quinta-feira, 2 de abril de 2020

Roberto Dias Nem teleprompter salva Bolsonaro da confusão, FSP


Em um mês, Jair Bolsonaro convocou quatro cadeias nacionais de TV para falar sobre o coronavírus. A única mensagem em comum entre elas foi o pedido final de bênção ao Brasil, mas até para Deus as palavras foram diferentes a cada aparição presidencial.
Se deve estar difícil para Ele, imagine para os brasileiros. Bolsonaro descobriu o teleprompter, mas a população ainda não sabe o que ele quer.
No primeiro discurso, ele disse que "seguir rigorosamente as recomendações dos especialistas é a melhor medida de prevenção". O segundo teve como foco os atos de rua pró-governo. No terceiro, o mais agressivo, os alvos foram os governadores, a mídia e o fechamento de escolas. Já o quarto, nesta semana, levou à tela alguém muito parecido com Bolsonaro, mas que falava coisas bem diferentes das dele; pacto para salvar vidas foi a mensagem central.
Família assiste a pronunciamento da chanceler alemã, Angela Merkel, durante avanço do coronavírus - Fabrizio Bensch-18.mar.20/Reuters

Em todos, o cálculo político prevaleceu sobre a orientação às pessoas. Somados os outros canais de comunicação, a confusão se agrava.
Ao discurso usado para pedir que as pessoas não se aglomerassem se seguiu a ida do presidente aos protestos. Horas depois da fala que pediu união, fez post atacando governadores, depois apagado. A instalação de Carlos Bolsonaro dentro do Planalto decerto não vai aumentar a clareza.
Esta crise oferece um ótimo campo para comparar os líderes mundiais. Bolsonaro se destaca do lado negativo, e não é fácil conseguir isso.
Na outra ponta, talvez ninguém figure tão bem como a alemã Angela Merkel. Seu histórico na TV é oposto ao de Bolsonaro —a crise a obrigou a fazer seu primeiro discurso em 14 anos como chanceler. A mensagem saiu límpida. Disse que é o maior desafio desde a Segunda Guerra e a população precisa ajudar. Ela explicou a franqueza. "Estou falando a vocês dessa forma incomum porque quero contar o que me guia neste momento como chanceler. Isso é parte de uma democracia aberta:"‚que nós expliquemos nossas decisões políticas e as deixemos transparentes."
Roberto Dias
Secretário de Redação da Folha.

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