Cada povo cultiva suas próprias jabuticabas. Os argentinos criaram um sistema de prévias partidárias simultâneas que, na teoria, até fazia sentido. Serviria para que as legendas definissem seus candidatos mais competitivos. Na prática, porém, como as principais siglas não lançam mais do que uma chapa, as primárias platinas viraram um jeito meio esquisito de fazer uma eleição pelo preço de duas.
O subproduto interessante desse sistema é que temos, em agosto, uma eleição muito semelhante à oficial (marcada para outubro), com voto obrigatório e tudo, que indica com precisão as tendências do eleitorado, permitindo fazer o bypass das pesquisas, que nunca foram muito boas naquele país.
O resultado das prévias do último domingo, que deram à chapa kirchnerista uma vantagem de 15 pontos percentuais sobre o presidente Mauricio Macri, surpreendeu quem confiava nas pesquisas, que apontavam a oposição apenas ligeiramente à frente, mas está em linha com o algoritmo mais básico usado pelo eleitor. E o que diz esse algoritmo? É simples: se a situação da economia está boa, mantenha o governante e seu partido; se está ruim, puna-os.
Isso significa que, sempre que houver uma mudança perceptível na economia, deve-se esperar um movimento correspondente na política. Macri assegurara que poria as coisas nos eixos na Argentina, mas não cumpriu a promessa e sofre agora as consequências.
Seria possível argumentar que o desastre econômico legado por Cristina Kirchner era tão grande que não daria mesmo para arrumar a casa em apenas quatro anos. Pode ser, mas o eleitor não liga muito para esse tipo de sutileza. O algoritmo costuma falar mais alto do que considerações racionais ou de justiça.
Fica o alerta para Bolsonaro. Não basta cativar os eleitores de raiz com declarações escatológicas, é preciso entregar resultados palpáveis na economia. Se eles não vierem, seu governo poderá até reabilitar o PT.
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