quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Incipiente, FSP

No posto central de mentor econômico de um provável governo Jair Bolsonaro, Paulo Guedes telefonou para o então juiz Sergio Moro para uma sondagem. Era 23 de outubro, cinco dias antes do segundo turno das eleições, e o economista prospectava. Em menos de dez dias, o magistrado anunciaria largar a toga por um cargo no ministério do presidente recém-eleito.
Guedes não é um economista acima de qualquer suspeita. Seus negócios milionários com fundos de pensão de empresas estatais vêm sendo esmiuçados pelo Ministério Público Federal a partir de irregularidades apontadas por órgãos técnicos.
Num prazo de seis anos, o (futuro) superministro captou R$ 1 bilhão em dinheiro das aposentadorias dos trabalhadores do Banco Brasil, Petrobras, Caixa Econômica e Correios. No período, as entidades de previdência complementar eram administradas pelo PT e PMDB, legendas atacadas por chafurdarem em esquemas de corrupção.

Os fututos ministros Sergio Moro e Paulo Guedes - Ian Cheibub/Folhapress
Agora, a Polícia Federal de Michel Temer quer apurar se houve crime de gestão fraudulenta ou temerária em meio a essas operações, além de outro tipos de ilegalidades. Conforme revelado pela Folha, um inquérito foi remetido pela polícia à Justiça Federal, e o poderoso chefe da Economia de Jair Bolsonaro será intimado a depor. Guedes defende-se, afirmando que as operações são legais e geraram lucro para os investidores.
O caso está só engatinhando. Será nas mãos da PF de Sergio Moro que, a partir de 1º de janeiro, os investigadores poderão dar passos decisivos na apuração dos indícios de crime financeiro. Será necessário descobrir se os investimentos foram aprovados sem os devidos critérios técnicos, o que teria permitido ganhos abusivos pelo aquilatado economista —que gozará de foro especial a partir de 2019.
O ministro da Justiça bolsonarista já veio a ser confrontado pela imprensa com os negócios suspeitosos de Guedes. Na ocasião, restringiu-se a carimbar nas acusações uma classificação genérica: "incipientes".


    Julianna Sofia
    Jornalista, secretária de Redação da Sucursal de Brasília.

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