quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O impacto do petróleo, por Celso Ming


CELSO MING
07 Janeiro 2015 | 21:00
As cotações do petróleo desabaram 34% em apenas seis semanas (veja o gráfico). Ninguém se atreve a apontar para o fundo do poço nem para o nível em que oferta e procura se reequilibrarão.
Este é um mercado volátil, sujeito a grande número de variáveis que, a todo momento, mudam seu peso na equação. Os preços vieram abaixo não porque a Opep, ou, mais particularmente, a Arábia Saudita, tenha interferido na delicada relação entre produtores e consumidores. Ao contrário, a decisão tomada no dia 27 de novembro, que afundou os preços, foi de deixar tudo como está. Além disso, grande número de produtores está em regiões expostas a conflitos armados, cujos poços e instalações estão sujeitos a ataques.
PETRÓLEO
O que já aconteceu é suficientemente forte para mudar muita coisa. Se mantidos por um ano, os atuais preços deverão provocar uma poupança de pelo menos US$ 1,5 trilhão entre os consumidores. É o quanto deixarão de gastar em combustíveis e, no caso das térmicas, em energia elétrica. Essa economia, correspondente a transferências de renda de produtores aos consumidores, equivale ao que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) emitiu de setembro de 2012 a outubro de 2014 para recuperar a economia americana.
Além de ser novo (e forte) estímulo para a economia mundial, essa alentada sobra de renda é fator de aumento do consumo de combustíveis e, mais adiante, de recuperação dos preços.
O objetivo declarado da Opep com sua decisão de novembro foi derrubar os concorrentes que operam a custos altos. A cada queda de preços, o facão vai decepando negócios e projetos de investimento. Essas quebras não são automáticas porque o ciclo do petróleo leva mais de dez anos. Entre a descoberta de uma reserva e a produção contínua vão mais de oito. Quem começou um projeto não pode parar de repente. Mas novos investimentos tendem a ser adiados até que o novo equilíbrio fique mais claro. Este fator deverá derrubar também os preços dos equipamentos de petróleo tais como sondas, navios-plataforma e dutos. Independentemente disso, o produtor tem de enfrentar redução do fluxo de caixa e a quebra de retorno.
O caso do pré-sal no Brasil é preocupante. Como já foi lembrado na Coluna de ontem, declarações recorrentes da presidente Graça Foster e do diretor de produção e exploração, José Formigli, dão conta de que o custo de produção do pré-sal brasileiro varia de US$ 45 a US$ 50 por barril, aí incluídos os custos da infraestrutura. Isso significa que, aos preços de hoje, a viabilidade do pré-sal começa a enfrentar questionamentos. Continuar exigindo que os produtores brasileiros (e não só a Petrobrás) paguem substancialmente mais para dar preferência a equipamentos nacionais pode agravar situações já muito delicadas.
A nova relação de preços e de expectativas de retorno tende a reduzir a capacidade de endividamento das petroleiras, especialmente a da Petrobrás, que enfrenta problemas graves.
Toda a política de petróleo – e não somente a dos preços dos combustíveis – está pedindo por revisão, à luz do que acaba de ser entendido.
CONFIRA:
Minério de ferro
O gráfico mostra a evolução dos preços do minério de ferro. Nos últimos 15 dias, houve uma boa recuperação, que se refletiu na alta das ações preferenciais da Vale, de quase 4% só nos primeiros quatro pregões de 2015.
E o comércio exterior?
Nesta quarta, em seu discurso de posse, o novo ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, afirmou que “não há política industrial sem política ativa de comércio exterior”. Nesse setor, a presidente Dilma precisa mudar muito. Não houve política de comércio exterior no Dilma1. Nem houve política de Relações Exteriores.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Biomassa já responde por quase 10% de toda a matriz energética do Brasil | Jornal da Globo



Biomassa é a matéria de origem vegetal ou animal que pode virar energia. Entre os resíduos usados, está o bagaço de cana e os resíduos florestais.


