terça-feira, 8 de abril de 2014

Racionamento de informação


05 de abril de 2014 | 2h 04

CLAUDIO J. D. SALES E EDUARDO MÜLLER MONTEIRO - O Estado de S.Paulo
A ocorrência de um racionamento de energia elétrica põe qualquer país em trajetória econômica muito negativa e é interpretada por qualquer governante como pesadelo político tão pesado que a simples menção à palavra "racionamento" (e similares, como "apagão" e "blecaute", apesar de equivocadas) é considerada tabu a ser evitado a qualquer custo por recomendação de marqueteiros e estrategistas eleitorais.
Governantes podem até se preocupar com sua imagem político-eleitoral, mas é preciso aceitar que o limite desse direito acaba quando a sociedade passa a ser privada de informações claras e objetivas sobre a real situação de oferta de energia e sobre as perspectivas futuras. A falta de boa informação, além de subestimar a capacidade de compreensão e reação da sociedade, produz ineficiências e custos adicionais.
A situação pela qual o Brasil passa é de "estresse" (como passou a dizer o próprio governo) caracterizado pela seguinte combinação: 1) todas as usinas termoelétricas disponíveis estão ligadas para poupar água nos reservatórios de usinas hidrelétricas; 2) apesar disso, o nível de armazenamento dos reservatórios na Região Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO), a mais relevante do sistema, está em 35,3%, tendo aumentado apenas 0,7% entre 1.º e 21 de março; 3) o período de chuvas na região (de novembro a abril) se encerra em menos de 45 dias, prazo curto para que os reservatórios tenham cerca de 43% de energia armazenada, volume necessário para atravessarmos o período seco do ano sem maiores estresses.
A matriz elétrica é baseada na lógica hidrotérmica, segundo a qual nossos invejáveis 68% de capacidade instalada de hidrelétricas são complementados com termoelétricas (cerca de 30%), eólicas (cerca de 2%) e solares (fonte em fase de inserção).
Nossa matriz tem a vantagem de ser altamente renovável, mas a desvantagem de depender do regime de chuvas, que, neste ano, e em especial no SE/CO, tem sido de seca muito severa (o terceiro "pior" janeiro e o segundo "pior" fevereiro de nossa história). Esses fatos, porém, não justificam o estresse, pois os modelos computacionais usados no planejamento e na operação do sistema, baseados em séries históricas de chuvas, deveriam dar as respostas tanto para a expansão da oferta de energia quanto para a operação do sistema.
No médio e no longo prazos há muito o que aprimorar, especialmente nos critérios utilizados nos leilões de energia, mas, no curto prazo, decisões urgentes precisam ser tomadas.
Como estamos usando todas as termoelétricas de que dispomos, dependemos fundamentalmente de duas variáveis para chegar ao fim de abril com o nível dos reservatórios necessário: chuvas nas próximas seis semanas (variável que não controlamos) e redução do consumo pela sociedade.
Ao não comunicar a situação atual de forma clara e imparcial, o governo perde excelente oportunidade de compartilhar esse desconforto com os cidadãos brasileiros e de criar alternativas que poderiam evitar um racionamento ou, no mínimo, diminuir os riscos e/ou custos de um eventual racionamento.
A lista de alternativas que surgiriam com uma comunicação mais transparente seria fortemente derivada da mudança de percepção do consumidor sobre a situação de oferta de energia. Afinal, o consumidor brasileiro tem muitas razões para estar confuso. De um lado, ele ouviu da presidente da República que sua tarifa seria reduzida, um incentivo para consumir mais. De outro, ele ouve no noticiário análises sobre risco de racionamento, o que exigiria economizar energia.
Além de uma provável redução voluntária de consumo, o aumento da transparência governamental abriria caminho para a formulação de medidas regulatórias para a promoção da redução incentivada de consumo de forma a restabelecer a lógica econômica que se perdeu e que deve vincular escassez de oferta ao custo da energia.
SÃO PRESIDENTE E DIRETOR EXECUTIVO DO INSTITUTO ACENDE BRASIL
SITE: WWW.ACENDEBRASIL.COM.BR

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Abandonada, TV Senado está em más condições


