Felipe Lobo*
06/04/2010, 09:51
Amostras de madeira plástica. Resíduos industriais ou plástico de cooperativas são usados na produção (foto: divulgação / Ecowood)
Uma das principais causas do desmatamento desenfreado na Amazônia é o mercado de madeira que aquece não apenas o clima, mas também as principais metrópoles brasileiras. Algumas empresas espalhadas pelo território nacional, no entanto, já descobriram um jeito ecologicamente viável de fabricar um produto semelhante e resistente sem precisar derrubar uma única árvore. É o caso da Cogumelo, que trouxe a tecnologia pronta dos Estados Unidos há cerca de oito anos, país em que a estratégia faz bastante sucesso.
Deck feito com madeira Policog (divulgação / Cogumelo)
A Cogumelo, basicamente, trabalha com polietileno (um tipo de plástico) de alta densidade, comprado através de cooperativas de catadores de lixo e reciclagem. O processo todo, desde o momento em que a matéria-prima granulada (como embalagens usadas em material de limpeza, engradados de bebida e galões de plástico, por exemplo) chega à fábrica, demora em torno de uma hora e meia. Inicialmente, os flocos grandes são refinados e, em seguida, o resíduo é prensado e higienizado.
“Sempre tivemos cuidado em definir bem o que vendíamos, porque há diversos tipos de madeira plástica no mercado. Separamos todo o resíduo usado e encontramos um resultado homogêneo”, explica Thiago Paúra, gerente comercial da empresa.
A Cogumelo pode, atualmente, produzir em torno de 150 toneladas/mês. O preço, no entanto, ainda é um empecilho. “Comparado com a madeira nobre, a Policog (nome do produto) custa de 10 a 20% mais cara. Mas ela atua bem em diferentes ambientes, como piso, banco de praça, deque de piscina, móveis ou revestimento. E tem a vida útil estimada em mais de 50 anos, sem qualquer necessidade de manutenção. Também não propaga fungos ou absorve umidade”, garante Paúra. O metro quadrado para fazer um deque, por exemplo, sai por 160 reais e qualquer município do Brasil pode fazer encomenda por telefone.
Resíduos industriais
Não é apenas a Cogumelo que produz este tipo de alternativa à madeira. A Ecowood, empresa carioca que entrou nesta seara há cinco anos. Diferente da concorrente, a Ecowood só usa plásticos de indústrias, porque é mais limpo. “Elas são responsáveis pelo resíduo gerado. O mais comum é que paguem para alguém enterrar em um aterro controlado. Caso ele seja desativado, a responsabilidade de recolher o passivo é da própria indústria. Esta é a lei. Nós oferecemos transformá-lo em outra coisa”, avalia Marcelo Queiroga, sócio e administrador da área comercial da empresa.
Os resíduos industriais utilizados na confecção da madeira plástica (foto: divulgação/Ecowood)
Ele prefere não usar plásticos encontrados no lixo em função de possíveis infecções, praticidade e custo. A cadeia até que o insumo se transforme no produto final não é tão complexa. Depois de separado, o material passa por um moinho e vira espécie de farinha. Depois, dentro da máquina, sofre um processo termodinâmico e ganha o formato de chapa de madeira.
“Testes feitos na Universidade de Santos asseguram que a madeira plástica pode viver mais de 40 anos sem perda estrutural. Hoje, com o Anti-Raios Ultra Violeta (UV), agüenta sete anos sem perda de qualidade visual, sempre com manutenção zero. E o único aditivo que usamos é o corante, para dar tonalidade”, explica Queiroga.
O administrador afirma que o metro quadrado de sua madeira plástica custa 126 reais, mas que não pode fazer uma relação direta com os preços de madeiras nobres porque a dificuldade de conseguir bons exemplares é cada vez maior.