A biomassa já responde por quase 10% da matriz energética brasileira e hoje é uma das principais linhas de pesquisa no país. Inclusive, já tem empresa produzindo a própria energia a partir da casca de arroz e de aveia.
A maioria dos brasileiros pode até não saber o que é biomassa, mas ela está pertinho da gente, todo santo dia.
“Biomassa é toda matéria de origem vegetal ou animal que inclui resíduos, inclui plantações energéticas, inclui plantações de árvores, que podem ser também aproveitadas energeticamente e, até mesmo, resíduos sólidos urbanos, como, por exemplo, o lixo das cidades, resíduos rurais e resíduos de animais”, explica Suani Coelho, coordenadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa da USP (Universidade de São Paulo).
É difícil imaginar um país com mais biomassa que o Brasil e com tanto potencial. A biomassa responde por 9,53% da matriz energética brasileira.
Destaque para o bagaço de cana, resíduos florestais, lichivia, que é um subproduto da indústria papeleira, biogás do lixo e de resíduos agropecuários, casca de arroz, entre outras fontes. Mas, segundo os cientistas, o potencial de exploração energética da biomassa do nosso país equivaleria em uma conta conservadora a pelo menos quatro hidrelétricas de Itaipu.
Apenas a queima do bagaço de cana gera 10 mil megawatts. “Metade disso é para consumo próprio das usinas, mais ou menos metade é usada para ser exportada para a rede. Mas nós temos um potencial para dobrar essa exportação para a rede, portanto podemos ter mais de  uma Itaipu sendo produzida e sendo injetada na rede”, aponta Suani Coelho.
É recente no país a exploração do gás do lixo, como já existe nos dois principais aterros de São Paulo. O Bandeirantes e o São João já foram desativados, mas continuam gerando aproximadamente 3% de toda a energia elétrica consumida na maior cidade do país. Mas se lixo urbano gera energia, o que dizer do lixo agrícola?
Uma fábrica de aveia no Rio Grande do Sul descobriu há três anos que a casca do cereal, descartada como resíduo, poderia substituir o gás natural. Desde então, 2.500 kg de casca são queimados por hora, uma economia de 30% no consumo de energia.
“Essa economia, além das mais de mil toneladas de gás efeito estufa que nós deixamos de pôr no ambiente, acaba tendo também uma economia real monetária e este é um bom exemplo em que nós produzimos de uma forma mais limpa e temos também o beneficio econômico”, afirma Manuel Ribeiro, vice-presidente de operações da PepsiCo Brasil.
A matriz da multinacional festeja o feito da filial brasileira. É a primeira unidade deles no mundo que apostou na casca de aveia e se deu bem. E o que vale para a casca de aveia, vale também para a casca de arroz.
Uma fábrica na cidade gaúcha de Alegrete recebe todo o arroz produzido emum raio de 200 km.
A montanha de grãos que chega lá tem dois destinos. O miolo do arroz vira alimento. A casca se transforma em 5 megawatts de energia, o suficiente para abastecer a fábrica inteira e ainda cerca de 14 mil residências.
E do processo, patenteado pela empresa, saiu ainda um novo produto: a sílica ecológica, usada para engrossar a mistura de concreto e argamassa.
“Hoje essa sílica é uma realidade da empresa e nós já  estamos comercializando em todos os estados da Região Sul e, inclusive, no estado de São Paulo”, informa Lucas Matel, engenheiro químico da empresa.
O poder energético da biomassa é tão importante que se tornou uma das principais linhas de pesquisa da Embrapa Bioenergia, em Brasília.
Em uma parte do laboratório são guardadas amostras de biomassa que estão sendo investigadas pelos pesquisadores da Embrapa. O cavaco de madeira é um resíduo muito comum na  indústria de papel e celulose no Brasil. Tem ainda o capim elefante, que já é fonte de energia na Bahia.
Os gaúchos conhecem a casca de arroz queimada que vira energia renovável e a estrela de todas as biomassas de origem vegetal: o bagaço de cana. O objetivo das pesquisas é abrir novos caminhos no mercado para essas e outras fontes de energia vegetais.
Todas as amostras do laboratório são trituradas em máquinas especiais. Depois, esses equipamentos medem o quanto de energia cada uma é capaz de gerar. Os resultados são animadores.
“A grosso modo, falando, a gente poderia, com as tecnologias que temos hoje, talvez ter mais duas ou três ou mesmo quatro Itaipus de biomassa. Em uma época em que a energia está tão cara e tão escassa, isso faz diferença”, diz José Dilce Rocha, pesquisador da Embrapa Agroenergia em Brasília.
No país do pré-sal, não é preciso buscar nem muito fundo, nem muito longe, energia limpa e renovável barata e farta. Basta prestar atenção no que está por aí.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Novo secretário de Recursos Hídricos de SP defende água mais cara (pauta AL), da Época


Benedito Braga assumirá secretaria estadual a partir de janeiro. Em entrevistas a ÉPOCA neste ano, Braga defendeu multa para quem gasta muita água, mas descartou racionamento ou rodízio

BRUNO CALIXTO
11/12/2014 16h39 - Atualizado em 11/12/2014 16h43
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O presidente do World Water Council, professor Benedito Braga (Foto: Divulgação)
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin,trocará o secretário de Recursos Hídricos, responsável pelo abastecimento na cidade e por enfrentar a pior crise de falta d'água da história de São Paulo. O atual, Mauro Arce, será substituído por Benedito Braga, professor da USP e presidente do Conselho Mundial da Água. O novo secretário assumirá o cargo em janeiro.
ÉPOCA conversou com o novo secretário duas vezes. Em maio, em uma entrevista, Braga defendeu as obras para usar o volume morto do Sistema Cantareira, que na época ainda não estavam concluídas. Ele também descartou qualquer tipo de racionamento ou rodízio de água. "O rodízio não é um bom procedimento. Você corre o risco de contaminar o conduto. Isso não é apropriado do ponto de vista técnico e da saúde pública", disse, na ocasião.
Para enfrentar a crise, Braga defende principalmente o uso de instrumentos econômicos. A multa para famílias que gastam mais água do que a média, por exemplo, é uma delas. "As pessoas só vão entender que a água é preciosa quando ela custar caro. Eu faria uma multa até mais pesada do que a que o governo está planejando (à época da entrevista, o governo de São Paulo cogitou multar o consumo excessivo, mas a medida acabou descartada) – dobrar ou até triplicar a tarifa de quem desperdiça água, para mostrar que a situação é grave", disse.
No final de novembro, ÉPOCA voltou a conversar com Braga. Ele reafirmou a necessidade de usar instrumentos econômicos para conservar a água, e sugeriu uma tarifa progressiva. Nessa proposta, cada família teria um limite de consumo, definido de acordo com o consumo médio da casa. "Se a família ultrapassar o limite, a tarifa passa a ser três vezes mais cara. Se gastar ainda mais, seis vezes mais cara. E assim por diante", disse Braga. Segundo ele, a vantagem do método é que ele não precisa ser aprovado no legislativo, bastando uma autorização da agência reguladora para ser colocada em prática.
O governador Geraldo Alckmin e o futuro secretário Benedito Braga ainda não falaram sobre as políticas que serão adotadas a partir de janeiro de 2015. No entanto, a nomeação de um especialista que por diversas vezes defendeu o uso de instrumentos econômicos para enfrentar o desperdício pode indicar uma inclinação do governo em tentar enfrentar a crise tornando a água mais cara para os consumidores.