domingo, 21 de julho de 2013

O automatismo do privilégio, Aliás


Uma reforma política realista deve começar com a democratização dos partidos que reduza o tempo de permanência de um dirigente em seu topo

13 de julho de 2013 | 17h 08

Roberto Romano*
As manifestações de massa no Brasil tiveram o condão de atenuar a letargia das autoridades constituídas, em todos os poderes. Mas vale sempre recordar o que é a ética. Tratamos aqui de práticas e atitudes mentais aprendidas em determinado tempo e espaço e que de tanto serem repetidas operam automaticamente. Quem aprendeu certo modo de agir e pensar o retoma como se ele fosse natural. Nossos dirigentes e legisladores aprenderam a ética que afirma a superioridade dos políticos sobre os “simples cidadãos”. Assim, eles se assustaram diante das massas em revolta e correram para atender às reivindicações em tempo rápido, sem deixar de lado a ética que aprenderam.
Ética torpe. Políticos julgam-se superiores ao cidadão - José Cruz/Abr
José Cruz/Abr
Ética torpe. Políticos julgam-se superiores ao cidadão
Várias das normas aprovadas são de caráter duvidoso, como a que transforma as práticas corruptas em crime hediondo. Outras apenas seguem o bom senso, na recusa da PEC-37. Outras podem atenuar a impunidade dos mesmos políticos, com o fim da prerrogativa de foro. Ademais, as propostas do Executivo para a reforma política, por ignorarem o direito, são engavetadas, como a Constituinte exclusiva para a reforma política e o plebiscito.
Num clima de incerteza quanto aos rumos a serem tomados, deputados, senadores e ministros reiteram a ética indicada acima, o automatismo do privilégio. O caso dos aviões, helicópteros e outras máquinas que deveriam servir o público mostra quanto eles esperam o momento para voltar à trilha seguida de 1500 até hoje. Assim, as medidas tomadas não integram um plano de poder público, não pensam exatamente nas condições corretas a serem propostas ao País. Elas são apenas sinalizações de que algo se move no colosso estatal brasileiro. Não há lógica rigorosa nos projetos, nas leis, nas ações congressuais. Digamos que o desarrazoado impera na Praça dos Três Poderes. Grande parte de semelhante pânico encontra-se na péssima organização dos partidos políticos. Vejamos.
Um partido nada mais é que certo mapa do Estado e da sociedade propostos aos eleitores. Podemos dizer que ele é a maquete de uma futura construção política. Sua estrutura, programas, práticas, indicam ao povo soberano o que será feito quando seus integrantes chegarem aos poderes. Nossos partidos, então, tal como operam no Brasil, deixam de ser partidos. Seus programas servem apenas para o registro na corte eleitoral. Uma vez aprovados, as alianças oportunistas e simplesmente eleitorais assumem o primeiro plano e os programas são abandonados com rapidez extrema. Tal falta de obediência programática lança as agremiações no empirismo eleitoral e governamental, pois os planos, para serem eficazes, precisariam possuir forças anteriores (justamente a dos partidos) que por eles lutassem, especialmente quando se trata de fiscalizar sua implementação técnica, financeira, administrativa, jurídica.
Além desse defeito básico, nossos partidos não possuem democracia interna. Eles são dirigidos por grupos oligárquicos ou mesmo por indivíduos que se consideram seus donos. Eles permanecem na liderança partidária por décadas, assim adquirindo todos os controles: das finanças, das alianças, dos candidatos, da propaganda. E além disso, tais direções nunca escutam de fato os militantes que, na base do partido, por ele combatem. Unindo-se semelhante autoritarismo ao empirismo programático, o resultado só poderia ser a balbúrdia percebida no dia a dia dos poderes. Nada é programado, tudo se improvisa segundo os interesses dos dirigentes, os quais, como é de praxe, têm seguidores de menor relevância, mas que dão votos aos projetos de lei e permitem sua implementação atabalhoada pelo Executivo.
Uma reforma política realista, portanto, deve começar com a democratização dos partidos que reduza o tempo em que um dirigente pode permanecer no topo partidário. Além disso, eleições primárias devem servir para que os militantes definam as escolhas das alianças, dos candidatos, etc. As questões técnicas de eleição, se proporcional, distrital, ou qualquer outro encaminhamento, dependem, para seu sucesso, da ordem oligárquica a continuar, ou da democracia a imperar nos partidos. Caso contrário, seguiremos com o improviso, a truculência dos poderosos cartolas partidários, a falta de rumos programados para o Estado e a sociedade. Com a democracia interna, os dirigentes aprenderiam as primeiras letras do que, em outras sociedades, é chamado de accountability. Prestando contas aos militantes, os políticos podem adquirir a ética da responsabilidade madura e não populista. Algo muito distante, hoje, tanto das ruas quanto dos palácios em que se encastelaram, nos últimos 500 anos, os mandatários no poder. Insisto: a ética aprendida pelos nossos políticos, que a repetem automaticamente, é a que favorece a legislação em causa própria. Desaprender tal comportamento sob pressão das ruas é bom, mas insuficiente para mudar a face de um país submetido à truculência dos que deveriam apenas representar o povo soberano.
*ROBERTO ROMANO É FILÓSOFO, PROFESSOR DE ÉTICA E FILOSOFIA NA UNICAMP E AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE O CALDEIRÃO DE MEDEIA (PERSPECTIVA)

