SÃO PAULO
Até a eleição de 2020, um bom dinheiro extra vai irrigar a economia. Deve ser mais de 1% do PIB, uns R$ 70 bilhões ou mais que vão cair na mão de estados, municípios e famílias. Se não houver desastres novos, o estímulo deve aliviar um pouco da depressão.
Como o país observa bestificado um governo dar tiros até na própria cabecinha, caso da turumbamba vulgaríssima do PSL e dos Bolsonaro, sempre pode haver tumulto político sério, com implicações econômicas. Suponha-se, por ora, que não seja assim.
Esse dinheiro extra não será a salvação da lavoura nem o começo do “milagre do crescimento”, nem mesmo de algum crescimento duradouro, necessariamente. Mas deve ajudar a colher umas couves até a escolha dos prefeitos. Que dinheiro é esse?
Entre o final deste 2019 e do ano que vem, devem cair na mão das famílias cerca de R$ 40 bilhões dos saques do FGTS. Outros R$ 2 bilhões de saques do Pis/Pasep. Mais R$ 2,5 bilhões do “13°” do Bolsa Família.
Estados e municípios terão cerca de R$ 24 bilhões dos recursos que serão arrecadados com os leilões de exploração de petróleo, agora em novembro. Vão gastar, claro. Será uma despesa picada, que não vai colocar de pé grandes obras ou projetos. Na verdade, governadores e prefeitos vão pagar muita despesa corrente, salário e aposentadoria e atrasados de fornecedores.
A conta já chega aí a pouco mais de R$ 68 bilhões, quase 1% do PIB ou 50% mais que o dinheiro liberado pelo governo de Michel Temer para dar uma ressuscitada na economia em 2017 (saques do FGTS). O efeito, porém, pode ser maior, ressalvada a hipótese de tumulto provocado pelo governo ou outro choque (desordem na economia mundial, por exemplo).
Algumas prefeituras mais bem arrumadas vão gastar mais em 2020, pois o ano é de eleição. Além do mais, estados e municípios estão recebendo mais dinheiro federal. Sim, por lei, parte dos impostos e dinheiros da exploração de recursos naturais têm de ser repassados para estados e cidades.
Nos últimos 12 meses, a receita total do governo federal ficou estagnada, em termos reais. Mas os repasses para estados e municípios cresceram, em especial graças ao petróleo. As transferências aumentaram em R$ 15 bilhões.
Usando um microscópio, dá para perceber que a economia está em situação melhor agora do que em 2017. Em português claro, há mais crédito para pessoas físicas e as taxas de juros estão menores, em especial a taxa básica no mercado, embora até o custo do crédito bancário esteja um tico menos escorchante. As taxas de juros devem cair mais, daqui até o ano que vem, na ausência de choques e bolsonarices tumultuárias no Congresso. Em resumo, há um alívio nas “condições financeiras”, como dizem os economistas.
Um impulso de mais de 1% do PIB em “dinheiro novo”, para gastar, e taxas de juros menores devem ser ajuda bastante para tirar o crescimento da casa de 1% deste ano e levá-lo para 2% em 2020. Não resolve a nossa situação, óbvio, e se trata por ora de hipótese estatística. Mas seria um alívio, ao menos temporário.
Seria o primeiro crescimento além de 1% desde 2013. É um número que deveria entrar nas considerações políticas e econômicas dos que odeiam e dos que amam o governo.
Vai acontecer? Pode haver choques. Uma crise mundial. Mais à vista, uma crise federal. O regime dos Bolsonaro parece o clichê da reabilitação de pessoas com problemas com drogas: “um dia depois do outro”. Que sempre pode ser pior.
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