Criada em 1996 para divulgar as atividades dos senadores, a TV Senado vive situação de sucateamento e abandono, segundo e-mails e relatos de servidores.
Com funcionários trabalhando em condições insalubres e equipamentos sem manutenção por quase um mês, a TV enfrenta cortes no orçamento devido à política de redução de gastos imposta pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
E-mails obtidos pela Folha e relatos de servidores que preferem não se identificar revelam que os serviços de manutenção foram suspensos após o contrato para a atualização dos equipamentos ser encerrado.
Nesse período, câmeras e ilhas de edição pararam de funcionar –após ser procurada pela reportagem, a Casa firmou contrato com validade de dois meses.
Quando as fitas para gravação acabaram, técnicos da emissora passaram a selecionar o que seria registrado e a descartar imagens anteriores.
Sem tinta para impressão, passaram a recorrer a outros departamentos do Senado.
Eles também se queixam do mau cheiro que emana do subsolo da TV, causado por um defeito na bomba que leva o esgoto do Senado até a Caesb (Companhia de Esgoto de Brasília). A situação já levou a direção da emissora a suspender o expediente por uma tarde devido ao "estado insalubre" causado pela"liberação de gases".
OUTRO LADO
Em nota, o Senado afirmou que a maior parte dos equipamentos da TV tem quase 15 anos de utilização, mas deve começar a ser substituída neste ano.
A Casa diz ainda que a falta de impressora não prejudica os trabalhos da TV.
Quanto ao esgoto, o Senado admite o problema e promete realizar a manutenção na bomba aos sábados.

domingo, 30 de março de 2014

À moda dos generais - JOSÉ ANÍBAL


O GLOBO - 23/03

A presidente tem mão forte sobre o setor desde que assumiu o Ministério de Minas e Energia



‘Eu prendo e arrebento”, disse o general Figueiredo ao falar sobre os que poderiam se opor à abertura política (1979). “Eu faço e pronto. Dane-se quem não concordar”, poder-se-ia atribuir à presidente Dilma Rousseff em 2012, quando resolveu “criar” um novo modelo para o setor elétrico do Brasil. Danou-se!

A trama foi bem urdida. Afinal, a presidente tem mão forte sobre o setor desde que assumiu o Ministério de Minas e Energia, há 11 anos. Como devia saber o que estava fazendo, todos aplaudimos quando disse que queria reduzir o preço da energia no Brasil. Não disse como. Mas logo ficou claro: com o chapéu dos outros.

Bem embrulhado, o pacote veio por medida provisória. Aos consumidores residenciais, prometia uma conta com desconto de 15% a 20%. Aos consumidores industriais, uma redução até maior, para estimular a produtividade/competitividade. O ponto de partida, logo vimos: uma tunga de R$ 10 bilhões nas empresas estaduais de geração de energia, especialmente São Paulo, Minas e Paraná, três governos do PSDB.

Sem nenhum diálogo, a presidente Dilma Rousseff quis dar uma de general. Os estados não aceitaram, preservando suas empresas, que são um ativo das suas populações. A Eletrobras foi obrigada a aceitar a tunga, contra a vontade de todos os seus acionistas — a exceção foi o próprio governo federal — e hoje está na UTI.

Não conseguindo fazer com o chapéu dos outros, e para manter o propósito político-eleitoral, a presidente não quis conversa (regras de transição, por exemplo, nem pensar). Ao contrário, repicou na impulsividade e na insensatez e decidiu que o Tesouro Nacional bancaria a conta reduzida. Mais uma vez de forma populista e demagógica, pegou com mão grande recursos do Tesouro, dos impostos que todos pagamos, para manter seu propósito de governar para a reeleição.

Para os consumidores/contribuintes, o desconto na conta já custou mais de R$ 10 bilhões e as previsões são de que ultrapassarão R$ 20 bilhões até o fim do ano. Estamos pagando o desconto na tarifa em dobro e com o dinheiro dos impostos que poderia ser investido na agenda das ruas: educação, transportes/mobilidade urbana, saúde (R$ 10 bilhões são suficientes para cem grandes hospitais), segurança, habitação.

Para piorar, a escassez de chuvas está tornando a geração de energia no Brasil uma das mais caras do mundo, com o megawatt-hora chegando a R$ 820, oito vezes mais do que o custo médio. Isto e mais os desastres sucessivos na gestão do setor, incluindo a implantação de parques eólicos no Nordeste, aptos a gerar energia mas sem linhas para a transmissão, criam o pior momento para o setor em toda a sua história.

Em paralelo, o setor sucroenergético, com empresas quebrando e com a vitalidade combalida pelos erros grosseiros do governo, vê o país importar etanol de milho dos EUA para suprir a demanda do Nordeste. Nossa maior empresa, a Petrobras, perde valor a cada dia, vítima da gestão predatória que o governo lhe impõe.

As medidas decididas pelo governo dia 13 passado confirmam a dimensão dos estragos no setor e apontam para mais impostos. O que tem de novo é o cinismo total: anunciam aumento na conta de luz, mas, como a madrinha da aventura da conta baixa que ficou muito mais cara é candidata, fica para o ano que vem! É de esperar que esta escola de desacertos e custos enormes para toda população não consiga evoluir além das eleições.

A impressão que fica é de que a presidente, com postura autocrática, quase imperial, decidiu não poupar nenhum tomate do tomateiro do setor. Pisou em todos e ainda fica repetindo a arenga de que está tudo sob controle. Talvez sob controle do tempo, presidente.