Presidente quer convencer o país de que é vítima de uma ameaça permanente
Cercado por hienas e conspirações socialistas, Jair Bolsonaro quer convencer o país de que é vítima de uma ameaça contínua. A insistência do presidente em retratar críticos como vilões e atribuir seus infortúnios a complôs delirantes mostra que ele pretende governar em estado permanente de paranoia.
Esse estilo político foi descrito pelo historiador americano Richard Hofstadter num ensaio de 1964. Ele tomou emprestado o termo clínico para descrever um discurso baseado no exagero, na suspeição, no alarmismo e em fantasias conspiratórias.
A tática é apresentar o jogo democrático como um conflito entre o bem e o mal, anulando qualquer expectativa de moderação e convocando uma luta constante. "Visto que o inimigo é considerado totalmente mau e desagradável, ele deve ser totalmente eliminado", escreveu.
Governos com inclinações autoritárias costumam se apegar a esse método para destruir a legitimidade de instituições que delimitam seus poderes. Conluios são a justificativa ideal para quem quer adotar medidas excepcionais e punir rivais.
Nos últimos dias, Bolsonaro e sua equipe sugeriram repetidas vezes que os protestos no Chile e o resultado de eleições livres na Argentina não são produtos da vontade popular, mas uma intentona esquerdista que ameaça também o Brasil. O presidente até alertou os militares e pediu que eles ficassem de prontidão para reprimir manifestações.
Ao divulgar o vídeo em que retrata quase todos os seus críticos como animais agressivos e aproveitadores, o bolsonarismo amplia o recado: a fonte do perigo não são apenas opositores formais, mas qualquer personagem disposto a contrariar seus interesses ou sustentar uma desaprovação legítima ao governo.
O próprio Bolsonaro deixa claro que tudo não passa de enganação. Depois de lançar o alerta sobre o risco vermelho, ele divergiu de si mesmo. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente disse achar que a esquerda "não tem futuro no Brasil num curto espaço de tempo".
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