“Hoje fazemos mobiliário urbano, passarelas, bancadas. Mas já estamos estudando para desenvolver casas com o nosso produto”, completa. Quem tiver interesse em orçamentos pode entrar em contato diretamente com a Ecowood por e-mail ou telefone (abaixo). A venda acontece na Ecoplace, uma empresa parceira que possui arquiteto, capaz de fazer projetos e indicar as formas ideais de acordo com a demanda, e instalador para orientar o consumidor.
No Sul do país
Já no Sul do país, mais precisamente no Paraná, está a InBrasil. A sua história é um pouco diferente: em 2003, criou um laboratório para estudar o plástico que resulta do processo de expurgação nas indústrias recicladoras de papel. Com incentivo do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDES), o espaço de pesquisa virou uma indústria de confecção de madeira plástica, que hoje dá nome à empresa.
“Hoje, três indústrias, de Santa Catarina e Paraná, nos enviam cerca de 270 toneladas de plástico por mês, que iriam para os aterros. Tivemos muita despesa, o risco era grande, mas começamos a produzir em 2005. Agora, temos um projeto de expansão. O Material entra em uma forma de composto e processamos tudo, apenas com água e o maquinário”, explica Marco Sterle, um dos proprietários da InBrasil.
São inúmeros os produtos finais oferecidos, assim como manuais de montagem. Por isso, é difícil dizer qual o preço cobrado. Mas, apenas como referência, Sterle afirma que um metro de quadrado de assoalho sai por volta de 60 reais, com longa duração. Eles também fazem entrega em todo o território nacional e enviam o lodo final que sobra do processo para as próprias indústrias que forneceram a matéria-prima. Lá, o efluente é tratado. Ou seja, não há qualquer resíduo jogado na natureza.
Serviço:
Rio de Janeiro
Cogumelo
21. 3408.9000
policog@cogumelo.com.br
Ecowood
21 3656.3934 e 21 3656.3887
ecowood@ecowoodrio.com.br
contato@ecoplace.com.br
In Brasil
42. 3522.1771
inbrasil@inbrasil.ind.br
sexta-feira, 9 de abril de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
Cana – Safra 2010
Por Arnaldo Jardim*
As colheitadeiras e cortadores avançam sobre os canaviais, as moendas retiram o caldo da cana, as caldeiras começam a produção de etanol, de açúcar e de bioeletricidade que devem alimentar postos de combustíveis, gôndolas, redes de transmissão de energia elétrica e pelos portos ganhar o mundo.
Começa mais uma safra na região Sudeste, em meio a grandes expectativas de expansão nos mercados, interno e externo, uma crescente concentração no setor sucroenergético, com fusões e aquisições, e reestruturação financeira, após quase dois anos de preços retraídos.
Por isso, urge a necessidade de contarmos com um melhor planejamento, estabilidade e previsibilidade da produção, no sentido de atendermos a atual demanda, evitarmos grandes oscilações de preços e começarmos a pavimentar o caminho rumo à liderança mundial no setor de biocombustíveis.
A decisão da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA de considerar o etanol produzido a partir da cana um combustível avançado – que reduz a emissão de dióxido de carbono em mais de 40% na comparação com a gasolina – derruba uma das principais barreiras não tarifárias à entrada do etanol brasileiro no mercado americano e, pode representar, ainda, a abertura do mercado global. Trata-se do resultado de um formidável trabalho que a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) tem desempenhando junto ao Congresso e Governo norte-americanos. Hoje, o Brasil exporta 1,5 bilhões de litros para os EUA, até 2022, este volume pode saltar para 15 bilhões de litros.
Cada vez mais, o segmento de mercadorias e futuros da BM&F Bovespa é utilizado como referência de preço e demanda para commodities agrícolas, deixando de lado o papel da bolsa como plataforma auxiliar de escoamento de produção do agronegócio. Por isso, a bolsa brasileira prepara o lançamento de um novo contrato de etanol, trocando a entrega física por liquidação financeira, para enfim, fazer esta operação decolar.
