sexta-feira, 23 de julho de 2010

Deus é brasileiro (e nasceu em Pernambuco)

2/07/2010 - 01h58

Por Sérgio Malbergier, Folha de S. Paulo


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Deus criou o mundo em seis dias, segundo a Bíblia. Lula criou o Brasil em oito anos, segundo ele mesmo.
O que acontecerá ao país agora que seu autoungido criador deixa a cena não parece incomodar muito o ainda mais sensível dos termômetros: o mercado financeiro.
Ninguém parece estar dando muita bola ao que os candidatos à Presidência vêm dizendo ou disseram sobre a economia. Nem mesmo a possibilidade cada vez mais real de o Partido dos Trabalhadores se tornar uma força muito maior no Congresso parece incomodar.
E por que incomodaria? Quem vai tirar o país do seu rumo agora que o encontramos, ufa!, depois de termos tentado todas as outras (im)possibilidades?
O Brasil está em lua de mel com o capitalismo, e se lambuza mesmo quem xinga o mercado.
Por isso esse casamento veio para durar. Não será o próximo nem o outro governo que mudará o tripé de câmbio flutuante, limites fiscais e inflação baixa/BC independente.
As dezenas de milhões de emergentes brasileiros, que só agora ascendem à cidadania do consumo, não vão querer ouvir de socialismo, economia dirigida, mudança do jogo.
O jogo tem que continuar até porque falta muito a jogar, principalmente melhorar o ambiente de negócios, com menos impostos, menos burocracia, menos protecionismo: para que o espírito animal do trabalhador brasileiro realize todo o seu potencial.
Desfrutamos de um bônus demográfico sem precedentes, com taxas de natalidade declinantes, mais adultos em idade produtiva e menos pessoas por lar. Esse conjunto eleva a renda doméstica e a capacidade produtiva do país.
Num mundo que passará dos atuais 6,5 bilhões de habitantes para 9,2 bilhões em 40 anos, nossa enorme e singular capacidade de produzir energia , minérios e alimentos nos torna um gigante pela própria natureza. Nosso mercado interno que desabrocha é outro vetor de prosperidade.
Seria preciso muita cegueira para tirar o Brasil do seu rumo.
A aprovação terrena do Criador, quer dizer, do Lula é mais do que a aprovação à sua figura, apesar da insistência do cada vez mais desinibido culto à sua personalidade.
A aprovação recorde é antes de tudo a aprovação da estabilidade econômica do modelo capitalista, em torno do qual Lula fechou o consenso nacional.
Este é o maior seguro do país contra os aventureiros. Por isso os mercados acordam tranqüilos.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Falta de instrução do eleitorado interfere no aperfeiçoamento da classe política



LEONARDO BARRETO
ESPECIAL PARA A FOLHA 

O Brasil possui 27 milhões de eleitores analfabetos ou que sabem ler e escrever, mas nunca frequentaram uma escola. O dado assusta e lança dúvidas a respeito da qualidade do voto que escolhe parlamentares e governantes. Afinal, como esse eleitor toma sua decisão? Quais são suas características e preferências?
Para responder essas questões, é importante analisar a falta de instrução dentro de um quadro mais amplo. Normalmente, ela está associada a outros problemas como pobreza e falta de oportunidades. A literatura especializada costuma tratar esse tipo de eleitor como sendo mais vulnerável a propostas clientelistas de compra e venda de votos. Faz sentido.
Não é o caso de dizer que essas pessoas são "eticamente inferiores". O problema tem outra natureza. Normalmente, as perspectivas de melhoria de vida delas estão ligadas a algum tipo de ajuda governamental. Políticos se oferecem como intermediários dessas pessoas junto ao poder. Caso ela precise de uma ambulância no meio da noite, por exemplo, saberá para quem ligar. Claro, o elemento de troca do eleitor seria o voto.
Se isolarmos a variável educacional, o analfabetismo incidiria diretamente sobre a (in)capacidade do eleitor de acessar meios de informação ou de construir vários pontos de vista sobre uma questão. Esse eleitorado tende a replicar hábitos que lhes foram passados por costume, como voto por indicação.
A tendência desse grupo é replicar aquilo que o pai ou o avô faziam, sem muita capacidade crítica. Por esse motivo, é muito comum escutar, mesmo nos grandes centros, pessoas dizendo que irão votar "naquele candidato que der uma ajudinha para a família", assim como se fazia no tempo dos coronéis.
Outra consequência é a falta de condições de enxergar diferença entre as alternativas políticas disponíveis. Esse é um problema fatal para a democracia, pois ela é um sistema interminável que funciona na base de "tentativa e erro": punindo os políticos ruins e premiando os bons. Se a capacidade de distinguir quem é quem é comprometida, a democracia perde atratividade.
O dado sobre a falta de instrução do eleitorado mostra que o aperfeiçoamento da classe política passa pela qualificação dos eleitores. Ainda há muito por fazer.

LEONARDO BARRETO é cientista político e pesquisador da UnB

Vendas de imóveis na cidade de SP caem 40% em maio ante abril



  REUTERS
SÃO PAULO - As vendas de imóveis residenciais novos na cidade de São Paulo recuaram em maio 40 por cento em comparação a abril e 51,4 por cento ante o mesmo mês de 2009, somando 1.949 unidades, informou nesta quinta-feira o sindicato que representa o setor imobiliário na capital paulista, Secovi-SP.
A velocidade de vendas, medida pela relação de vendas sobre oferta, ficou em 16,7 por cento em maio, ante 25,3 por cento em abril.
Para o Secovi-SP, os próximos meses indicarão se a queda percebida em maio refletiu um fato pontual ou se houve uma modificação na tendência de crescimento. A entidade mantém a perspectiva de comercialização de 37 mil a 38 mil imóveis novos na capital paulista em 2010.
No acumulado do ano, entretanto, foram vendidos 13.646 imóveis na cidade de São Paulo, alta de 26,4 por cento em relação ao mesmo período do ano passado. O Valor Geral de Vendas (VGV) acumulado em 2010 é de 5,17 bilhões de reais, frente aos 3,25 bilhões de reais apurados de janeiro a maio do ano passado.
O segmento de três dormitórios lidera em participação acumulada no ano, com 4.894 habitações, ou 35,9 por cento, enquanto unidades de dois quartos tiveram 34 por cento do total, com 4.635 moradias.