Bolsonaro queria ser Viktor Orbán, que se aproveitou da pandemia para governar por decreto
É briga de cachorro grande, mas Bolsonaro sempre dá seu jeito. No momento, ele está disputando cabeça a cabeça com outros folclóricos e autoritários líderes mundiais para saber quem assume o lugar mais alto no pódio dos negacionistas.
Em matéria de desprezar a gravidade da pandemia, o ditador do Turcomenistão, Gurbanguly Berdymukhamedov, por enquanto está na frente: proibiu o uso da palavra coronavírus —atitude bem mais eficiente, convenhamos, do que se referir a ele como gripezinha ou resfriadinho. No páreo, seguem o chefe de Estado da Belarus, Aleksandr Lukashenko, que indicou beber vodca como hábito eficaz no combate à doença, e o ex-guerrilheiro Daniel Ortega, da Nicarágua, que convocou a população para participar da marcha "Amor nos Tempos da Covid-19".
No fundo, Bolsonaro queria ser Viktor Orbán. Beneficiando-se da crise, o premiê da Hungria conseguiu aprovar uma lei que lhe dá o direito de governar por decretos por tempo ilimitado e impor mordaças à mídia e à oposição.
Por aqui, sentindo-se isolado politicamente, em guerra particular com o ministro da Saúde, paralisado pela ineficiência da sua equipe econômica, freado pelos dois outros Poderes e enquadrado por Twitter, Facebook e Instagram, o Capitão Corona dialoga com pastores. Por sugestão deles, pediu um dia de jejum e oração contra a pandemia. Ao mesmo tempo, faz corpo mole para entregar o auxílio aos informais. E, até agora, nenhuma palavra de solidariedade aos familiares de vítimas.
Uma visita a Campo Grande, bairro mais populoso do Rio, evidencia o poder dos mercadores da fé. Lá, não há isolamento: o louvor arrebenta a caixa de som de tão alto, camelôs esgoelam-se, jovens e idosos espremem-se nas ruas, as biroscas servem cerveja e churrasquinho de gato. A vida normal tem a proteção de Deus, é orar que nada acontecerá, garantem os fiéis.
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