Vírus, tiros, tortura, Eliane Cantanhêde

1/07/2013 - 03h30


BRASÍLIA - Um milhão e meio de pessoas foram às ruas pedindo saúde, educação e dignidade. Associações médicas rompem com o governo por causa das novas regras para a profissão. Dilma rumina a queda nas pesquisas, o crescimento pífio do país, a birra do PT e as ameaças do PMDB. Enquanto isso...
Perto de 75 mil (75 mil!) pessoas contraíram um vírus e tiveram diarreia em Alagoas, com quase 50 (50!) mortos. O principal suspeito é a água usada para cozinhar, tomar banho, escovar os dentes. Atenção: Alagoas é Brasil, e o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo.
Um tiroteio entre policiais e traficantes matou dez pessoas, inclusive um sargento do Bope e dois cidadãos que não tinham antecedentes criminais: um garçom de 35 anos e um engraxate de 16. Atenção: quem mora no Complexo da Maré também é brasileiro, e o brasileiro é um forte, tem direito à vida.
Quatro funcionários de um parque de diversões, entre 22 e 25 anos, foram presos e confessaram o assassinato de uma moça no Paraná, até que um mero exame de DNA mostrou que nenhum deles fizera sexo com a vítima. Soltos, eles disseram que foram espancados, empalados, eletrocutados e asfixiados com sacos plásticos, mesmo após a "confissão". Exames comprovam os maus-tratos. Atenção: bate, depois investiga? Tortura nunca mais!
Vândalos infiltrados entre manifestantes que fazem vigília diante do apartamento do governador do Rio quebram e arrebentam lojas, bancos, prédios, bancas de jornais e tudo o que veem à volta, enquanto a polícia, aturdida, balança entre fazer o que tem de ser feito e simplesmente cruzar os braços para não ser acusada de violência. Atenção: isso é "democratice", não democracia.
No Brasil das eleições, discutem-se constituinte exclusiva, plebiscito, recesso, corte de ministérios e se o melhor aliado é o PMDB ou o PSB. No Brasil real, o pau está quebrando.
Ah! E o papa vem aí.
eliane cantanhêde
Eliane Cantanhêde, jornalista, é colunista da Página 2 da versão impressa da Folha, onde escreve às terças, quintas, sextas e domingos. É também comentarista do telejornal "Globonews em Pauta" e da Rádio Metrópole da Bahia.

