SÃO PAULO
É muito bom o livro de Sidarta Ribeiro sobre os sonhos. “O Oráculo da Noite” combina as doses certas de informação científica, “insights” filosófico-antropológicos e a livre especulação que é a marca dos bons textos.
Ribeiro, que é neurocientista e dirige o Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, nos coloca a par das últimas descobertas da ciência sobre o sono e o sonho, campo no qual há bastantes novidades que ainda não tiveram a difusão que merecem.
E, para resumir centenas de páginas em duas frases, sono e sonho têm um impacto muito maior do que o presumido para nossa saúde física e mental. Os sonhos em particular funcionariam como uma realidade paralela onde temos a oportunidade de adestrar nossas emoções, além de simular diferentes soluções para nossos problemas, correndo poucos riscos. Uma boa analogia são as brincadeiras de luta, universais entre filhotes de mamíferos.
A prosa de Ribeiro é cativante, e ele consegue manter a atenção dos leitores quer conte uma história sobre Touro Sentado (o que é relativamente fácil), quer faça uma descrição da anatomia do cérebro (o que é bem mais difícil).
Meu único senão ao livro é que acho que o autor, fã declarado de Freud, exagera um tantinho quando defende que resgatemos a centralidade de que o sonho já desfrutou em sociedades mais antigas. Não me parece, é claro, que interpretar sonhos e discuti-los à mesa (já não fazemos tantas fogueiras como no passado) seja um pecado, mas tampouco me parece ser algo tão fundamental. Eu diria que é mais uma escolha, tanto pessoal como societária.
Os sonhos, afinal, fazem sua mágica em nossas mentes quer nos lembremos deles, quer não, quer os interpretemos, quer os dispamos de qualquer significação especial. Sabemos disso porque boa parte do mundo animal também sonha, mas não consegue discutir seus enredos oníricos com um psicanalista.
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