Os programas do SBT são um refúgio para a turma da moral e dos bons costumes
A porta de entrada, geralmente, era um inocente episódio de “Chaves” reprisado pela milésima vez. Cedo ou tarde, a criança dos anos 1990 seria sugada para dentro daquele mundo que desafiava a lógica e o bom senso: a programação do SBT.
Uma banheira redonda se transformava em um ringue onde um convidado famoso se lançava em uma escorregadia batalha corporal contra uma modelo de biquíni, disposta a qualquer coisa para impedi-lo de resgatar sabonetes do fundo das águas espumosas.
Os sabonetes só não eram mais importantes do que as partes íntimas que escapuliam das roupas de banho e a “mão boba” dos participantes —no caso, episódios de assédio sexual transmitidos ao vivo que arrancavam gargalhadas do apresentador.
A saga nonsense passava pelo Concurso da Gata Molhada, no qual mulheres de roupa branca sensualizavam embaixo de um chuveiro montado no palco; testes de paternidade que acabavam em trocas de insultos e agressões físicas; e o clássico Topa Tudo por Dinheiro, em que o dono da emissora
humilhava participantes e membros da plateia com provas estapafúrdias, pegadinhas e comentários preconceituosos.
humilhava participantes e membros da plateia com provas estapafúrdias, pegadinhas e comentários preconceituosos.
Por sorte, a criança dos anos 1990 consegue escapar de tudo aquilo e se tornar um adulto funcional, com algum senso crítico. É quando ele descobre, pelos trending topics do Twitter, que A Fantástica Fábrica de Absurdos ainda opera a todo vapor.
Recentemente, um concurso de miss infantil exibiu meninas de dez anos desfilando de maiô, submetidas a uma votação que avaliava qual delas tinha o colo e as pernas mais bonitas.
A emissora chegou a exibir o telejornal estrangeiro Alarma TV, considerado um dos mais violentos do mundo, no horário matinal, antes de um programa infantil. Enquanto os espectadores mirins esperavam os desenhos animados, uma matéria acompanhava um procedimento médico no qual um brinquedo erótico era retirado do ânus de um paciente.
Os programas do SBT hoje são um alegre refúgio para a família Bolsonaro e a turma da família, da moral e dos bons costumes. No ápice da Vaza Jato, Sergio Moro foi reclamar da imprensa sensacionalista justo no Programa do Ratinho (o mesmo Ratinho que recebeu R$ 268 mil para fazer merchan da reforma da Previdência).
Em um vídeo de 2016 que voltou a circular na internet, Silvio Santos cruza a linha mais uma vez quando pergunta a uma criança se ela prefere sexo, poder ou dinheiro. Um questionamento que deve assombrá-lo, já que ele parece gostar muito dos três.
Nenhum comentário:
Postar um comentário