato com a realidade: cores, aromas, sensações... Permitiu-me perceber a alteridade da terra: a terra tinha peso, fazia tudo com as mãos; o digital não pesa, não tem cheiro, não opõe resistência, você passa um dedo e pronto... É a abolição da realidade; meu próximo livro será esse: Elogio da Terra. O Jardim Secreto. A terra é mais do que dígitos e números.
Narcisismo. Han afirma que “ser observado hoje é um aspecto central do ser no mundo”. O problema reside no fato de que “o narcisista é cego na hora de ver o outro” e, sem esse outro, “não se pode produzir o sentimento de autoestima”. O narcisismo teria chegado também àquela que deveria ser uma panaceia, a arte: “Degenerou em narcisismo, está ao serviço do consumo, pagam-se quantias injustificadas por ela, já é vítima do sistema; se fosse alheia ao sistema, seria uma narrativa nova, mas não é”.
Os outros. Esta é a chave para suas reflexões mais recentes. “Quanto mais iguais são as pessoas, mais aumenta a produção; essa é a lógica atual; o capital precisa que todos sejamos iguais, até mesmo os turistas; o neoliberalismo não funcionaria se as pessoas fossem diferentes”. Por isso propõe “retornar ao animal original, que não consome nem se comunica de forma desenfreada; não tenho soluções concretas, mas talvez o sistema acabe desmoronando por si mesmo... Em todo caso, vivemos uma época de conformismo radical: a universidade tem clientes e só cria trabalhadores, não forma espiritualmente; o mundo está no limite de sua capacidade; talvez assim chegue a um curto-circuito e recuperemos aquele animal original”.
Refugiados. Han é muito claro: com o atual sistema neoliberal “não se sente preocupação, medo ou aversão pelos refugiados, na verdade são vistos como um peso, com ressentimento ou inveja”; a prova é que logo o mundo ocidental vai veranear em seus países.
Tempo. É preciso revolucionar o uso do tempo, afirma o filósofo, professor em Berlim. “A aceleração atual diminui a capacidade de permanecer: precisamos de um tempo próprio que o sistema produtivo não nos deixa ter; necessitamos de um tempo livre, que significa ficar parado, sem nada produtivo a fazer, mas que não deve ser confundido com um tempo de recuperação para continuar trabalhando; o tempo trabalhado é tempo perdido, não é um tempo para nós”.

O “MONSTRO” DA UNIÃO EUROPEIA

“Estamos na Rede, mas não escutamos o outro, só fazemos barulho”, diz Byung-Chul Han, que viaja o necessário, mas não faz turismo “para não participar do fluxo de mercadorias e pessoas”. Também defende uma política nova. E a relaciona com a Catalunha, tema cuja tensão atenua brincando:
“Se Puigdemont prometer voltar ao animal original, eu me torno separatista”.
Já no aspecto político, enquadra o assunto no contexto da União Europeia: “A UE não foi uma união de sentimentos, mas sim comercial; é um monstro burocrático fora de toda lógica democrática; funciona por decretos...; nesta globalização abstrata acontece um duelo entre o não lugar e a necessidade de ser de um lugar concreto; o especial é incômodo, gera desassossego e arrebenta o regional. Hegel dizia que a verdade é a reconciliação entre o geral e o particular e isso, hoje, é mais difícil...”. Mas recorre à sua revolução do tempo: “O casamento faz parte da recuperação do tempo livre: vamos ver se haverá um casamento entre a Catalunha e Espanha, e uma reconciliação”.

JK, COPA DO MUNDO E BOSSA NOVA: “1958, O ANO EM QUE O MUNDO DESCOBRIU O BRASIL”, Balaio

  

