terça-feira, 12 de julho de 2011

Tchau, queridinho



12 de julho de 2011 | 8h00
José Paulo Kupfer
Já é bem nítido, pelo aumento da frequência das manifestações na imprensa especializada estrangeira, que os analistas financeiros internacionais começam a se preocupar com a economia brasileira. De pouco mais de um mês para cá, pipocam artigos e editoriais a respeito da formação de possíveis bolhas de crédito no Brasil. Há seis meses, esse tipo de avaliação, agora crescentemente repetida, era impensável.
São, até aqui, na grande maioria, análises exageradas, muito centradas em modelos de avaliação transportados mecanicamente de seus atribulados mercados de origem. Do ponto de vista da regulação e da prudência, não há termo de comparação entre o sistema bancário brasileiro e os sistemas americano ou europeu, infestados de “inovações” financeiras, a partir dos quais são elaboradas essas avaliações.
Para começo de conversa, o controle exercido pelo Banco Central brasileiro sobre as instituições financeiras daqui é muito mais rígido, exigindo a observância de uma relação de pelo menos 11% entre os ativos e o capital mínimo, acima da norma internacional, que é de 8%. Nosso sistema bancário, um pouco também por essa razão, é pouco dado a “inovações” e mantém a quase totalidade dos empréstimos em carteira. Os esquemas de securitização são mínimos, assim como as possibilidades de contágio com o exterior, em virtude da inexistência de distribuição global de créditos securitizados. Se, enfim, é fato que a inadimplência vem crescendo e o crédito expandiu-se muito rápido nos últimos tempos, os atrasos ainda estão dentro de limites aceitáveis e as linhas de financiamento com maior aceleração – consignado e veículos – são as que demandam maiores garantias.
Exageros à parte, há, sem dúvida, uma mensagem que merece atenção nessas análises descabeladas. Os ventos que, nas asas de um excesso de liquidez internacional, em meio a crises potentes nos grandes mercados financeiros maduros, trouxeram para cá investidores e especuladores de todos os cantos do mundo podem estar começando a dar sinais de virada.
Não seria a primeira vez e os que têm tempo de estrada se recordarão de que, antes de ser exceção, essas viradas são uma regra no mundo financeiro global. Anos e anos de recorrentes crises da dívida externa, nas três décadas que vão da reciclagem dos petrodólares, nos anos 70, ao estouro de bolhas dos anos 90 e início do novo século, resultaram numa prosaica norma de seleção dos mercados, nos quais, a cada momento, era o caso de apostar todas as fichas ou abandonar de uma vez.
Na América Latina, Brasil, México e Argentina, as três maiores economias da região, se revezaram, nesse período, nas posições de “queridinho”, “pária” ou “limbo”, obedecendo a uma espécie de “teoria pendular da dívida”. O pêndulo oscilava para o lado de uma enxurrada de dólares numa das três economias, em geral sob o impulso inicialmente favorável da aplicação de receitas do FMI. E virava para o lado do colapso prolongado de recursos externos e do estigma na comunidade financeira internacional quando, a partir do esgotamento das políticas antes louvadas, sobrevinha uma volta da inflação, muitas vezes seguida de moratórias.
É certo que as histórias não se repetem exatamente como já ocorreram, mas quando uma economia emergente em posição de “queridinha” começa a apresentar vazamentos, não custa colocar as barbas de molho. A economia brasileira pode estar vivendo, mais uma vez, agora numa escala mais global, a velha e incômoda situação de ver o pêndulo começar a virar para o outro lado. Até por questão de prudência, o governo não deveria ficar de braços cruzados, conformado com a falta de condições estruturais completas para evitar refluxos desastrosos numa virada do pêndulo – ou relaxado, a partir de análises estáticas, com uma quem sabe enganosa blindagem das contas externas.
Faz todo o sentido, portanto, o alerta do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em depoimento no Congresso, semana passada, a respeito da possibilidade de viradas abruptas no mercado cambial e da necessidade de reforço da proteção, pelas empresas e pessoas, contra eventos desse tipo. A decisão de induzir, com novas regras, uma redução das apostas dos bancos em novas valorizações do real frente ao dólar, anunciada em seguida, é uma indicação bem-vinda de que a autoridade monetária está atenta aos terríveis choques que possam ser provocados por alguma versão revista e atualizada da vetusta “teoria do pêndulo”.