Participei, recentemente, da Convenção Latino Americana do Projeto de Sustentabilidade Global dos Biocombustíveis (GSB), que reuniu especialistas nacionais e estrangeiros. Na ocasião, o Prof. Dr. Lee Lynd, presidente do Comitê Diretor da entidade, foi taxativo: o Brasil tem condições de ser o primeiro a produzir comercialmente o etanol celulósico e se tornar líder neste mercado.
O fracasso da reunião das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - COP 15 pode ter, momentaneamente, refreado o entusiasmo de alguns quanto o estabelecimento de um mercado global de biocombustíveis, mas a realidade é cristalina: produzimos o combustível renovável mais competitivo e ambientalmente correto do mundo, temos experiência de quase 40 anos na produção e uso em larga escala, dispomos de terras abundantes (principalmente pastagens degradadas) e clima propício, além de dominarmos a melhor tecnologia de produção.
Não é por acaso, que estamos observando um grande processo de concentração, inclusive, com grandes empresas estrangeiras adquirindo unidades produtoras ou estabelecendo joint-ventures. Aproveitaram-se da crise que abateu o setor sucroenergético, em 2007, com a queda drástica nos preços do açúcar e do etanol, e foi aprofundada com a recente crise global. Com isso, houve redução de investimentos previstos e falta de liquidez para honrar os compromissos com fornecedores, tradings e agentes financeiros.
O Governo até acenou com a possibilidade de utilizar a Petrobras para barrar a “invasão” estrangeira, mas esqueceu-se de oferecer condições para que as empresas de pequeno e médio porte possam sobreviver e competir neste mercado. O BNDES poderia dispor de linhas de financiamento específicas para fortalecer o capital de giro e estruturar empresas deste porte.
Diante deste quadro, fica evidente que as demandas ficaram mais complexas, pois o setor sucroenergético se tornou estratégico para o País. Por isso, o Legislativo terá um papel fundamental na elaboração e aprovação de propostas que sejam capazes de alicerçar o crescimento sustentável desta atividade econômica.
Cientes de que estamos falando de uma atividade privada, é fundamental sermos capazes de compatibilizar seus interesses com os interesses do Estado. Defendo a definição do papel estratégico da bioeletricidade e do etanol na matriz energética. Para tanto, defendo a formação de uma Secretaria Nacional para o Desenvolvimento das Energia Renováveis, órgão que estaria ligado diretamente à Presidência da República, com a participação de toda a cadeia produtiva. Hoje, estas questões se dispersam em vários ministérios e secretárias, com diferentes linhas de abordagem, interesses e grau de atuação.
Entre suas atribuições, destaco a elaboração de um marco regulatório específico para os biocombustíveis, capaz de melhorar o planejamento, assegurar estabilidade e a previsibilidade na produção. Para tanto, defendo as seguintes propostas:
– Fortalecer as comercializadoras e rever a atual estrutura de comercialização que penaliza o produtor;
– Estabelecer um tratamento tributário diferenciado para os biocombustíveis, com: alíquota nacional de ICMS; IPI diferenciado; uso da CIDE como imposto ambiental e regulatório;
– Definir as responsabilidades quanto ao transporte e a logística, fortalecendo parcerias entre governo e iniciativa privada (ex.: PPPs) para viabilizar a construção de alcooldutos, hidrovias e ferrovias. Segundo a ABAG (Associação Brasileira de Agribusiness, demonstram que o custo para transportar o etanol por tudo chega a 30% do valor total feito por caminhão, que hoje corresponde a 10% do custo final da produção;
– Garantir a warrentagem como um instrumento anual, com recursos orçamentários garantindos. A elevação brusca, por mais que saibamos a razão (alta incidência de chuvas, sobra de cana e proço aviltante, no meio do ano, que impulsionaram o consumo), o fato é que isto provocou um desgaste da imagem do produto e estão sendo feitas tratativas junto, ao Ministério de Fazenda, que precisam avançar;
– Estabelecer uma estratégia de comercialização internacional dos biocombustíveis nas diferentes esferas de discussões internacionais;
– O estabelecimento da bioeletricidade como fonte energética prioritária em complementariedade à energia hídrica, a partir da garantia de compra, da realização de leilões de energia nova voltados para a bioeletricidade, de ampliação das linhas de financiamento, de isenções fiscais para a substituição e compra de maquinário visando à criação de excedentes para a rede pública, além de assegurar a conexão do empreendimento com a rede de distribuição. Está previsto um leilão de energia nova para o próximo mês de abril, mas há necessidade de que outros sejam realizados, assegurando a premissa de complementariedade, além da necessidade de incorporar no preço as demandas da energia oriunda da biomassa.
