Um projeto prevê investimentos de cerca de R$ 430 milhões na criação de um centro de logística para cargas ferroviárias que descem e sobem do porto de Santos, o maior do país.
A área fica próximo a Paranapiacaba, às margens da ferrovia Santos-Jundiaí, perto da cremalheira, que faz o transporte de cargas entre o planalto e a Baixada Santista, e prevê locais para triagem e formação de trens, transbordo e armazenagem de cargas para ampliar a infraestrutura ferroviária. A obra é alvo de questionamentos judiciais e sofreu “intervenção” da Câmara de Santo André.
Segundo o empresário Jael Rawet, idealizador do empreendimento, o centro logístico funcionará como uma espécie de bolsão de espera para as cargas e terá investimentos na recuperação das instalações ferroviárias–pátio e linha férrea– e na implantação de novos ramais ferroviários para atender o negócio.
A área da empresa faz divisa com o pátio ferroviário de Campo Grande, que hoje funciona como estacionamento de trens cargueiros da concessionária MRS. A ideia é, ainda, que o local, com área de 315 mil metros quadrados, funcione como entroncamento com um futuro ferroanel ou com a duplicação dos trilhos –o que depende do interesse da concessionária.
Rawet afirmou que a área faz parte do acervo familiar há mais de 70 anos e que a decisão de investir em logística foi tomada após décadas de ideias que não prosperaram.
Nos anos 60, por exemplo, a família optou por investir em cerâmica, mas a falta de eletrificação no local impediu o empreendimento. Três décadas depois, o foco foi habitação popular, que esbarrou no Plano Diretor de Santo André.
A aposta em logística ferroviária agora se deu, de acordo com ele, devido às restrições para a ampliação de rodovias. “A alternativa para o esgotamento rodoviário só pode ser as ferrovias, que estão subutilizadas. Não fosse a recessão iniciada em 2014 já teríamos atingido saturação nos acessos”, disse.
A aposta se dá ainda na falta de recursos para os governos investirem em rodovias, nos custos de desapropriações de áreas e na legislação ambiental para o desenvolvimento rodoviário. “Percebemos que é cada vez mais difícil lidar e fazer um corte na serra do mar, por exemplo”, afirmou o empresário.
A mesma questão ambiental que pode dificultar o surgimento de rodovias, porém, também é um obstáculo no desenvolvimento do projeto. Foi alvo de reclamações de ativistas e o caso foi parar na Câmara de Santo André.
O local está em fase de licenciamento ambiental e, desde que foi anunciado, foi motivo de queixas. Em abril do ano passado, por exemplo, um grupo de 80 pessoas fez um protesto no local. Há, inclusive, uma ação popular em curso.
As principais reclamações são sobre o desmatamento de parte da área, que poderia prejudicar reservatórios de água.
REDUÇÃO
A construção dos pátios e armazéns estava orçada inicialmente em R$ 780 milhões, mas o valor caiu porque, em novembro, os vereadores aprovaram projeto de lei que retirou uma das glebas do negócio.
A chamada gleba C representa cerca de 45% do tamanho do projeto, o que faz o investimento cair proporcionalmente.
Se o licenciamento ambiental for concluído conforme prevê Rawet, a previsão é que em 2024 possa ser inaugurada a primeira fase. Ele disse que serão gerados 1.200 empregos diretos e que haverá o pagamento de R$ 35 milhões por ano em impostos à Prefeitura de Santo André.
Sobre as discussões ambientais, o empresário afirmou que o projeto será implantado onde a legislação permitir a supressão de vegetação e que os diálogos com entidades têm sido favoráveis.
“Vamos adiar ou até cancelar a duplicação de uma [rodovia] Anchieta, por exemplo. Isso é importantíssimo”, afirmou o empresário, ao justificar a obra. Cada vagão de trem substitui ao menos três caminhões, segundo o mercado.
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