terça-feira, 28 de setembro de 2010

O mal a evitar

 O Estado de S.Paulo/ editorial com chamada de capa em 26/09/2010 ou O dia em que o Estadão declarou seu amor ao tucano Serra.
A acusação do presidente da República de que a Imprensa "se comporta como um partido político" é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre "se comportar como um partido político" e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.
Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.
Efetivamente, não bastasse o embuste do "nunca antes", agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.
Não precisava ser assim. Luiz Inácio Lula da Silva está chegando ao final de seus dois mandatos com níveis de popularidade sem precedentes, alavancados por realizações das quais ele e todos os brasileiros podem se orgulhar, tanto no prosseguimento e aceleração da ingente tarefa - iniciada nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique - de promover o desenvolvimento econômico quanto na ampliação dos programas que têm permitido a incorporação de milhões de brasileiros a condições materiais de vida minimamente compatíveis com as exigências da dignidade humana. Sob esses aspectos o Brasil evoluiu e é hoje, sem sombra de dúvida, um país melhor. Mas essa é uma obra incompleta. Pior, uma construção que se desenvolveu paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto.
Se a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia - a começar pelo Congresso. E o que dizer da postura nada edificante de um chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação? Este é o "cara". Esta é a mentalidade que hipnotiza os brasileiros. Este é o grande mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: "Se ele pode ignorar as instituições e atropelar as leis, por que não eu?" Este é o mal a evitar. 


A despoluição do Tietê


26 de setembro de 2010 | 0h 00
     O Estado de S.Paulo
Seus resultados surgem com lentidão e muitas vezes nem são percebidos pela população, mas, num país que parecia conformado com paralisações e cancelamentos de projetos de governo por razões eleitorais ou por incapacidade gerencial, o Projeto Tietê, de despoluição do principal rio que atravessa a região metropolitana de São Paulo, se transformou num modelo de política pública de longo prazo. Iniciado em 1992 pelo governo do Estado de São Paulo - depois de um amplo movimento popular liderado pela Rádio Eldorado e pelo Jornal da Tarde -, o programa entra agora na terceira das quatro etapas em que foi dividido.
Não há prazo para tornar o Tietê um rio limpo e utilizável para diferentes atividades, de lazer a transporte, como é hoje o Tâmisa, na Inglaterra, cujo programa de despoluição é considerado exemplar. A secretária estadual de Saneamento e Energia, Dilma Pena, diz apenas que, se até 2020, o Tietê estiver totalmente livre do esgoto sem tratamento que tem sido lançado em suas águas, "será um grande avanço".
De fato, será, pois, sem esgotos, as águas correntes se recuperarão. Desde já, porém, se pode afirmar que uma parte significativa desse avanço foi conquistada. O dado mais recente, mostrado na reportagem sobre o Tietê publicada no Estado de quarta-feira, é a redução da mancha de poluição do rio em aproximadamente 40 quilômetros nos últimos oito anos, período em que foi executada a segunda etapa do projeto.
É um avanço bem menor do que o registrado na primeira etapa, quando a mancha de poluição foi reduzida em 120 quilômetros. Mas, à medida que o projeto avança, seus ganhos tendem a ser menores.
No início, os resultados surgiram com mais rapidez. Na primeira fase foram construídas três estações de tratamento de esgotos (ETEs), com capacidade para tratar 7 metros cúbicos por segundo, e foi ampliada, de 7 mil para 9 mil metros cúbicos, a capacidade da ETE Barueri. Foi também ampliada a rede de coleta de esgotos.
Na segunda etapa, foi dada ênfase às obras de coleta e condução dos esgotos até as ETEs, para utilizar toda a capacidade de tratamento já disponível. De acordo com a Sabesp, nessa etapa o índice de coleta de esgotos na região metropolitana de São Paulo foi elevado de 80% para 84% dos domicílios e o índice de tratamento dos esgotos coletados, de 62% para 70%. Além disso, cerca de 400 milhões de litros de esgotos deixaram de ser lançados diariamente na Bacia do Alto Tietê.
Nos últimos 18 anos, foram investidos no projeto o equivalente a US$ 2,5 bilhões. A terceira etapa contará com US$ 600 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e mais US$ 200 milhões de recursos próprios da Sabesp. A meta é, até 2016, elevar o índice de coleta para 87% dos domicílios e o de tratamento, para 84%. Para isso será preciso construir 580 quilômetros de coletores-tronco e 1,25 mil quilômetros de rede coletora. As ETEs em operação terão sua capacidade aumentada em 41%, ou seja, poderão tratar mais 7,4 metros cúbicos por segundo.
Parte das obras da terceira etapa já está em plena execução, com recursos antecipados pelo BID em condições menos favoráveis do que o empréstimo convencional, mas considerados necessários para evitar a interrupção do projeto. Entre as obras em execução está o coletor-tronco de 15,5 quilômetros na margem esquerda do Córrego do Ipiranga, ao longo das Avenidas Ricardo Jafet e Abraão de Moraes e da Rodovia dos Imigrantes.
Embora não integrem o projeto de despoluição do Tietê, pois tiveram como objetivo conter as enchentes, as obras de aprofundamento da calha do rio, que contaram com financiamento do Japan Bank for International Cooperation, também beneficiaram o rio, ao aumentar significativamente sua vazão.
Se um dia for considerado limpo, o trecho metropolitano do Tietê poderá ser explorado economicamente, para o transporte de mercadorias e para o lazer, em passeios nos barcos, imaginam engenheiros especializados em recursos hídricos e ambientalistas. Talvez esse dia não esteja tão distante. 