Também é preciso saldar a disposição do poder público, do setor produtivo e dos trabalhadores de se anteciparem as novas exigências socioambientais, a partir do estabelecimento de um grande pacto nacional. Este envolve a melhoria das condições de trabalho e estímulo a requalificação profissional; a antecipação do prazo para o uso da queima na colheita; o zoneamento ecológico; e a ampliação dos investimentos em inovação e pesquisa; além de aumentar a participação da bioletricidade nos leilões de energia nova.
Ninguém discute as excelentes perspectivas para o nosso setor sucroenergético, afinal temos as melhores condições geográficas, climáticas, culturais, econômicas e tecnológicas. Portanto, o papel do Brasil pode ser – e será – extraordinário e estamos nos preparando para isto.
Entretanto, para que as expectativas de mercado se confirmem, empresas, governos e o setor produtivo precisam estar atentos para as novas exigências de um mercado em formação: comercialização eficiente, respeito às normas socioambientais e investimentos permanentes em pesquisa e desenvolvimento.
Precisamos fazer valer o futuro promissor para o setor sucroenergético que se tornou um orgulho nacional e uma referência para o mundo de que é possível gerar energia de maneira limpa, eficiente e renovável.
Deputado Arnaldo Jardim – membro da Comissão de Minas e Energia e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara Federal.
arnaldojardim@arnaldojardim.com.br
http://www.arnaldojardim.com.br
http://twitter.com/ArnaldoJardim
As colheitadeiras e cortadores avançam sobre os canaviais, as moendas retiram o caldo da cana, as caldeiras começam a produção de etanol, de açúcar e de bioeletricidade que devem alimentar postos de combustíveis, gôndolas, redes de transmissão de energia elétrica e pelos portos ganhar o mundo.
Começa mais uma safra na região Sudeste, em meio a grandes expectativas de expansão nos mercados, interno e externo, uma crescente concentração no setor sucroenergético, com fusões e aquisições, e reestruturação financeira, após quase dois anos de preços retraídos.
Por isso, urge a necessidade de contarmos com um melhor planejamento, estabilidade e previsibilidade da produção, no sentido de atendermos a atual demanda, evitarmos grandes oscilações de preços e começarmos a pavimentar o caminho rumo à liderança mundial no setor de biocombustíveis.
A decisão da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA de considerar o etanol produzido a partir da cana um combustível avançado – que reduz a emissão de dióxido de carbono em mais de 40% na comparação com a gasolina – derruba uma das principais barreiras não tarifárias à entrada do etanol brasileiro no mercado americano e, pode representar, ainda, a abertura do mercado global. Trata-se do resultado de um formidável trabalho que a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) tem desempenhando junto ao Congresso e Governo norte-americanos. Hoje, o Brasil exporta 1,5 bilhões de litros para os EUA, até 2022, este volume pode saltar para 15 bilhões de litros.
Cada vez mais, o segmento de mercadorias e futuros da BM&F Bovespa é utilizado como referência de preço e demanda para commodities agrícolas, deixando de lado o papel da bolsa como plataforma auxiliar de escoamento de produção do agronegócio. Por isso, a bolsa brasileira prepara o lançamento de um novo contrato de etanol, trocando a entrega física por liquidação financeira, para enfim, fazer esta operação decolar.
