Em um cenário de ruína, Bolsonaro e Fernández resolveram se estranhar
Brasil e Argentina, além de vizinhos, são grandes parceiros comerciais. Ambos estão com taxas de desemprego de dois dígitos. Um torce para que o crescimento de 2019 chegue a 1% e o outro rala uma contração da economia. Nesse cenário de ruína, Jair Bolsonaro e o presidente eleito da Argentina resolveram se estranhar. Por quê? Por nada.
Donald Trump briga com Xi Jinping, mas ambos defendem seus negócios. Já houve época em que o Brasil e a Argentina crisparam suas relações por motivos palpáveis, como aconteceu em negociações comerciais e em torno da construção da hidrelétrica de Itaipu. Mesmo nessas ocasiões, os governos comportavam-se com elegância. Durante uma dessas controvérsias, o presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu: “Não gosto dessa coisa truculenta que não leva a nada. Já temos tantas arestas que é melhor nos pouparmos de acrescentar novas.” Agora, em torno do nada, Jair Bolsonaro e Alberto Fernández romperam a barreira da cordialidade.
Utilizando-se uma medida útil para quem observa briga de rua, foi Bolsonaro quem começou. Em junho ele disse que “Argentina e Brasil não podem retornar à corrupção do passado, a corrupção desenfreada pela busca do poder. Contamos com o povo argentino para escolher bem seu presidente em outubro.” Um mês depois, o candidato Alberto Fernández visitou Lula na carceragem de Curitiba. Domingo (27), no seu discurso de vitória, ele repetiu o “Lula Livre” e Bolsonaro classificou o gesto como “uma afronta à democracia brasileira”, recusando-se a cumprimentá-lo pela vitória.
Se diferenças ideológicas justificassem tanta agressividade, os Estados Unidos e a falecida União Soviética teriam começado a Terceira Guerra Mundial no final da década de 40 do século passado.
Não se pode saber qual é a real agenda de Fernández, mas é certo que por trás da agressividade de Bolsonaro há o nada. Pela primeira vez, desde a nomeação de José Bonifácio para a Secretaria de Negócios Estrangeiros por d. Pedro 1º, o Brasil não tem chanceler.
Não se pode saber qual é a real agenda de Fernández, mas é certo que por trás da agressividade de Bolsonaro há o nada. Pela primeira vez, desde a nomeação de José Bonifácio para a Secretaria de Negócios Estrangeiros por d. Pedro 1º, o Brasil não tem chanceler.
Diante do que aconteceu na Argentina e no Chile o evangelismo bolsonarista tem razões para ficar inquieto. Estaria surgindo uma maré popular na América Latina. Uma coisa é decifrar a alma das ruas, bem outra é acreditar que o monstro da opinião pública deve ser desprezado. O PT, que menosprezou as manifestações de 2013, que o diga.
Çábios da ekipekonômica do doutor Paulo Guedes produziram um documento ensinando que “atribuir os recentes protestos sociais ocorridos no país (o Chile) a um mau desempenho econômico e social, comparativamente aos países latino-americanos, não é uma posição corroborada pelos dados”. Falta avisar aos chilenos, que moram lá.
O governo de Dilma Rousseff isolou-se quando fechou-se, alimentando teorias conspirativas. Bolsonaro faz do seu excêntrico isolamento uma plataforma realimentadora de ilusões. Veja-se uma de suas últimas tuitadas: “Chile, Argentina, Bolívia, Peru, Equador... Mais que a vida, a nossa LIBERDADE. Brasil acima de tudo! Deus acima de todos!”
Bolsonaro, um mestre na arte de perder amigos e fazer inimigos, sente-se cercado por hienas e tuitou uma pequena paródia do filme “O Rei Leão”, como se ele fosse o Simba. Faltou lembrar que as hienas só comeram o tio (e rei) Scar, que se aliou a elas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário