02 de dezembro de 2021 | 19h14
O rato roeu o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em V, no qual o ministro da Economia, Paulo Guedes, tanto parecia acreditar.
A foto da atividade econômica do terceiro trimestre revelada pelas Contas Nacionais do IBGE é de queda de 0,1% em relação à do trimestre anterior. No acumulado em 12 meses, é avanço de apenas 3,9%.
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Se o termo correto para qualificar a atividade econômica é estagnação, então, junto com essa inflação que vai para dois dígitos ao ano, a economia está no campo da estagflação, como reza o jargão dos economistas.
Alguns fatores agravaram o quadro em relação ao anteriormente esperado: a persistência da pandemia; a crise hídrica que derrubou as safras do período e produziu alta dos preços da energia elétrica; a disparada dos preços do petróleo que se seguiu à retomada da economia global; a perda de poder aquisitivo pela inflação e pelo desemprego; e, mais que tudo, a desorganização das contas públicas, que envolveu a política econômica numa onda de desconfiança e conteve os investimentos.
O presidente Jair Bolsonaro só pensa naquilo (reeleição), desistiu de estimular as reformas, não consegue aprovar nem mesmo mudanças cosméticas do Imposto de Renda e não cuidou de promover acordos comerciais para criar mercado para a indústria – que segue estagnada e pressionada.
Desta vez, até mesmo o agropecuária levou um baque: queda de 8,0% em relação ao trimestre anterior. Esse mergulho tem a ver com o período de seca que atingiu as plantações. O tom levemente positivo foi mostrado pelo setor de serviços, que avançou 1,1%. Mas, atenção, convém não fazer olho grande nesse particular. Os serviços cresceram sobre uma base fortemente deprimida, porque foi o setor mais atingido pela pandemia. E, mais, é uma das áreas em que a inflação tem feito grandes estragos.
Para não ficar apenas com a imagem de retrovisor, convém olhar para o que vem vindo aí, o que não desperta entusiasmos fora do círculo do ministro.
É possível que o ano termine com um crescimento algo abaixo dos 5%, apenas aparentemente alto. Ele foi contado a partir da derrubada de 2020. O tamanho do PIB hoje não ultrapassou o de antes da pandemia.
Para 2022, as perspectivas não são lá essas coisas. Grandes instituições, consultorias e empresas já fecharam seus planos com o breque puxado. A Pesquisa Focus, do Banco Central, que ausculta as expectativas dos mais importantes centros de planejamento e negócios, prevê um PIB magro, flagelado pelas incertezas, de avanço de apenas 0,58%.
A variante Ômicron e a falta de entusiasmo também não ajudam. O Brasil continua maior que o buraco, mas isso é pouco para quem precisa tirar o atraso e resgatar a população da miséria e do desemprego.
*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA
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