Participei, recentemente, da Convenção Latino Americana do Projeto de Sustentabilidade Global dos Biocombustíveis (GSB), que reuniu especialistas nacionais e estrangeiros. Na ocasião, o Prof. Dr. Lee Lynd, presidente do Comitê Diretor da entidade, foi taxativo: o Brasil tem condições de ser o primeiro a produzir comercialmente o etanol celulósico e se tornar líder neste mercado.
O fracasso da reunião das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - COP 15 pode ter, momentaneamente, refreado o entusiasmo de alguns quanto o estabelecimento de um mercado global de biocombustíveis, mas a realidade é cristalina: produzimos o combustível renovável mais competitivo e ambientalmente correto do mundo, temos experiência de quase 40 anos na produção e uso em larga escala, dispomos de terras abundantes (principalmente pastagens degradadas) e clima propício, além de dominarmos a melhor tecnologia de produção.
Não é por acaso, que estamos observando um grande processo de concentração, inclusive, com grandes empresas estrangeiras adquirindo unidades produtoras ou estabelecendo joint-ventures. Aproveitaram-se da crise que abateu o setor sucroenergético, em 2007, com a queda drástica nos preços do açúcar e do etanol, e foi aprofundada com a recente crise global. Com isso, houve redução de investimentos previstos e falta de liquidez para honrar os compromissos com fornecedores, tradings e agentes financeiros.
O Governo até acenou com a possibilidade de utilizar a Petrobras para barrar a “invasão” estrangeira, mas esqueceu-se de oferecer condições para que as empresas de pequeno e médio porte possam sobreviver e competir neste mercado. O BNDES poderia dispor de linhas de financiamento específicas para fortalecer o capital de giro e estruturar empresas deste porte.
Diante deste quadro, fica evidente que as demandas ficaram mais complexas, pois o setor sucroenergético se tornou estratégico para o País. Por isso, o Legislativo terá um papel fundamental na elaboração e aprovação de propostas que sejam capazes de alicerçar o crescimento sustentável desta atividade econômica.
Cientes de que estamos falando de uma atividade privada, é fundamental sermos capazes de compatibilizar seus interesses com os interesses do Estado. Defendo a definição do papel estratégico da bioeletricidade e do etanol na matriz energética. Para tanto, defendo a formação de uma Secretaria Nacional para o Desenvolvimento das Energia Renováveis, órgão que estaria ligado diretamente à Presidência da República, com a participação de toda a cadeia produtiva. Hoje, estas questões se dispersam em vários ministérios e secretárias, com diferentes linhas de abordagem, interesses e grau de atuação.
Entre suas atribuições, destaco a elaboração de um marco regulatório específico para os biocombustíveis, capaz de melhorar o planejamento, assegurar estabilidade e a previsibilidade na produção. Para tanto, defendo as seguintes propostas:
– Fortalecer as comercializadoras e rever a atual estrutura de comercialização que penaliza o produtor;
– Estabelecer um tratamento tributário diferenciado para os biocombustíveis, com: alíquota nacional de ICMS; IPI diferenciado; uso da CIDE como imposto ambiental e regulatório;
– Definir as responsabilidades quanto ao transporte e a logística, fortalecendo parcerias entre governo e iniciativa privada (ex.: PPPs) para viabilizar a construção de alcooldutos, hidrovias e ferrovias. Segundo a ABAG (Associação Brasileira de Agribusiness, demonstram que o custo para transportar o etanol por tudo chega a 30% do valor total feito por caminhão, que hoje corresponde a 10% do custo final da produção;
– Garantir a warrentagem como um instrumento anual, com recursos orçamentários garantindos. A elevação brusca, por mais que saibamos a razão (alta incidência de chuvas, sobra de cana e proço aviltante, no meio do ano, que impulsionaram o consumo), o fato é que isto provocou um desgaste da imagem do produto e estão sendo feitas tratativas junto, ao Ministério de Fazenda, que precisam avançar;
– Estabelecer uma estratégia de comercialização internacional dos biocombustíveis nas diferentes esferas de discussões internacionais;
– O estabelecimento da bioeletricidade como fonte energética prioritária em complementariedade à energia hídrica, a partir da garantia de compra, da realização de leilões de energia nova voltados para a bioeletricidade, de ampliação das linhas de financiamento, de isenções fiscais para a substituição e compra de maquinário visando à criação de excedentes para a rede pública, além de assegurar a conexão do empreendimento com a rede de distribuição. Está previsto um leilão de energia nova para o próximo mês de abril, mas há necessidade de que outros sejam realizados, assegurando a premissa de complementariedade, além da necessidade de incorporar no preço as demandas da energia oriunda da biomassa.
