Para sindicatos, problema não está na escassez de mão de obra, e sim nos baixos salários pagos
Liz Alderman, The New York Times
06 de agosto de 2019 | 06h00
OYONNAX, FRANÇA - Ao longo de uma vasta planície alpina, centenas de fábricas estão produzindo frascos plásticos de perfume, autopeças e ferramentas industriais. Caminhões transportam milhares de artigos finais prontos para a exportação. Nos cartazes e armazéns, anúncios de vagas de trabalho balançam ao vento.
Não falta emprego em Ain, região manufatureira do leste da França conhecida como “Vale do Plástico". Mas as empresas nesse arborizado canto próximo da fronteira com a Suíça frearam a produção porque não conseguem encontrar mão de obra capacitada para uma linha de produção que exige experiência com computadores.
“É um freio à competitividade", disse Gilles Pernoud, presidente do Groupe Pernoud, cuja empresa faz moldes de injeção de plástico para a BMW e outras montadoras. Ele disse que teve de recusar contratos de quase um milhão de euros nos dois anos mais recentes porque não encontrou trabalhadores qualificados.
“Precisamos de funcionários mais familiarizados com a tecnologia", disse Pernoud, apontando para o maquinário robótico do seu piso e fábrica, programado por um funcionário para produzir um molde de aço de alta precisão. “Mas não há um número suficiente de pessoas para preencher essas vagas.”
Há um porém. A França, como muitos países da Europa, enfrenta um problema trabalhista. Apesar do desemprego superior a 8% - um dos mais altos da Europa, perdendo para Itália, Espanha e Grécia -, há mais de 250 mil vagas de trabalho em aberto. É difícil encontrar pessoas para trabalhar como encanadores, engenheiros, garçons e cozinheiros.
O desafio é particularmente agudo na manufatura, onde quase 40% da empresas carecem de mão de obra. Em Ain, há pelo menos 18 mil vagas de trabalho disponíveis. A França precisa encontrar uma solução rapidamente. Depois de se recuperar de uma recessão dupla durante a crise financeira, a economia do país volta a desacelerar, alcançado agora crescimento de 1,7% enquanto a recuperação perde força na Europa.
Os empregadores dizem que a manufatura tem um problema de imagem após anos de concorrência barata por parte da Ásia e do Leste Europeu, que levou ao fechamento de fábricas na França. A indústria, que já representou 25% da economia nos anos 1960, encolheu para 10% da atividade.
Para os sindicatos, o problema não está na escassez de mão de obra, e sim nos baixos salários pagos pelas empresas que se queixam da falta de trabalhadores. De acordo com os sindicatos, se as empresas oferecessem salários melhores, encontrariam os trabalhadores de que precisam.
Na Alemanha, grande potência manufatureira da Europa, a indústria é vista sob uma ótica positiva. Cerca de metade dos jovens entre 16 e 24 anos participam de programas de capacitação como aprendizes. Na França, os fabricantes dizem que o treinamento é menos intensivo e não consegue mais produzir trabalhadores capacitados com as habilidades desejadas. A situação é especialmente difícil para a indústria dos plásticos, disse Damien Petitjean, que trabalha em uma escola do ensino médio em Oyonnax, conforme aumentam as preocupações com o impacto ambiental de uma cultura do desperdício.
Algumas empresas reúnem seus recursos para criar programas de treinamento. Na LMT Belin, que produz ferramentas para as indústrias do plástico, automotiva e aeroespacial, o diretor executivo Bertrand Lefevre formou uma parceria com cinco outras empresas para oferecer experiência de trabalho aos desempregados. Em um dia recente, oito jovens treinavam a programação de equipamento robótico, mexendo em uma máquina que produzia brocas de perfuração de alto desempenho.
Mohamed El Hmidi, 23 anos, já trabalhou como ajudante de obras e fez outros bicos. Chegou à agência de desempregados de Oyonnax alguns meses atrás e ficou sabendo do treinamento da LMT Belin. Decidiu aproveitar a oportunidade. “Esse é o nosso futuro", disse El Hmidi. Ele já passou pelas outras quatro fábricas que somaram suas forças às da LMT Belin. “Aqui, somos expostos às novas tecnologias", disse ele. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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