Se você se impressionou com o discurso de campanha de João Doria de que é um gestor, e não um político, provavelmente vai achá-lo comedido em comparação ao do prefeito de Teresópolis (RJ), Vinicius Claussen.
Eleito há um ano para comandar a cidade da serra fluminense para um mandato-tampão, Claussen, 40, não tem problema em dizer com todas as letras que seu objetivo é transformar a prefeitura numa empresa.
Ele é, afinal, o único prefeito brasileiro ligado ao Livres, um grupo que defende o liberalismo acima de tudo e a iniciativa privada acima de todos.
Formalmente filiado ao Cidadania, novo nome do PPS, Claussen pegou uma cidade em estado de terra arrasada.
“Os objetivos são planejamento, foco em resultado, indicadores, metas, monitoramento, informatização. Dou o exemplo de uma empresa porque a administração pública tem de ser tratada dessa maneira”, diz ele, que diz ter chegado ao cargo com uma estrutura do século 19 para atender a demandas do século 21.
Teresópolis, a 90 km do Rio de Janeiro, tem 180 mil habitantes e é famosa por ser uma estância climática, pelo pico Dedo de Deus e por sediar a Granja Comary, onde se concentra a seleção brasileira de futebol.
No últimos tempos, ficou famosa também por tragédias naturais, como as chuvas de 2011, que deixaram quase 400 mortos, e por escândalos de corrupção em série que derrubaram um prefeito após o outro.
Claussen afirma que sua receita de austeridade fiscal e modernização da gestão já conseguiu tirar a cidade do cadastro de inadimplência de convênios e regularizar os salários de servidores públicos.
O passo seguinte, diz ele, é avançar na receita de liberalismo, com um amplo programa de privatizações e a saída do poder público mesmo de alguns setores tidos como estratégicos. Nem a Saúde escapa.
“Não vale a pena termos um hospital municipal, que custa duas vezes mais que um particular. Podemos ter parcerias com empresas e fundações, que têm foco, investem em capacitação, conseguem produtividade muito maior”, afirma.
Não que sua administração chegue ao extremo de pregar um Estado totalmente ausente da prestação de serviços à população. Claussen, nesses primeiros 12 meses de governo, tomou algumas medidas que, à primeira vista, não diferem em nada de colegas Brasil afora que seguem expandido a máquina.
Comprou ambulâncias, contratou médicos e até deu aumento de salário para os servidores públicos. Ele não vê contradição entre discurso e prática.
“Temos que entender o que é custo e o que é investimento”, diz ele. “Não posso virar uma chave e negligenciar a estrutura do município”, afirma.
Seu balanço de um ano de governo traz algumas coisas curiosas. Uma é a ação que estimula a regularização de imóveis, que ganhou o sugestivo nome de Lei da Mais Valia.
“Mais valia” é um dos conceitos-chave do marxismo, que seria o excedente de valor de uma mercadoria após os meios de produção e o trabalho envolvidos na sua manufatura serem computados. Em outras palavras, é o lucro que o capitalista aufere no processo produtivo.
O prefeito jura que o nome não é uma provocação. “Não, de jeito nenhum, a gente respeita a direita, a esquerda, o centro”, diz.
Outro termo emprestado da esquerda que Claussen utilizar é o “empoderamento feminino”, que, para ele, é a condição dada à cidadã de empreender.
E numa cidade com tantas carências e ainda traumatizada, a receita de menos Estado é apropriada? Ele acha que sim.
“A rua representa o capitalismo, o movimento livre. A gestão pública tem que ter uma estrutura mais enxuta, tem que agir regulamentando e abrindo oportunidades para as pessoas empreender”, afirma.
Em outras palavras, diz ele, a ordem é desburocratizar.
Na sua avaliação, a crise econômica que se arrasta desde 2015 teve ao menos um efeito positivo, o de conscientizar as pessoas de que não podem depender tanto do Estado.
“Com esse aperto financeiro, as pessoas tiveram de se reposicionar. Isso é um amadurecimento importante”, afirma.
Se der certo, a receita liberal do prefeito, que tem poucos paralelos Brasil afora, pode servir de modelo para outros gestores.
Claussen está confiante. Vai disputar a reeleição?. “Com certeza”, responde.
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