Também é preciso saldar a disposição do poder público, do setor produtivo e dos trabalhadores de se anteciparem as novas exigências socioambientais, a partir do estabelecimento de um grande pacto nacional. Este envolve a melhoria das condições de trabalho e estímulo a requalificação profissional; a antecipação do prazo para o uso da queima na colheita; o zoneamento ecológico; e a ampliação dos investimentos em inovação e pesquisa; além de aumentar a participação da bioletricidade nos leilões de energia nova.
Ninguém discute as excelentes perspectivas para o nosso setor sucroenergético, afinal temos as melhores condições geográficas, climáticas, culturais, econômicas e tecnológicas. Portanto, o papel do Brasil pode ser – e será – extraordinário e estamos nos preparando para isto.
Entretanto, para que as expectativas de mercado se confirmem, empresas, governos e o setor produtivo precisam estar atentos para as novas exigências de um mercado em formação: comercialização eficiente, respeito às normas socioambientais e investimentos permanentes em pesquisa e desenvolvimento.
Precisamos fazer valer o futuro promissor para o setor sucroenergético que se tornou um orgulho nacional e uma referência para o mundo de que é possível gerar energia de maneira limpa, eficiente e renovável.
Deputado Arnaldo Jardim – membro da Comissão de Minas e Energia e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara Federal.
arnaldojardim@arnaldojardim.com.br
http://www.arnaldojardim.com.br
http://twitter.com/ArnaldoJardim
segunda-feira, 29 de março de 2010
Água engarrafada, Ícone do desperdício
por Andrea Vialli, do Estadão
No Brasil a discussão ainda é embrionária. Mas em países da Europa e nos Estados Unidos a água engarrafada está na mira de críticos de seus processos de produção e de ambientalistas há pelo menos cinco anos. Recentemente as Nações Unidas se uniram a esse coro: a água engarrafada se tornou, assim como as sacolas plásticas do supermercado, um ícone do desperdício dos tempos atuais. E também da desigualdade social.
Isso porque enquanto cerca de 900 milhões de pessoas no mundo ainda não tem acesso à água de boa qualidade, segundo dados da ONU, uma parte mais abastada consome água engarrafada, mesmo tendo acesso à água tratada. E o consumo excessivo de água engarrafada em todo o mundo pode levar à superexploração de aquíferos, o que deixaria um legado de falta d’água para gerações seguintes – enquanto o lucro com a venda de água permanece privatizado.
A maior parte da água engarrafada comercializada no mundo é feita por grandes multinacionais, como Nestlé, Danone, Coca-Cola, PepsiCo, entre outras. As empresas têm sido acusadas de criar uma falsa demanda pela água engarrafada, mesmo em lugares onde a qualidade da água fornecida pelas companhias de saneamento é considerada satisfatória (alô, grandes cidades brasileiras!). Há quem diga que a “obrigatoriedade” de se beber dois litros de água por dia foi outra falsa demanda criada pela indústria de bebidas.
Outro problema criado pelo aumento do consumo dessas águas é a poluição causada pelas embalagens. As empresas estimulam o consumo, sem se preocupar em dar um destino correto às garrafas plásticas, gerando ainda mais lixo, que como sabemos, vão parar no lugar errado. Só nos EUA são descartadas por ano 50 bilhões de embalagens plásticas de água. Menos de 10% são recicladas.