A taça do mundo é nossa
Com brasileiro não há quem possa
Eêta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom no couro
(Primeira estrofe da música “A Taça do Mundo é Nossa”, de autoria de Wagner Maugeri, Lauro Müller, Maugeri Sobrinho e Victor Dagô, cantada pelos brasileiros após a conquista da Copa do Mundo de 1958 na Suécia).
***
Faz 60 anos este ano.
Em 1958, quando o Brasil ganhou sua primeira Copa do Mundo, Juscelino Kubitschek entrava no seu terceiro ano de governo, a Bossa Nova e o Cinema Novo começaram a fazer sucesso aqui e no exterior, Brasília era plantada no cerrado, a Ford inaugurava sua primeira fábrica no Brasil.
Foi o ano de afirmação do Brasil como Nação, no embalo de um povo feliz e orgulhoso, a época de ouro em que largamos o complexo de vira-latas e demos início a um círculo virtuoso na economia, na cultura e na política.
Está todo mundo falando agora dos 50 anos de 1968, o ano que bagunçou o mundo, mas nos esquecemos de celebrar os 60 anos do inesquecível ano de 1958.
Quem me chamou a atenção para tudo de bom que aconteceu dez anos antes foi o amigo Ludembergue Góes, decano da velha Turma do Estadão, que completou 83 anos esta semana.
Eu tinha 10 anos, mas me lembro bem da grande festa depois da goleada por 5 a 2 contra a Suécia em Estocolmo, no dia 29 de junho de 1958 _  o Pelé com 17 anos e o Garrincha das pernas tortas barbarizando naquela final histórica que ouvimos pelo rádio, na voz potente de Edson Leite, pela rádio Bandeirantes de São Paulo, no comando da Cadeia Verde Amarela Norte Sul.
Ao fazer uma rápida pesquisa sobre os principais fatos daquele ano, encontrei um documentário de José Carlos Asbeg sobre aquela conquista, o melhor resumo do que foi 1958 para nós, “o ano em que o mundo descobriu o Brasil”.
E eu descobri na internet um fantástico projeto de José Henrique Fialho, pesquisador mineiro que publicou em seu blog a série “Década de 50 – Quando a felicidade parecia bater às portas do Brasil”.
Para quem viveu aquele ano lembrar e para quem nasceu depois ficar sabendo, listei alguns dos episódios e fatos mais marcantes de 1958 na sociedade, no teatro, na literatura, na vida, enfim:
  • 1958 foi o ano em que Fernanda Montenegro, a melhor atriz brasileira de todos os tempos, se consagrou com a peça “Panorama Visto da Ponte”, de Arthur Miller.
  • Dois dias após a vitória na Suécia, que enlouqueceu os brasileiros de alegria e orgulho, JK inaugurou em Brasília o Palácio da Alvorada, primeiro marco da nova capital do país.
  • No dia 22 de fevereiro, estreou no Teatro de Arena a antológica peça “Eles não usam Black-Tie”, de Gianfracesco Guarnieri.
  • Raimundo Faoro lançou no mesmo ano a sua obra prima sobre a formação política do país, “Os Donos do Poder”, uma “análise weberiana do caráter burocrático das classes dirigentes lusitana e brasileira”, segundo Darcy Ribeiro, e deu no que deu.
  • Jorge Amado lança “Gabriela Cravo e Canela”, campeão de vendas aqui e lá fora.
  • A USP instala o primeiro reator nuclear na América Latina.
  • A Odeon lança em disco de 78 rotações “Chega de Saudade”, o hino inaugural da Bossa Nova, de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, interpretada pelo então quase desconhecido João Gilberto.
  • Elisete Cardoso grava o LP “Canção do Amor Demais”, também de Tom e Vinicius.
  • No dia 15 de maio, JK cria a Rodobrás e nomeia Bernardo Sayon para cuidar da construção da Belém-Brasília, a grande rodovia de integração Nacional.
  • Chamado de “Presidente Bossa Nova”, nosso presidente dançarino, sempre com um sorriso no rosto, promove a rápida industrialização do país para a substituição de importações de bens de consumo duráveis, com vultosos investimentos do Estado em energia elétrica, transportes, construção e modernização de portos e estradas.
  • Rock Hudson se esbalda no carnaval carioca e pula com uma faixa de “Princesa do Carnaval” no peito.
  • Inspirado na peça de Vinicius de Moraes, o filme “Orfeu Negro”, dirigido pelo francês Marcel Camus, com 42 atores negros, levou o Oscar de melhor filme estrangeiro e a Palma de Ouro em Cannes.
  • Chega ao Rio o subsecretário do governo norte-americano, Roy Rubotton, para anunciar um programa de desenvolvimento econômico multilateral, a Operação Pan-Americana.
Esta semana, por coincidência, Rex Tillerson, secretário de Estado dos EUA, fez um giro pelos principais países da América do Sul. Só não veio ao Brasil.
Não é para menos: voltamos a ser um país anão e o mundo esqueceu o Brasil, 60 anos depois de descobri-lo.
Em lugar de Juscelino Kubitschek na Presidência da República, temos hoje o sorumbático bacharel Michel Temer _ e não é preciso dizer mais nada.
Não quero estragar o Carnaval de ninguém, que não é hora de falar destas coisas deprimentes, mas lembrar as glórias do passado pode nos ajudar a enfrentar as agruras do presente e sonhar com um futuro melhor. Pena que o tempo não volta.
O Brasil já foi um belo país e, como escreveu José Henrique Fialho no título da sua pesquisa, “a felicidade parecia bater às portas do Brasil”.
Pois é, parecia…
“Tudo certo pra dar merda” é o premonitório nome de um bloco do carnaval carioca citado neste sábado na coluna do filósofo popular José Simão, na Folha.
E vida que segue.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

O país do carnaval e das novelas, *Fernando Gabeira, O Estado de S.Paulo


Do maior dos enredos, as eleições, espera-se gente que nos possa ajudar a sair do buraco