Risco de bolha no Brasil já preocupa investidores

Da Folha de S. Paulo


Redação 24 Horas News

O possível superaquecimento da economia brasileira e a suposta bolha de crédito no país tomaram conta do noticiário internacional nas últimas duas semanas e já inquietam investidores estrangeiros. O sentimento em relação ao Brasil está mudando, avaliam analistas.
"A lua de mel dos investidores com o governo Dilma acabou", diz Paulo Vieira da Cunha, economista e sócio da Tandem Global Partners e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.
"Existia uma expectativa de que Dilma iria acabar com alguns dos abusos do fim do governo Lula, em política econômica, mas não houve correção", reclama.
O jornal britânico "Financial Times" publicou pelo menos 12 reportagens, textos em blog e artigos sobre o perigo da "bolha de crédito" nos últimos dez dias. Um artigo falava até em "crise de subprime" no Brasil.
No editorial de sexta-feira, o jornal britânico afirmava que a economia brasileira "é como uma bicicleta: funciona enquanto continuar andando". "Mas agora [a bicicleta] está bamba", advertia.
A revista britânica "The Economist" disse que o Brasil está entre os sete países com maior risco de superaquecimento, junto a Argentina, Hong Kong, Índia, Indonésia, Turquia e Vietnã.
E a nova diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, disse após a posse: "Quando olhamos os emergentes vemos riscos de superaquecimento e inflação".
Um administrador de um hedge fund no Brasil que tem muitos clientes estrangeiros diz que os investidores estão comprando a história de bolha de crédito e reduzindo sua exposição ao Brasil. Um sintoma seria a queda de ações de bancos brasileiros.
Após a crise de 2008, o Brasil se tornou um "superqueridinho" dos investidores por sua recuperação rápida, enquanto outros países ainda tentam retomar o crescimento. Naquela época, lembra o administrador, ninguém via ponto fraco do Brasil nem fazia muita conta para por o dinheiro no país.
A virada, o fenômeno de "vender Brasil", começou no início do ano, e se reforça agora. Não há sinais de consenso entre os bancos em dizer que os papéis do país estão baratos e é hora de voltar a recompor sua exposição.
Muitos investidores querem ver resultados concretos do combate à inflação, ver até onde vai a inadimplência e responsabilidade fiscal efetiva para se empolgar de novo com Brasil.
"Os investidores estão revendo suas apostas por causa dessa narrativa de bolha de consumo", diz Richard Hamilton, chefe de análise de América Latina na Business Monitor International. "As ações de empresas de consumo foram atingidas duramente na Bovespa."
Mas, para muitos analistas que acompanham de perto a economia brasileira, há visões equivocadas nas matérias e relatórios de bancos sobre o mercado de crédito brasileiro.
Tony Volpon, chefe de pesquisas de emergentes da Nomura Securities, acha que é absurdo comparar o crescimento do crédito brasileiro à bolha do subprime. "Para ter uma bolha de crédito semelhante à dos EUA, uma condição essencial é ter juros muito baixos, para que as pessoas continuem fazendo mais e mais dívidas", diz Volpon.
"Aqui, o consumidor já tem 18% de sua renda disponível comprometida com serviço da dívida os estrangeiros muitas vezes não têm ideia de que crédito ao consumidor no Brasil cobra juros médios de 46% ao ano, então é muito caro para as pessoas continuarem se endividando. O consumidor brasileiro chegando no teto de seu endividamento."
Na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a dizer que não há excesso de crédito no Brasil. A expansão do crédito está em 15% este ano, disse Mantega. "Quando os juros sobem, como agora, aumenta um pouquinho a inadimplência. Mas não há bolha de crédito no Brasil, os bancos brasileiros estão muito sólidos, perto dos bancos internacionais."
O crédito no Brasil está crescendo de forma muito acelerada, o que preocupa economistas --como proporção do PIB era 24,7% em janeiro de 2005 e chegou a 46,6% em abril deste ano. Mesmo assim, em comparação com outros países, ainda é muito baixo. Na China e na África do Sul, o crédito doméstico ao setor privado ultrapassa 120% do PIB.

WEGA começa a ser testado à escala real em 2012



2011-06-21
O projecto WEGA (Wave Energy Gravitational Absorber) desenvolveu um equipamento tecnológico para aproveitamento da energia das ondas e quer testá-lo à escala real, a partir de 2012.
As «condições excepcionais» da costa portuguesa e a meta europeia para a energia das ondas foram a força motriz da empresa Sea For Life, nascida em 2007, e cujos últimos anos foram passados a desenvolver a melhor forma de retirar energia das ondas, através do teste de vários protótipos. «Temos dos maiores tanques de ondas em Portugal», adiantou Jorge Pina Rodrigues, director geral da empresa, presente na conferência internacional “Valorização económica e sustentabilidade dos recursos marinhos”, que decorreu na última sexta-feira na Exponor, no âmbito do Fórum do Mar.
Orçado em cerca de 2,5 milhões de euros, o projecto materializa-se num dispositivo composto por um corpo suspenso articulado, anexado a uma estrutura que fixação, que oscila numa órbita elíptica à passagem das ondas.O Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial (INEGI) apoiará a instalação do sistema no mar, que para já vai ser feito em rearshore (17 metros de profundidade). «Se tudo correr bem, depois instalaremos o protótipo em offshore», revelou o responsável. Os testes servirão para validar a sobrevivência da tecnologia, a rentabilidade e a replicabilidade do projecto. «Ao longo deste tempo ensaiámos mais de 15 conceitos», afirma.
Peniche vai receber este protótipo, que deverá produzir 550 Kwh/ano. Uma das principais vantagens deste sistema, segundo o responsável, é o facto de não ter jogos mecânicos dentro de água, o que aumenta exponencialmente a sua durabilidade. O modelo pode ainda ser construído em qualquer unidade da indústria metalomecânica e ser transportado na rodovia. Jorge Pina Rodrigues defende ainda que, no futuro, será possível associar outras actividades ao WEGA.
Foto: Sea For Life