A ONU já lançou campanhas para que restaurantes passassem a oferecer a seus clientes a opção de água filtrada, sem custo para o cliente. Em recente viagem à Europa, pude constatar que muitos restaurantes aderiram, enquanto outros nunca deixaram de servir ‘tap water’ – água de torneira. No Brasil a tendência já chegou – em São Paulo, foi criado o projeto Água na Jarra, uma iniciativa da economista Letycia Janot e da advogada Maria Fernanda Franco, que ainda não foi lançada oficialmente mas que terá apoio da prefeitura da capital e do governo paulista. Alguns restaurantes já aderiram: quem quiser saber mais pode consultar o site aqui.
Por último, o vídeo The Story of Bottled Water (”A História da Água Engarrafada”, em tradução livre), produzido por Annie Leonard (a mesmo do “A História das Coisas”, um sucesso na internet) e lançado no Dia Mundial da Água expõe as razões para se reduzir o consumo das garrafinhas de água. Vale a pena tomar conhecimento e refletir sobre hábitos que acabam se tornando banais mas que têm seus impactos sobre o planeta.
No Brasil a discussão ainda é embrionária. Mas em países da Europa e nos Estados Unidos a água engarrafada está na mira de críticos de seus processos de produção e de ambientalistas há pelo menos cinco anos. Recentemente as Nações Unidas se uniram a esse coro: a água engarrafada se tornou, assim como as sacolas plásticas do supermercado, um ícone do desperdício dos tempos atuais. E também da desigualdade social.
Isso porque enquanto cerca de 900 milhões de pessoas no mundo ainda não tem acesso à água de boa qualidade, segundo dados da ONU, uma parte mais abastada consome água engarrafada, mesmo tendo acesso à água tratada. E o consumo excessivo de água engarrafada em todo o mundo pode levar à superexploração de aquíferos, o que deixaria um legado de falta d’água para gerações seguintes – enquanto o lucro com a venda de água permanece privatizado.
A maior parte da água engarrafada comercializada no mundo é feita por grandes multinacionais, como Nestlé, Danone, Coca-Cola, PepsiCo, entre outras. As empresas têm sido acusadas de criar uma falsa demanda pela água engarrafada, mesmo em lugares onde a qualidade da água fornecida pelas companhias de saneamento é considerada satisfatória (alô, grandes cidades brasileiras!). Há quem diga que a “obrigatoriedade” de se beber dois litros de água por dia foi outra falsa demanda criada pela indústria de bebidas.
Outro problema criado pelo aumento do consumo dessas águas é a poluição causada pelas embalagens. As empresas estimulam o consumo, sem se preocupar em dar um destino correto às garrafas plásticas, gerando ainda mais lixo, que como sabemos, vão parar no lugar errado. Só nos EUA são descartadas por ano 50 bilhões de embalagens plásticas de água. Menos de 10% são recicladas.
A ONU já lançou campanhas para que restaurantes passassem a oferecer a seus clientes a opção de água filtrada, sem custo para o cliente. Em recente viagem à Europa, pude constatar que muitos restaurantes aderiram, enquanto outros nunca deixaram de servir ‘tap water’ – água de torneira. No Brasil a tendência já chegou – em São Paulo, foi criado o projeto Água na Jarra, uma iniciativa da economista Letycia Janot e da advogada Maria Fernanda Franco, que ainda não foi lançada oficialmente mas que terá apoio da prefeitura da capital e do governo paulista. Alguns restaurantes já aderiram: quem quiser saber mais pode consultar o site aqui.
Por último, o vídeo The Story of Bottled Water (”A História da Água Engarrafada”, em tradução livre), produzido por Annie Leonard (a mesmo do “A História das Coisas”, um sucesso na internet) e lançado no Dia Mundial da Água expõe as razões para se reduzir o consumo das garrafinhas de água. Vale a pena tomar conhecimento e refletir sobre hábitos que acabam se tornando banais mas que têm seus impactos sobre o planeta.
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