10 receitas para nunca ficar doente


No lugar de adotar uma vida regrada, livro diz que medidas como banho frio e comer alho podem ajudar quem quer estar sempre saudável; médicos dizem que não é tão fácil
DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE “SAÚDE”
A estratégia dos personagens do livro "Os Segredos das Pessoas que Nunca Ficam Doentes" não agrada muito aos médicos.
Em vez de simplesmente ter uma vida regrada e equilibrada, as 25 pessoas entrevistadas pelo jornalista americano Gene Stone se concentraram em mudar um hábito de suas vidas na tentativa de aumentar a longevidade e evitar doenças.
"Faz parte do ser humano essa busca por uma solução mágica, de preferência algo que não dê muito trabalho", afirma o oncologista Artur Katz, do Hospital Sírio-Libanês. "Comer dois tomates por dia, por exemplo, não vai livrar ninguém de ter câncer."
Mas algumas das soluções do livro não são tão fáceis. Tomar levedura de cerveja todos os dias ou comer alho são desafios.
Banho de água fria também requer certa coragem.
Dorival Pinheiro, 48, servidor público federal, toma banhos frios todos os dias há 30 anos, a não ser aos sábados, quando o aquecedor é liberado. "Fui motivado por um professor de biologia no colegial que disse que traz benefícios para a saúde."
Pinheiro diz que se sente mais relaxado e com melhor capacidade respiratória. "Percebo que fico menos doente e, quando pego um resfriado, recupero-me mais rápido do que os outros."
O infectologista Celso Granato, coordenador de patologia clínica do laboratório Fleury, afirma, no entanto, que não há comprovação alguma de que isso funcione.
"O que pode dar resultado a longo prazo é evitar o contato com pessoas doentes, especificamente em caso de doenças respiratórias e diarreias. Por isso pedimos para as pessoas lavarem mais as mãos em surtos de gripe", afirma o médico.
Para Katz, a receita básica para evitar adoecer é: "Não fume, não fume e não fume.
Depois disso, o importante é manter um peso adequado, uma boa alimentação e fazer exercícios. Fazer isso já é bom. Mas muito mais que isso também não ajuda tanto."
OS SEGREDOS DAS PESSOAS QUE NUNCA FICAM DOENTES
AUTOR Gene Stone
EDITORA Lua de Papel
PREÇO R$ 19,90 (214 págs.)
1) BANHOS FRIOS
Defensores da prática dizem que a água gelada reduz o número de infecções e melhora a resposta imunológica, fortalecendo os contra-ataques do organismo contra invasores. Mas os banhos frios não são recomendados para quem tem problemas cardíacos, porque a água gelada pode alterar a pressão arterial -e só os mais corajosos os aguentam no inverno...
2) RESTRIÇÃO CALÓRICA
Adeptos da redução calórica afirmam que isso prolonga a vida e protege contra doenças. Por enquanto, só pesquisas com animais confirmam os benefícios da dieta. Além disso, uma redução drástica da comida abre as portas para transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, por exemplo
3) COMER SÓ VEGETAIS
Uma dieta baseada em plantas reduz drasticamente o colesterol. Alguns estudos já ligaram a carne vermelha e leite a uma maior ocorrência de câncer.Outras pesquisas mostraram que comer mais vegetais não reduz a incidência de tumores e que cada tipo de alimentação está ligado a um tipo de tumor. Em resumo: a alimentação pode determinar qual tumor a pessoa pode vir a ter, mas nenhuma dieta elimina o risco
4) COMER ALHO
Pesquisas já ligaram o consumo a menor pressão arterial e maior produção de óxido nítrico, que facilita a circulação do sangue e reduz a formação de placas nas artérias. Estudos também lhe creditam efeito antibiótico e antioxidante. Mas, fora o bafo, os médicos não garantem que comer alho tenha algum efeito
5) SESTA
Pesquisas já mostraram que uma soneca rápida, de cerca de 30 minutos, pode melhorar a saúde do coração, além de aprimorar a memória e o aprendizado. A sesta reduz o nível dos hormônios do estresse, especialmente para quem tem empregos mais exigentes. O importante é não exagerar: 30 minutos são o bastante
6) VITAMINA S (SUJEIRA)
Ter mais contato com sujeira, como não lavar direito os alimentos, pode evitar doenças como alergias e inflamações. Essa hipótese é defendida por parte dos cientistas, que acredita que se proteger excessivamente da sujeira acaba levando o sistema imune a respostas exageradas, causando doenças
7) PROBIÓTICOS
O consumo de iogurtes, levedura de cerveja, queijo cottage, entre outros alimentos, povoa nosso corpo com bactérias "boas", que ajudam a defesa contra as "más". Já é aceito que esses alimentos ajudam a repovoar a flora intestinal após episódios de diarreia. Mas ainda não se sabe se comer todo dia faz diferença, porque temos colônias de bactérias boas naturalmente
8) PENSAMENTO POSITIVO
Muitos estudos já mostraram que o pensamento positivo reduz os níveis de estresse e pode aumentar a resistência contra gripe. Estudos mostram que a atitude positiva pode influenciar até no sucesso de um transplante de rim. O efeito placebo é um exemplo de como a crença pode fazer até um tratamento falso funcionar
9) ÁGUA OXIGENADA
Um dos personagens do livro tem o costume de enfiar a cabeça, todos os dias, em uma pia com água quente e água oxigenada para ficar "imune" a infecções. O peróxido de hidrogênio, de fato, é usado para limpar ferimentos, mas daí a dizer que pode nos tornar mais saudáveis, é um passo e tanto
10) EVITAR GERMES
Bactérias podem sobreviver por horas em maçanetas e outros objetos. Apertos de mãos, locais fechados, manusear carrinhos de supermercados, tudo isso pode carregar germes para o corpo. Lavar as mãos com frequência, especialmente depois de ter contato com doentes, pode mesmo evitar doenças, mas não é garantia, segundo os médicos