Ao longo do tempo as praias do Rio —espaço de modernidade e prazer, falsamente atrelado a um ideal democrático de convivência entre os cariocas— lançaram uma infinidade de modas e comportamentos que em três meses atingiam o auge e declinavam: a peteca, o jacaré, o maiô de duas peças com calcinha quatro dedos acima do umbigo. A estação preferida deixa marcos da pequena história que se desenhou na areia em meio a barracas, esteiras, mate gelado e biscoito Globo. Quem viveu não esquece as dunas da Gal, a tanga do Gabeira, os verões da lata, do apito, do créu ou do pau de selfie.
Como este ano o Carnaval veio depois da Páscoa e a Copa será em dezembro, nada mais natural que o grande acontecimento do verão tenha ares outonais. O prefeito Eduardo Paes proibiu o uso de caixas de som na praia, e a questão dominou as conversas, sobretudo nas redes.
Levantamento feito no Twitter mostrou que 87% dos perfis criticaram o prefeito. O principal argumento apontou a insignificância do decreto para uma cidade com tantos problemas à espera de solução. A medida foi considerada elitista, preconceituosa, racista. Eduardo Paes virou a reencarnação de Jânio Quadros, o ex-presidente que proibiu o biquíni.
Os 13% a favor lembraram que a decisão não ataca apenas pobres, mas também ricos, que da mesma maneira têm o hábito de ouvir sertanejo, funk, pisadinha e pagode em caixas de som de cinco dígitos. Que não se pode impor um gosto musical, em volume ensurdecedor, a todos. Eis o recado dos tuiteiros pelo silêncio: compre um fone de ouvido e ensurdeça sozinho.
Quase ninguém levou em consideração a possibilidade de a lei —que só vale para a faixa de areia, não atinge os quiosques da orla, que têm autorização para fazer shows ao vivo— não pegar ou não haver fiscalização, muito menos a multa de R$ 500. O mais importante era ter uma opinião, e expressá-la em forma de "polêmicas" e "tretas".
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