segunda-feira, 7 de outubro de 2019

'RESPONDI A UMA AGRESSÃO VIOLENTÍSSIMA', DIZ DIRETOR QUE OFENDEU FERNANDA MONTENEGRO, Época

Roberto Alvim, responsável pelo Centro de Artes Cênicas da Funarte, está determinado a combater oposição de classe artística: 'Todos que me atacam são inimigos mortais do governo'
O diretor Roberto Alvim deu uma guinada depois de ser diagnosticado com câncer, em 2017, e, segundo ele, ter sido curado por um ato divino. É com fervor religioso que defende Jair Bolsonaro Foto: Bruno Santos / Folhapress
O diretor Roberto Alvim deu uma guinada depois de ser diagnosticado com câncer, em 2017, e, segundo ele, ter sido curado por um ato divino. É com fervor religioso que defende Jair Bolsonaro Foto: Bruno Santos / Folhapress
Na segunda-feira 23, o dramaturgo Roberto Alvim , diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, atraiu atenção nas redes ao escrever que sentia "desprezo" por Fernanda Montenegro , que chamou de "mentirosa" e "sórdida".
A atriz de 89 anos posou para a revista Quatro cinco um vestida como uma bruxa prestes a ser queimada em uma fogueira de livros — imagem que Alvim considerou danosa para o Brasil e um ataque ao governo federal, no qual afirma estar por alinhamento político e religioso.
Alvim foi ateu convicto e simpatizante da esquerda até 2017, quando diz ter se curado de um câncer graças a um milagre. A partir daí, tornou-se católico fervoroso, admirador de Olavo de Carvalho e apoiador de Bolsonaro — posicionamentos que, segundo ele, o levaram a um boicote da classe artística. Em junho deste ano, fechou o Club Noir, teatro paulistano que fundou em 2006 com sua mulher, a atriz Juliana Galdino, e assumiu a diretoria da Funarte.
Nesta quinta-feira 26, o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões de SP (Sated-SP) protocolou uma ação judicial contra Alvim: a entidade pede R$ 30 mil de indenização por danos morais coletivos contra a classe artística.
Na quarta-feira 25, Alvim havia concedido uma entrevista por WhatsApp, limitada a cinco perguntas e encerrada com três emojis: cruz, bandeira do Brasil e um coração. O dramaturgo defendeu suas palavras contra Montenegro, falou de seus planos para o teatro brasileiro e reforçou o caráter divino de sua gestão.
As suas declarações sobre Fernanda Montenegro levaram a declarações de políticos e entidades da classe artística em defesa da atriz e contra você. Qual é sua avaliação sobre esta reação?
Fernanda posou para uma foto vestida de bruxa, amarrada a uma fogueira de livros. Com isso, ela projeta internacionalmente a imagem de que vivemos em um país que queima livros e mata indivíduos discordantes. Isso é uma falácia absoluta, um ataque brutal e mentiroso ao Presidente Bolsonaro. Ela desrespeita a mim e a milhões de brasileiros. O que fiz foi apenas responder a essa agressão violentíssima perpetrada por ela. Todos que me atacam são inimigos mortais do governo. Seus ataques não são fruto de indignação, e sim manobras para enfraquecer o Presidente. O povo percebe isso com muita clareza.
O próprio diretor da Funarte, Miguel Proença, disse estar "completamente chocado" com as suas declarações, afirmou que falaria com Osmar Terra, Ministro da Cidadania, sobre o caso. Como está a situação com Proença e Terra?
O Miguel se colocou plenamente a meu lado. Da mesma forma, tenho recebido apoio total do governo.
Desde que assumiu a direção do Centro de Artes Cênicas da Funarte, quais foram suas principais medidas? Que projetos pretende priorizar até o final do ano?
Estamos lançando em outubro três grandes projetos, que vão promover um renascimento da arte no teatro brasileiro: a reestruturação da Rede Federal de Teatros, com a nomeação de um diretor artístico para cada um de nossos sete espaços e um aporte de verbas considerável para a criação de uma série de montagens de textos clássicos, modernos e contemporâneos, oferecidos gratuitamente a população, e que vão excursionar pelo país; a criação do Conservatório Brasileiro de Teatro, a primeira escola federal de excelência na formação de novos artistas cênicos, com bolsas de estudo para estudantes do Brasil inteiro; e o Teatro Brasileiro de Arte, a primeira companhia federal de repertório clássico, que vai estrear em dezembro com o espetáculo Os Demônios de Dostoiévski em Brasília.
Falei com várias pessoas que trabalharam com você em montagens teatrais. Todas disseram ter sido surpreendidas pela sua adoção do catolicismo e o apoio ao presidente Bolsonaro. Como você vê esta surpresa?
É natural. Eu era um ateu convicto. Mas Jesus Cristo fez um milagre na minha vida, me curando de uma doença que estava me matando. E como Paulo, vivo agora uma segunda chance. E a dedico, com todas as minhas forças, a celebrar a glória de Deus. Meu alinhamento irrestrito com o Presidente Bolsonaro é um desdobramento da minha conversão ao cristianismo.
Você acredita que, de alguma maneira, você e o Presidente Bolsonaro fazem parte de uma missão divina, servem a um propósito maior? Se sim, poderia explicar o que o leva a crer desta maneira, que sinais lhe dão esta convicção?
Não tenho nenhuma dúvida de que a batalha não é contra seres de carne e sangue, mas contra o próprio Mal, que usa as pessoas para seus propósitos de destruição de tudo o que é nobre e digno em nossa humanidade. Os sinais de Deus são incontáveis e diários. Mas é preciso ter olhos para ver.

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