terça-feira, 12 de julho de 2011

Risco de bolha no Brasil já preocupa investidores

Da Folha de S. Paulo


Redação 24 Horas News

O possível superaquecimento da economia brasileira e a suposta bolha de crédito no país tomaram conta do noticiário internacional nas últimas duas semanas e já inquietam investidores estrangeiros. O sentimento em relação ao Brasil está mudando, avaliam analistas.
"A lua de mel dos investidores com o governo Dilma acabou", diz Paulo Vieira da Cunha, economista e sócio da Tandem Global Partners e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.
"Existia uma expectativa de que Dilma iria acabar com alguns dos abusos do fim do governo Lula, em política econômica, mas não houve correção", reclama.
O jornal britânico "Financial Times" publicou pelo menos 12 reportagens, textos em blog e artigos sobre o perigo da "bolha de crédito" nos últimos dez dias. Um artigo falava até em "crise de subprime" no Brasil.
No editorial de sexta-feira, o jornal britânico afirmava que a economia brasileira "é como uma bicicleta: funciona enquanto continuar andando". "Mas agora [a bicicleta] está bamba", advertia.
A revista britânica "The Economist" disse que o Brasil está entre os sete países com maior risco de superaquecimento, junto a Argentina, Hong Kong, Índia, Indonésia, Turquia e Vietnã.
E a nova diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, disse após a posse: "Quando olhamos os emergentes vemos riscos de superaquecimento e inflação".
Um administrador de um hedge fund no Brasil que tem muitos clientes estrangeiros diz que os investidores estão comprando a história de bolha de crédito e reduzindo sua exposição ao Brasil. Um sintoma seria a queda de ações de bancos brasileiros.
Após a crise de 2008, o Brasil se tornou um "superqueridinho" dos investidores por sua recuperação rápida, enquanto outros países ainda tentam retomar o crescimento. Naquela época, lembra o administrador, ninguém via ponto fraco do Brasil nem fazia muita conta para por o dinheiro no país.
A virada, o fenômeno de "vender Brasil", começou no início do ano, e se reforça agora. Não há sinais de consenso entre os bancos em dizer que os papéis do país estão baratos e é hora de voltar a recompor sua exposição.
Muitos investidores querem ver resultados concretos do combate à inflação, ver até onde vai a inadimplência e responsabilidade fiscal efetiva para se empolgar de novo com Brasil.
"Os investidores estão revendo suas apostas por causa dessa narrativa de bolha de consumo", diz Richard Hamilton, chefe de análise de América Latina na Business Monitor International. "As ações de empresas de consumo foram atingidas duramente na Bovespa."
Mas, para muitos analistas que acompanham de perto a economia brasileira, há visões equivocadas nas matérias e relatórios de bancos sobre o mercado de crédito brasileiro.
Tony Volpon, chefe de pesquisas de emergentes da Nomura Securities, acha que é absurdo comparar o crescimento do crédito brasileiro à bolha do subprime. "Para ter uma bolha de crédito semelhante à dos EUA, uma condição essencial é ter juros muito baixos, para que as pessoas continuem fazendo mais e mais dívidas", diz Volpon.
"Aqui, o consumidor já tem 18% de sua renda disponível comprometida com serviço da dívida os estrangeiros muitas vezes não têm ideia de que crédito ao consumidor no Brasil cobra juros médios de 46% ao ano, então é muito caro para as pessoas continuarem se endividando. O consumidor brasileiro chegando no teto de seu endividamento."
Na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a dizer que não há excesso de crédito no Brasil. A expansão do crédito está em 15% este ano, disse Mantega. "Quando os juros sobem, como agora, aumenta um pouquinho a inadimplência. Mas não há bolha de crédito no Brasil, os bancos brasileiros estão muito sólidos, perto dos bancos internacionais."
O crédito no Brasil está crescendo de forma muito acelerada, o que preocupa economistas --como proporção do PIB era 24,7% em janeiro de 2005 e chegou a 46,6% em abril deste ano. Mesmo assim, em comparação com outros países, ainda é muito baixo. Na China e na África do Sul, o crédito doméstico ao setor privado ultrapassa 120% do PIB.

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