Ter certos valores e objetivos é o que me permite fazer escolhas inteligentes
Propus aqui há duas semanas uma nova definição operacional de inteligência: flexibilidade, ou seja, capacidade de levar em conta fatos passados, novos fatos, e futuros possíveis e, de acordo com eles, modificar ações e pensamentos.
Ando testando a nova definição, que roda no pano de fundo da minha cabeça, em vários contextos. Foi com ela em mente que ouvi três episódios do podcast Revisionist History, de Malcolm Gladwell, recomendação da minha prima Amanda.
Nesses episódios, Gladwell revisita episódios complicados da história recente dos EUA e propõe a reabilitação de um método de pensamento que ganhou conotação pejorativa em várias culturas: a casuística.
A essência desse método é, ao invés de abordar decisões com base em teorias ou princípios gerais, entender os particulares de cada caso complicado; estudar como esses particulares se assemelham ou
diferem de outros casos mais simples e fáceis de resolver; e usar as analogias para chegar a conclusões satisfatórias.
diferem de outros casos mais simples e fáceis de resolver; e usar as analogias para chegar a conclusões satisfatórias.
A base da casuística parece, à primeira vista, perigosamente próxima do maldito jeitinho brasileiro. Meu argumento de que inteligência é flexibilidade também corre o risco de ser distorcido por aí. Mas casuística e flexibilidade não tratam em absoluto de dar jeitinhos ou abrir exceções, e sim de reconhecer que,
conforme o mundo gira e novos fatos surgem, o que um dia funcionou como princípio geral não funciona mais para se tomar decisões boas e inteligentes, no sentido de decisões que mantem portas abertas
para outras decisões futuras.
conforme o mundo gira e novos fatos surgem, o que um dia funcionou como princípio geral não funciona mais para se tomar decisões boas e inteligentes, no sentido de decisões que mantem portas abertas
para outras decisões futuras.
O exemplo óbvio da vez é o confronto entre o liberalismo por princípio e os custos da sua execução. Liberais-por-princípio talvez aplaudam um governo que defende o livre mercado, a exploração, o quem-dá-mais pelas terras amazônicas, os brados de gringos-não-se-metam. Quando somos regidos por princípios, contexto e fatos particulares não importam.
Mas de acordo com minha definição-operacional-em-fase-de-teste, fazer qualquer coisa puramente por princípio não é inteligente. Princípios são equivalentes a circuitos fixos, imutáveis —e tudo o que se consegue com isso é o comportamento rígido de uma ameba.
Além disso, respeitar e buscar a liberdade como objetivo e valor não exige ser liberal-por-princípio. Prefiro não ter princípios, e sim valores e objetivos, se isso me permite fazer escolhas inteligentes, que nos mantem flexíveis e com as possibilidades complexas de toda uma floresta, e não o uso
limitado de um pasto raso.
limitado de um pasto raso.
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