*Fernando Gabeira, O Estado de S.Paulo
09 Fevereiro 2018 | 03h11
Dizem que no Brasil o ano só começa depois do carnaval. Não é verdade, pelo menos em 2018. Há várias novelas em andamento e o carnaval será uma simples pausa na sua trajetória.
A nomeação da deputada Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho é uma delas. O governo cometeu um erro na escolha. À medida que os fatos vão ampliando a dimensão desse erro, Temer insiste em manter sua decisão, apesar do imenso desgaste.
O que fazer diante de pessoas que percebem o erro, mas insistem em levá-lo até o fim? Talvez desejar que Deus as proteja delas mesmas.
A outra novela é a tentativa de Lula de escapar das consequências de uma condenação em segunda instância. É uma expectativa que envolve o Supremo Tribunal, a quem se pede, no fundo, a negação do fundamento que inspirou as investigações da Operação Lava Jato: a lei vale para todos. Não há condições de mudá-la sem que isso represente uma imensa fratura na já combalida credibilidade da instituição.
A terceira é mais delicada, porque envolve a Justiça e a sociedade, que a apoiou no curso das investigações e das sentenças. Auxílios-moradia, salários turbinados, juízes combatendo uma necessária reforma da Previdência Social – tudo isso vai criando uma distância que ainda pode ser reparada pelo bom senso.
A Justiça tardou a compreender que o movimento de combate à corrupção com apoio da sociedade certamente traria uma visão mais severa sobre o uso do dinheiro público. O fato de oportunistas tentarem invalidar a luta contra a corrupção porque os juízes recebem salário-moradia em cidades onde têm residência é inconsistente e não está aí o maior problema.
É possível dizer que a Justiça parcialmente triunfou sobre o gigantesco esquema de corrupção. Mas é um tipo de luta que imediatamente leva a um novo patamar: o da coerência.
A reforma é também um confronto com as corporações. A dos juízes está em posição especial para constatar como o País foi saqueado e como a máquina do Estado é inflacionada com cargos em comissão e inúmeros penduricalhos.
Estamos na lona. Mas esperando que as instituições confiáveis, como a Justiça e as próprias Forcas Armadas, se aproximem do esforço nacional de ajustar o País à sua realidade financeira.
Não é só a luta contra a corrupção nem o princípio de que a lei vale para todos que estão em jogo. Há toda uma luta silenciosa no País contra a ideia de que todos querem vantagens públicas, mesmo os que aplicam a lei.
Desejo um final feliz para essa novela, uma vez que dela depende, em parte, o futuro de uma reconstrução baseada na aliança de amplos setores da sociedade com as instituições confiáveis.
Um dos meus argumentos contra a luta armada é que ela precisa criar um exército de salvação nacional para triunfar. Depois, quem nos salvará dos salvadores? Claro que vivemos uma situação diversa, mas é importante que a Justiça, após um trabalho nacionalmente aprovado, reconheça que ela mesma precisa se ajustar aos tempos que ajudou a moldar.
Tudo isso ainda nos espera depois do carnaval, abrindo alas para o enredo maior de 2018: eleições. Delas é possível esperar a escolha de gente que nos possa ajudar a sair do buraco não só da economia, mas também do desencanto geral com os rumos do País.
A reforma da Previdência foi conduzida por um governo impopular. Mas ela não é necessariamente impopular se reduz privilégios, cobra dos devedores e garante um futuro menos instável. Não precisa vir numa situação já de emergência, como na Grécia, trazendo insegurança e sofrimento. Ou como no Rio, para não ir mais longe.
Minha expectativa é de que isso se resolva bem na campanha. Os candidatos sabem que a reforma é necessária. Ou a defendem ou serão obrigados a fazê-la depois, nesse caso com baixa legitimidade, porque mentiram na campanha.
É uma ilusão da esquerda negar uma reforma necessária. Um dos fatores que a levam à resistência é o fato de estar muito enraizada nas corporações. Nesse caso pesa também o cálculo eleitoral. Até que ponto perder parcialmente o apoio dos funcionários públicos seria recompensado em votos pelos contribuintes?
Não só a esquerda vive esse dilema, mas o sistema político-partidário no seu conjunto. Ele não tem fôlego para realizar uma tarefa decisiva. Tornou-se um obstáculo às chances de reconstrução econômica. Entre outras, essa é uma das fortes razões para esperar mudanças a partir das escolhas de 2018.
Se o carnaval dá uma pausa para as novelas políticas, ele é implacável com a tragédia da violência urbana. Tudo continua. No Rio, três grandes vias, Linha Vermelha, Linha Amarela e Avenida Brasil, foram interditadas por tiroteios entre polícia e bandidos. Um menino e um homem morreram. Balas perdidas, governo perdido.
Já é um pouco estranho que tanta gente pare para fazer o carnaval. Mas seria mais estranho ainda que o governo parasse sobretudo nesta emergência. Existem graves problemas de violência no Norte e no Nordeste, mas o caso do Rio tem algumas agravantes.
A situação é tão grave que os responsáveis por atenuar o problema o examinam de certa distância. O ministro da Defesa declarou que o sistema de segurança está falido e o governador Pezão disse que na Rocinha se mata policial como se mata galinha. São bons comentários para um programa de rádio, mas quem está na linha de frente, ao dizer isso, imediatamente tem de responder a perguntas como: e daí? E os tiroteios? Como é que vai ser? Significa que estamos sós e desarmados antes, durante e depois do carnaval?
A moderada esperança nas eleições não significa abstrair problemas que não podem esperar, não só porque envolvem vidas, mas porque podem criar um terreno fértil para soluções autoritárias.

*Jornalista