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Brasileiro toma R$ 3 bi por dia emprestados



  • 22 de setembro de 2010 | 
  • 10h35 | do JT
Categoria: Crédito
Gisele Tamamar
Os bancos emprestaram R$ 701,1 bilhões para os brasileiros até julho. Um valor 19,2% maior do que registrado no mesmo período do ano passado – quando o saldo foi de R$ 587,9 bilhões – e equivale a uma média de R$ 3,3 bilhões em crédito por dia. Na avaliação dos especialistas, a alta é impulsionada, principalmente, pelos financiamentos imobiliários, pela compra de automóveis e também pelo crédito consignado.
De acordo com o vice-presidente da Associação Nacional dos executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, o aumento do crédito reflete o bom momento da economia e deve continuar em expansão nos próximos meses. “Do ponto de vista do consumidor, esse cenário é bom porque aumenta o poder de compra e possibilita o financiamento da casa própria e a compra do carro, por exemplo”, destaca.
Oliveira também lembra que enquanto os prazos para pagamentos estão maiores, as taxas de juros estão em queda, resultado de uma maior concorrência no sistema financeiro, redução da inadimplência, normalização do mercado externo e o bom cenário econômico nacional. Em agosto, a taxa média para pessoa física atingiu o menor índice desde 1995: 6,75% ao mês, conforme a Anefac.
O professor da FGV-Eaesp, José Pereira da Silva, destaca que o aumento do crédito possibilita a melhora do padrão de vida das pessoas, mas é importante se preocupar com as taxas de inadimplência. “As estatísticas do Banco Central mostram que a inadimplência está em queda, mas não me sinto seguro para afirmar que essa tendência vai continuar”, afirma.
Segundo o professor, a população de baixa renda tem carências de consumo e é constantemente bombardeada com anúncios para estimular a compra.
Uma família com renda mensal de R$ 1,5 mil compromete 70% do valor com três necessidades básicas: transporte, alimentação e moradia. “O que sobra é muito pouco. Por isso, é importante ter um bom controle para não se endividar com facilidade”, orienta.
A analista financeira, Andreza da Silva, 29 anos, precisou recorrer ao crédito para tornar viável a compra de um apartamento de R$ 110 mil. O financiamento corresponde a 80% do preço do imóvel, que será quitado em 16 anos com uma taxa de 10% ao ano.
Enquanto ela era inquilina, gastava R$ 650 por mês com aluguel. Com a compra do imóvel, a despesa saltou para R$ 1.350. O que possibilitou a “troca” foi o aumento salarial de 20% conquistado em 2009. “O aumento de salário foi primordial para que eu pudesse assumir um valor maior que o aluguel que eu pagava”, diz.